Júlia Dias Carneiro
Da BBC Brasil no Rio de Janeiro
Atualizado em 18 de setembro, 2014 - 17:13 (Brasília) 20:13 GMT
Anos de queda constante,dos índices de desigualdade no Brasil
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013, o chamado Índice Gini, que varia de 0 a 1, passou de 0,496 em 2012 para a 0,498 em 2013, o primeiro aumento desde pelo menos 2001. O Gini é usado no mundo todo para medir a desigualdade e aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos.
"Vínhamos observando quedas importantes ano a ano,
Avanços
Divulgada nesta quinta-feira, a pesquisa anual do IBGE indica avanços em diversas áreas, como escolaridade e infraestrutura nos domicílios (ver quadro abaixo), e mostra que a renda média continua subindo no país.
De 2012 para 2013, este rendimento teve aumento real de 5,7%, passando para R$ 1.681 por trabalhador.
A renda média aumentou mais no topo da pirâmide (6,4%) do que na base (3,5%),.
O contingente de 1% dos brasileiros mais ricos ganham quase cem vezes mais que os 10% mais pobres.
A renda média é de R$ 235 por mês entre os 8,6 milhões de trabalhadores mais pobres, contra R$ 20.312 entre os 864 mil no topo da pirâmide.
"Os programas sociais já tiveram esse efeito de reduzir a pobreza e geraram ganho significativo nos últimos anos".
Desigualdade
Os índices de desigualdade no Brasil cresceram de forma contínua a partir dos anos 1960, com uma piora expressiva durante o período da ditadura militar.
A economista Sônia Rocha, pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (IETS), explica que o agravamento da desigualdade ocorreu sob conjunturas bastante diferentes, tanto durante os anos de forte crescimento do "milagre econômico", na década de 70, quanto nos anos 1980, um período de inflação alta e baixo crescimento.
A tendência de queda sustentada começa em meados dos anos 1990, lembra a economista, e foi consistente em fases macroeconômicas distintas, mas durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.a queda foi mais acentuada
"Na primeira fase, quando o rendimento caía, os pobres perdiam menos, ou não perdiam, se ganhassem algo em torno de um salário mínimo. Na segunda, quando todos os rendimentos aumentaram, a renda daqueles na base de distribuição subiu muito mais que a do extremo superior”, diz Rocha, especialista em estudos sobre a evolução da pobreza.
"A desigualdade educacional – antes mais relacionada aos anos de estudo, mas que agora está cada vez mais à qualidade da educação – está na raiz da desigualdade de renda."
Governo comenta a pesquisa
O economista Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), afirmou que os dados deste ano da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) indicam que essa queda continua mês a mês.
“A parada na queda da desigualdade não veio para ficar. A PME tipicamente antecipa os dados da PNAD, e temos indicadores de 2014 que apontam para a continuidade da redução da desigualdade”, afirmou.
Neri disse que a expansão do Brasil Sem Miséria (programa do governo para combater a extrema pobreza), o aumento da escolaridade e a redução do analfabetismo contribuiriam para continuar reduzindo a desigualdade nos próximos anos, e que é difícil uma série em queda há 11 anos não ter flutuações.
Ao ser questionado por que, em 2013, a renda entre os ricos tinha crescido mais que a renda entre os pobres, Neri disse que 2012 foi o ano em que a renda dos 5% mais pobres mais cresceu (20,1%). “Foi um ano excepcional, e você não colhe vários anos excepcionais.”
Ele destacou o aumento de renda no país como um todo como “a melhor notícia” da PNAD e afirmou que pesquisa indica uma melhora qualitativa no mercado de trabalho, com mais trabalhadores com carteira assinada, portanto, maior acesso à proteção social e trabalhista.
A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, lembrou que o Banco Mundial usa outros critérios além da renda para medir a desigualdade e argumentou que esses indicadores devem ser considerados.
“Não podemos nos prender a um debate exclusivo sobre a renda”, afirmou. “Se olharmos para a desigualdade como o acesso a um conjunto de bens e direitos, e não só de renda, ela está caindo. O acesso à escolaridade, à agua, à energia elétrica e à saúde tem melhorado de forma expressiva.”
Para a ministra, melhorias em saúde, educação e outros investimentos que vêm sendo feitos futuro “vão garantir que o Brasil continue nessa trajetória de redução de desigualdade”.
Confira outros destaques da PNAD 2013:
ANALFABETISMO: atinge ainda 13 milhões de pessoas a partir de 15 anos no país, ou 8,3%. Esta taxa era de 11,5% em 2004 e vem caindo ano a ano. Porém, a taxa de analfabetismo funcional (pessoas com menos de quatro anos de estudo) ainda é de 17,8%;
CRIANÇAS NA ESCOLA: 98,4% das crianças em idades compatível com o ensino fundamental (6 a 14 anos) estão na escola, e, entre crianças de 4 a 5 anos, este índice aumentou 3,1%, alcançando 81,2%. Porém, quando se olha para a população acima de 25 anos, 43,4% não completaram o ensino fundamental, ante 45,4% em 2012;
TRABALHO INFANTIL: ainda atinge meio milhão de crianças com idades entre 5 a 13 anos. A maior parte trabalha na atividade agrícola (63,8%), ganhando em média R$ 178 por mês. Porém, grande parte não é remunerada;
INSTRUÇÃO: um quarto dos trabalhadores brasileiros (25,7%) não têm ensino fundamental completo, e 7% não têm qualquer instrução;
DESEMPREGO: em 2013, aumentou pela primeira vez desde 2009, passando a 6,5% (ante 6,1% em 2012);
TRABALHO FORMAL: o número de pessoas com carteira de trabalho assinada cresceu 3,6% no setor privado, passando a 36,8 milhões de pessoas (ou 76% do total);
RENDA POR GÊNERO: o rendimento dos homens ainda é bem superior ao das mulheres – cada gênero ganha, em média, R$ 1.890 e R$ 1.392 respectivamente. Ou seja, o salário feminino corresponde a 73,7% do masculino;
RESIDÊNCIAS: Metade das casas brasileiras já têm computador (49,5% ante 46,4% em 2012). Mais domicílios também têm acesso a internet (43,1% ante 40,3%) e máquinas de lavar (58,3% ante 55,2%). Porém, o número de aparelhos de rádio está caindo (de 80,9% para 75,8%), assim como o de DVDs (76% para 72,4%).
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