Na dupla tristeza, nem há muito a falar. O silêncio e a reflexão sobre a obra dos dois podem falar por nós. A partida de Leandro Konder representa uma grande perda para a esquerda, para a universidade, para o Brasil, para os socialistas e para todos que sonham com mundo igualitário e solidário. Se é que há são muito poucos os que não leram sua obra, não encamparam e partilham até hoje de suas ideias de justiça e igualdade.
Ele deixa seu exemplo e sua obra, seus alunos e amigos, seus seguidores… Todos os que tiveram a maravilhosa oportunidade de conviver com Leandro sabem exatamente que ele era um daqueles seres humanos que iluminava e alegrava nossas vidas. E que com suas ideias e paixão pela defesa delas terminava sendo o norte que indica a busca do sonho e a tentativa de transformá-lo em realidade.
O Poeta do Pantanal
O poeta mato-grossense Manoel de Barros, morto nesta manhã aos 97 anos, era símbolo de outra forma de sonho – o que vem na poesia e que não deixa de espelhar a realidade, também, e um roteiro para a vida, a fantasia e as conquistas individuais. Nascido em 1916 em Cuiabá (MT), Manoel de Barros escreveu 18 livros de poesia, além de obras infantis e relatos autobiográficos. Recebeu diversos prêmios literários, entre os quais dois Jabutis – em 1989, com “O Guardador de Águas”, e em 2002, com “O Fazedor do Amanhecer”.
Era, por essência, e como se definia, o Poeta do Pantanal, onde tem fazendas e onde morou por décadas, antes de transferir residência para Campo Grande. Nos últimos anos, Manoel viveu tragédias pessoais: seus dois filhos, João Wenceslau e Pedro, morreram em 2007 e 2013, respectivamente, este último em acidente de avião.
Nos últimos anos, seguiu uma rotina: acordava cedo, tomava café da manhã e ia para o escritório escrever ou ler. À tarde costumava dedicar o tempo à família. Irmãos, sobrinhos, netos e bisnetos costumavam visitá-lo quase todos os dias. Deixou 30 cadernos manuscritos de poesias inéditas. Apesar de se confessar com a “mania” de escrever “coisas desimportantes”… Em uma de suas poesias, que terminou dando título a um filme, disse: “Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”.
Sem dúvida vão fazer falta ao país a “invenção” e a “mentira” de Manoel de Barros e a precisão e objetividade das análises realistas e influenciadoras de Leandro Konder.
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