Psiquiatria
Nova pesquisa concluiu que 30% das crianças com déficit de atenção continuam apresentando o problema ao se tornarem adultas — e ainda têm um risco maior de sofrer outros transtornos psiquiátricos
Vivian Carrer Elias
TDAH: Conclusão de estudo sobre o problema afirma que a condição pode se tornar um problema de saúde crônico
(Thinkstock Images)
CONHEÇA A PESQUISAO trabalho, publicado nesta segunda-feira na revista médica Pediatrics, foi desenvolvido no Hospital Infantil de Boston, filiado à Universidade Harvard, em parceria com a Clínica Mayo, ambos nos Estados Unidos. Segundo os autores, trata-se do primeiro estudo em grande escala que olhou para os impactos do TDAH na infância e na vida adulta. A pesquisa analisou os dados de todas as crianças nascidas entre 1977 e 1982 na cidade americana de Rochester, em Minnesota – que, ao todo, foram 5.718 —, e acompanhou essas pessoas até elas terem, em média, 27 anos de idade.
Título original: Mortality, ADHD, and Psychosocial Adversity in Adults With Childhood ADHD: A Prospective Study
Onde foi divulgada: periódico Pediatrics
Quem fez: William Barbaresi, Robert Colligan, Amy Weaver, Robert Voigt, Jill Killian e Slavica Katusic
Instituição: Hospital Infantil de Boston, da Universidade Harvard, e Clínica Mayo, EUA
Dados de amostragem: 5.718 crianças nascidas em Minnesota entre 1977 e 1982
Resultado: Cerca de 30% das crianças com TDAH chegam na idade adulta ainda com o problema. Entre elas, 81% apresentam outro transtorno psiquiátrico durante a vida.
A partir de informações da vida acadêmica e do histórico médico das crianças, os pesquisadores concluíram que, dos 5.718 jovens selecionados para o estudo, 367 tinham TDAH, sendo que 232 participaram de todas as fases da pesquisa. Dessas, 75% receberam tratamento para o transtorno.
Graves danos — Segundo os resultados da pesquisa,
29,3% das pessoas diagnosticadas com TDAH na infância continuaram com o
problema ao se tornarem adultas. Delas, 81% apresentaram outro
transtorno psiquiátrico até os 27 anos – essa prevalência foi de 47%
entre os indivíduos que deixaram de apresentar TDAH quando adultos e de
35% entre um grupo de controle, composto por pessoas que não tiveram
TDAH na infância. Entre os distúrbios mais prevalentes estavam abuso e
dependência de substâncias tóxicas, transtorno de personalidade
antissocial (psicopatia), ansiedade e depressão.
A nova pesquisa ainda revelou que, em uma escala menor, o TDAH na
infância também pode aumentar o risco de morte prematura: 1,9% dos
participantes (sete em 232 pessoas) com o transtorno morreu antes dos 27
anos, sendo que três deles cometeram suicídio. Essa incidência foi de
0,7% entre os indivíduos que não foram diagnosticados com TDAH quando
crianças.
"O nosso estudo mostra que o TDAH é, sim, um problema sério de saúde e
que tem impactos importantes em todas as áreas da vida da criança e dos
adultos. Esse transtorno não é somente um comportamento irritante das
crianças, e eu acho que o TDAH é frequentemente encarado dessa forma",
disse ao site de VEJA William Barbaresi, chefe da Divisão de Medicina do
Desenvolvimento do Hospital Infantil de Boston e coordenador da
pesquisa.
"É preciso pensar no TDAH como um problema crônico"
William Barbaresi
Pediatra, chefe da Divisão de Medicina do Desenvolvimento do Hospital Infantil de Boston, da Universidade Harvard, e coordenador da pesquisa
Pediatra, chefe da Divisão de Medicina do Desenvolvimento do Hospital Infantil de Boston, da Universidade Harvard, e coordenador da pesquisa
Seu estudo conclui que o TDAH infantil é um problema de saúde crônico. O que isso quer dizer?
O que nós mostramos em nosso estudo é que o impacto de ter TDAH na
infância claramente continua na vida adulta na maioria dos casos. Nós
descobrimos que apenas um pouco mais que um terço das crianças com TDAH
chegam na vida adulta sem ter ao menos um desses efeitos. E isso é muito
preocupante. O nosso estudo mostra que o TDAH é, sim, um problema sério
de saúde e que tem impactos importantes em todas as áreas da vida da
criança e dos adultos. Esse transtorno não é somente um comportamento
irritante das crianças, e eu acho que o TDAH é frequentemente encarado
dessa forma.
Pacientes com TDAH estão sendo tratados de maneira errada?
Nós temos muita informação sobre como diagnosticar apropriadamente o
TDAH, como identificar os problemas associados ao transtorno e até as
melhores formas de tratar a condição. Acredito que o problema do TDAH
seja o fato de as crianças não estarem recebendo esses serviços e
tratamentos de forma suficientemente consistente. E isso faz com que as
consequências do transtorno sejam piores do que deveriam.
Por que o senhor acha que isso acontece?
É muito comum que as crianças abandonem o tratamento de TDAH quando os
sintomas do problema diminuem. Isso é algo comum entre todas as
condições crônicas, como o diabetes, por exemplo. As pessoas chegam em
uma fase da vida em que não querem mais ser diferentes, não querem
precisar fazer coisas que os outros indivíduos não fazem. Por isso, os
pacientes tendem a abandonar os tratamentos. Porém, para algumas das
doenças crônicas, como o diabetes, há diversas estratégias para
conscientizar a população de que seguir com o tratamento é importante.
Mas para TDAH ainda não há essa orientação. É preciso pensar nessa
condição como um problema crônico e implementar estratégias que
mantenham as crianças em tratamento, especialmente em fases em que os
efeitos adversos do transtorno são mais preocupantes.
A que o senhor atribui o aumento do número de crianças diagnosticadas com TDAH no mundo?
O que acontece é que a conscientização sobra condição está aumentando e, com isso, também aumentam as taxas de TDAH. Na minha opinião, é algo muito bom. A
verdade é que esse problema tem um iLeia também:EUA: novos casos de TDAH cresceram 24% em dez anos
TDAH na infância também causa problemas na idade adulta
Vídeo: 16 perguntas para entender o TDAH
Déficit de atenção: 8 sinais aos quais os pais devem ficar atentosmpacto muito grande na vida das pessoas. Para se ter ideia do tamanho do impacto, é só aplicar os nossos achados para a quantidade de crianças que vêm sendo diagnosticadas com TDAH.
Essa é uma pergunta ainda sem resposta. Não sabemos se isso é uma
consequência dos sintomas do TDAH em si, da forma como afeta a criança e
o seu crescimento, ou então se é algo relacionado ao fator biológico.
Se fosse isso, a função cerebral que determina que uma pessoa tenha TDAH
poderia ser a mesma que provoca outra desordem. Mas ainda não sabemos o
que explica essa associação.
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