Medicamento inovador contra leishmaniose
Uma
das seis doenças infecto-parasitárias de maior importância no mundo, a
leishmaniose afeta 88 países, mas ainda é negligenciada pelas indústrias
farmacêuticas. O medicamento mais indicado causa efeitos colaterais
graves, o que dificulta a adesão ao tratamento. Diante disso, o
Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) desenvolve
um medicamento inovador contra a leishmaniose cutânea. Trata-se do
Sulfato de Paromomicina na apresentação de gel 10%, que vem sendo
estudado no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da unidade. A
previsão é de que em quatro anos o fármaco esteja disponível para o
paciente atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Gerente
do projeto em Farmanguinhos, a química industrial da Coordenação de
Desenvolvimento Tecnológico da unidade, Maristela Rezende, diz que o
tratamento atual disponível está longe de ser satisfatório. “Apesar de
ser considerado de primeira escolha em todo o mundo, o antimoniato de
N-metilglucamina, como todos os antimoniais pentavalentes, é pouco
absorvido pelo trato digestivo e a retenção da substância é responsável
por efeitos tóxicos. Em outras palavras, ele não é bem tolerado e produz
muitos efeitos colaterais, impactando negativamente na adesão ao
tratamento”, observa.
Para
contornar esse problema, Farmanguinhos trabalha para oferecer uma
alternativa terapêutica. O estudo para o novo gel de Paromomicina vem
sendo realizado em parceria com o Centro de Pesquisa René Rachou
(CPqRR/Fiocruz Minas), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e
DNDi (sigla em inglês da Iniciativa para Doenças Negligenciadas) e com o
Programa de Desenvolvimento Tecnológico de Insumos para a Saúde
(PDTIS/Fiocruz).
A
leishmaniose tegumentar tem duas formas de apresentação clínica: cutânea
e mucosa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das
seis mais importantes patologias infecciosas, pelo seu alto coeficiente
de detecção e capacidade de produzir deformidades. Constitui um
problema de saúde pública em 88 países, distribuído em quatro
continentes (América, Europa, África e Ásia), com registro anual de 1
milhão a 1,5 milhão de casos.
No
Brasil, a leishmaniose cutânea é uma das afecções dermatológicas que
merece mais atenção, com ampla distribuição em todas as regiões. Dados
do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) mostram que
em 2009 foram registrados 21.824 casos deste tipo da doença em todo o
país. Uma das preocupações é com o risco de surgimento posterior da
forma mucosa, que pode ser desfigurante. Além disso, existe o impacto
psicológico, que produz reflexos no campo social e econômico, uma vez
que, na maioria dos casos, pode ser considerada uma doença ocupacional.
Nesse
sentido, em janeiro último, foi criado o grupo que acompanhará todo o
processo de desenvolvimento do gel anti- leishmaniose de Farmanguinhos
até a produção em escala industrial. O grupo é formado por Wim Degrave e
Cássia Pereira (PDTIS), Ana Rabello (CPqRR), Fabiana P. Alves (DNDi)
além de Tereza Santos, Maristela Rezende, André Daher e Lilian Petroni
(Farmanguinhos). A gerente do projeto explica que o objetivo é abastecer
o Ministério da Saúde com uma nova especialidade farmacêutica,
promovendo o acesso da população brasileira a novas alternativas
terapêuticas. “Com as diferentes expertises trabalhando em conjunto, o
medicamento tão especial para a saúde pública será entregue ao
Ministério da Saúde no prazo previsto, ou seja, em quatro anos”, frisa
Maristela Rezende.
A
leishmaniose é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero
Leishmania, que acomete pele e mucosas. Ela vem ocorrendo de forma
endêmico-epidêmica apresentando diferentes padrões de transmissão
relacionados não somente ao avanço do homem em áreas silvestres, em
virtude da expansão agrícola. A doença ocorre em áreas de colonização
antiga, nas quais se discute a possibilidade de adaptação dos vetores e
parasitas a ambientes modificados e reservatórios.
Seg, 25 de Fevereiro de 2013 14:02
Alexandre Matos
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