Luís Guilherme Barrucho
Da BBC Brasil em São Paulo
Atualizado em 19 de setembro, 2014 - 21:38 (Brasília) 00:38 GMT
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) admitiu nesta sexta-feira ter cometido erros nos cálculos da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2013, divulgada na quinta-feira (18). O equívoco gerou distorções de alguns dados, como a concentração de renda. Ao contrário de subir, como havia sido informado anteriormente, a desigualdade social no Brasil recuou entre 2012 e o ano passado.
Os dados anteriores apontavam uma ligeira alta do índice de Gini ─ que mede a concentração de renda ─ no período. Ou seja, um aumento da desigualdade social no país.
De acordo com o novo levantamento apresentado pelo IBGE, o Gini do trabalho, que mede exclusivamente a distribuição dos rendimentos do trabalho, caiu de 0,496 para 0,495 (o que para o instituto significa estagnação) – antes, a Pnad registrava alta para 0,498.O índice de Gini vai de zero a um. Quando mais próximo de zero, melhor distribuída é a renda.
Já o Gini que considera todas as rendas recuou de 0,504 para 0,501 (anteriormente o índice apontava um aumento para 0,505).
O avanço ainda que sutil da desigualdade, como revelavam os dados anteriores, foi objeto de cobertura extensiva da imprensa brasileira, inclusive da BBC Brasil, uma vez que a concentração de renda no país vinha caindo gradativamente desde 2001. Caso os dados originais estivessem corretos, 2013 teria sido, assim, o primeiro ano em que a trajetória de queda da desigualdade no país teria sido interrompida.
Erros
Segundo o IBGE, os erros ocorreram em sete Estados: Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
"No processo de expansão da amostra da Pnad 2013, foi utilizada, equivocadamente, a projeção de população referente a todas as áreas metropolitanas em vez da projeção de população da Região Metropolitana na qual está inserida a capital", informou o órgão por meio de um comunicado.
Por se tratar de uma pesquisa por amostragem, a Pnad usa, para determinados tipos de cálculo, a população da principal região metropolitana dos Estados. Nos sete Estados onde houve erro, entretanto, o IBGE admitiu ter usado informações de mais de uma região metropolitana.
Em entrevista a jornalistas, a presidente do IBGE, Wasmália Bittar, pediu desculpas pelos erros.
"A pesquisa continha erros extremamente graves. Cabe pedir desculpas a toda a sociedade brasileira", afirmou Bittar.
Já o diretor de Pesquisas do órgão, Roberto Olinto, descartou qualquer interferência política na revisão dos dados.
"Não há o menor indício de pressão. Nós encaramos o fato como um acidente estritamente técnico e que será investigado. O processo do trabalho será investigado. O IBGE está extremamente abalado por isso", afirmou.
Olindo também afirmou que a recente greve dos funcionários do órgão não teve impacto no erro.
Dados revistos
O IBGE também alterou outros dados da pesquisa. O rendimento mensal do trabalho, por exemplo, foi reduzido de R$ 1.681 para R$ 1.651 (alta de 3,8% em relação a 2012, contra avanço inicial de 5,7%).
A taxa de analfabetismo também foi corrigida e subiu de 8,3% para 8,5%. A pesquisa inicial mostrava que teria havido queda de 0,5 pontos porcentuais entre 2012 e 2013, de 8,7% para 8,3%.
Já taxa de desemprego não sofreu alteração e ficou em 6,5% no ano passado.
A taxa de desocupação também foi mantida, em 6,5%. Mas, diferentemente dos dados originais, o aumento da população desocupada foi menor: 6,3% contra os 7,2% divulgados anteriormente.
Em choque
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou que o governo ficou "chocado" com os erros e acrescentou que criará duas comissões para investigar o que aconteceu. A primeira será formada por especialistas independentes para averiguar a consistência da Pnad. Já a segunda "vai apurar as razões dos erros e as responsabilidades funcionais".
"Lamento que isso tenha acontecido. Houve falta de cuidado num procedimento básico de checagem e rechecagem para quem faz trabalhos de estatística", afirmou Belchior.
Belchior falou ainda do uso eleitoral da situação.
"Em momentos eleitorais, qualquer coisa é usada politicamente".
A ministra do Planejamento também rebateu críticas de que os erros poderiam ter sido causados por um ajuste fiscal ou redução do quadro de funcionários do órgão.
"[O erro] é muito básico. Não tem a ver com o ajuste fiscal", disse.
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