O ex-presidente é bem pior do que Aécio Neves no seu desvario antidemocrático
por Mauricio Dias
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Aécio Neves voltou à cena com o espírito de
quem perdeu o governo, mas ganhou a eleição. Esse é um mote que alenta o
sofrimento dos derrotados. No entanto, tentou salvar as aparências ao
repudiar formalmente a truculência de setores da oposição manifestada
nas redes sociais e em pequenos agrupamentos de rua. “Essas
manifestações têm o nosso repúdio mais radical e veemente”, afirmou.
O lema dos estandartes exibidos, “Fora o PT, “SOS Forças
Armadas”, entre outros, e o tom rancoroso dos discursos oposicionistas
recusando o diálogo, proposto nas palavras iniciais de Dilma Rousseff
após reeleita, não brotaram do nada.
A emoção dos eleitores foi
fustigada. Isso incitou o velho ódio antipetista, despertado com mais
força ao longo da campanha eleitoral de 2014. Ao contrário do que
apregoa Aécio Neves. Ele tentou, por exemplo, tapar o sol com a peneira.
Para o candidato derrotado na disputa pela Presidência, estaria havendo
apenas “apropriação indevida de um sentimento livre da sociedade”.
As manifestações, no entanto, não surgiram de combustão
espontânea. O tucano pede “respeito à democracia”, mas joga com um plano
B para alterar a continuidade democrática. A oposição tucana conta,
mais uma vez, com o tema corrupção. O foco é na Petrobras. “Não vamos
deixar esse assunto arrefecer”, promete o tucano.
Em longa apresentação no Senado, em cerimônia articulada,
com uma autoridade provocativa, condiciona o diálogo à investigação. A
par disso, conta com uma nova CPI para investigar os políticos citados
na delação premiada. Quase todos da base do governo.
O candidato derrotado não é o único a
agir assim. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem papel até mais
ativo nesse processo. Com pesar, porém sem surpresa, FHC mais uma vez
lançou a palavra de ordem dos tucanos para o combate ao governo Dilma
Rousseff.
Escreveu FHC: “Depois de uma
campanha de infâmias, fica difícil crer que o diálogo proposto não seja
manipulação”. Para ele, o PT errou ao colar em Aécio Neves o rótulo de
“candidato dos ricos”. E não foi? As pesquisas de opinião sustentaram
isso. Falta ao ex-presidente, neste momento, serenidade e
comprometimento com a democracia que tanto prega verbalmente.
Ele ultrapassa os limites antes do
comportamento político democrático do que da própria razão quando
pretende a vitória de Dilma amparada “em pouco acima da metade dos
votos” .
Insinua que a vitória de Dilma não foi
convincente, embora 3,5 milhões de votos não deixem de ser expressivos. A
presidenta seria reeleita mesmo que tivesse apenas 1 voto a mais.
FHC traz à memória a artimanha da UDN ao seguir os passos
de Afonso Arinos de Melo Franco, que, em 1955, contestou a vitória de
Juscelino Kubitschek, com o argumento, não previsto em lei, de que o
vitorioso não alcançara a maioria. Perdeu.
Em 2005, após o estouro do chamado mensalão, Fernando
Henrique lançou a proposta de que Lula não deveria mais disputar a
reeleição. Outras vozes seguiram esse caminho. Sem sucesso. Em 2006,
Lula disputou e ganhou do tucano Geraldo Alckmin. Na eleição seguinte,
em 2010, o PT elegeu Dilma.
Entre os tucanos o papel de cada um está claro. Aécio
espreita o caso Petrobras. FHC tenta debilitar a vitória de Dilma.
Apesar disso, a razão, agora sim, diz que não passarão.
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