Frei Betto
Cada vez mais, as pessoas deixam de pensar por sua própria cabeça
O filósofo alemão Emmanuel Kant, num de seus brilhantes textos – “O que é o Iluminismo?” – sublinha um fenômeno que na cultura televisual que hoje impera é cada vez mais generalizado: as pessoas deixam de pensar por si mesmas.
Preferem se colocar sob proteção dos “oráculos da verdade”: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.
Esses os guardiões da verdade que velam para não nos permitir incorrer em “equívocos”.
Graças a seus alertas sabemos que as mortes nas prisões de Bagdá e Guantánamo são acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de uma greve de fome.
São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, tem a bomba atômica.
São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária.
Enquanto o latifúndio invade a Amazônia, desmata a floresta e usa mão de obra escrava. É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, “gado doméstico”, de modo que todos aceitem permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinho.Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de tornar homogêneo seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo através de uma propaganda que imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, maior o lucro.
O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.
O Dia
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