Vencimento de patentes (VIAGRA, DIOVAN, LIPITOR, ETC) agitará o mercado de genéricos
Medida pode gerar cerca de R$ 800 milhões de investimentos entre 2010 e 2011.
Os medicamentos genéricos e similares com marca só podem existir se houver inovação, diz executivo
O vencimento de várias patentes de medicamentos de marca impulsionará o setor de remédios genéricos no Brasil.
A medida, apesar de afetar os laboratórios multinacionais e a indústria farmacêutica como um todo, pode gerar cerca de R$ 800 milhões de investimentos entre 2010 e 2011. Segundo pesquisa publicada pela Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos) em 2009, nos próximos anos, cerca de 17 patentes de remédios perderão a proteção no Brasil. Calcula-se que esses produtos faturem cerca de R$ 750 milhões.
Algumas empresas conseguiram postergar os pedidos de patentes dos produtos. É o caso dos medicamentos Lipitor e Viagra, do laboratório Pfizer. O primeiro é utilizado no controle dos níveis de colesterol, sendo um dos mais vendidos no mundo, movimentando mais de US$ 12 bilhões em vendas em todo o mercado mundial. A empresa perderá o direito de exclusividade sobre o medicamento em dezembro deste ano. Já o fim da patente do Viagra - a famosa pílula azul, utilizada no combate à impotência sexual - é aguardada para 2011.
Outro medicamento considerado campeão de vendas ("blockbuster") é o Diovan, da empresa suíça Novartis. Destinado ao controle da hipertensão, a patente do medicamento se encerra em junho. As indústrias detentoras das patentes não encontraram ou apresentaram qualquer produto que possa ser considerado um avanço em relação aos que já estão no mercado.
De acordo com Serafim Branco, gerente-executivo da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), o setor industrial farmacêutico mundial tem um dos pilares sustentados pela inovação, e a sobrevivência diretamente ligada a novas tecnologias, além dos medicamentos que giram a economia das empresas. "Enquanto um medicamento inovador perde a sua patente e cai em domínio publico para ser comercializado como medicamento similar de marca ou genérico, outros estão em reta final de desenvolvimento e serão patenteados. Os medicamentos genéricos e similares com marca só podem existir se houver inovação".
Ele explica ainda que com a queda de patentes e investimento dos laboratórios nacionais, os benefícios são gerados diretamente ao consumidor final. "Com esta medida, quem mais ganha é o consumidor destes produtos, que terá a sua disposição um rol maior de ofertas, assim como uma redução de preços provocada pela concorrência mercadológica, pois o preço do medicamento genérico passa a representar 65% do medicamento original patenteado".
"Alguns produtos importantes terão patentes expiradas em 2010. A importância que essa medida tem para a indústria de medicamentos genéricos é que possibilita a entrada de outros no mercado. A população brasileira terá acesso a produtos com preços mais baixos, pois quando o genérico chega ao mercado o preço cai por lei 35% e na média cai 50% em relação ao medicamento de referência. Agora, mais consumidores poderão adquirir medicamentos genéricos", ressalta Odnir Finotti, presidente da Pró Genéricos.
Mercado mundial
Os mercados mais maduros, como o europeu e o norte-americano, já começam a sentir os efeitos da perda do direito exclusivo sobre as patentes de medicamentos. Serafim Branco explica que o reflexo da globalização e da situação semelhante poderá ser sentida em todos os países, em maior ou menor escala. "Devido a grande necessidade mundial de inovações tecnológicas, todos os lançamentos de novos produtos são efetuados globalmente e quando a patente expira em um país, anos seguintes ocorrerão em outros. O grande problema enfrentado pelo setor industrial farmacêutico é que a reposição e aprovação de novas moléculas é menor do que a perda de patentes".
Para Finotti, as empresas farmacêuticas continuam investindo em pesquisa. É importante que a indústria inove cada vez mais na área farmacêutica. "O que acontece é que os investimentos estão sendo feito em setores que hoje ainda não são do conhecimento popular. São aqueles medicamentos inteligentes feitos a partir de células, clones e deverão estar à disposição da população na próxima década".
O presidente da Pró Genéricos não prevê colapso ou estagnação do mercado de medicamento mais maduro, e sim um ajuste que obrigará as empresas a repensar planos e estratégias. "Grandes empresas que só tinham conhecimento em áreas de inovação decidiram adquirir empresas na área de produtos genéricos. Naturalmente, as instituições podem praticar e ter suas estratégias nos dois mercados, quando tem a posse da patente e depois quando o prazo expira. Essas empresas continuarão a explorar os seus negócios".
Brasil
No Brasil, onde a venda total de medicamentos somente em 2009 registrou R$ 30,2 bilhões e os genéricos foram responsáveis por R$ 4,5 bilhões, a queda das patentes dos "blockbuster" é bastante aguardada pelos fabricantes de remédios intercambiáveis. De acordo com a Pró Genéricos, as projeções de crescimento para 2010 são bastante expressivas. A associação prevê o desenvolvimento do setor entre 15% e 20%, situando o mercado de medicamentos genéricos em um patamar dos que mais vão ascender durante o ano. De cada 100 unidades vendidas no País, cerca de 20 são de medicamentos genéricos. "Hoje, a maioria dos produtos genéricos que temos no mercado são importantes. Assim que demos início à cultura de genéricos no Brasil, esses produtos já não tinham proteção de patente. Agora, a partir desse ano, as patentes de produtos muito importantes começam a vencer e o faturamento desses também é muito importante. Esses produtos têm o preço elevado para a população e assim que a patente cair vamos produzir genéricos. Isto significa que para o mercado genérico será essencial a chegada desses produtos", explica Odnir Finotti.
"Com a expiração das patentes de medicamentos o consumidor final passa a ter a oferta de produtos que além da comprovar a sua qualidade, a eficiência e eficácia do medicamento patenteado, é uma opção de economia em seu orçamento e isto tem sido comprovado através dos indicadores financeiros que demonstram um crescimento em 2009 de 15% nas vendas de medicamentos genéricos contra o crescimento de 8,7% do mercado total", comenta Serafim Branco.
Aquisição de laboratórios nos países emergentes
Devido às perdas financeiras sofridas com a perda de patentes de medicamentos "blockbuster", as grandes instituições farmacêuticas multinacionais já lançam estratégias para adquirir empresas de medicamentos nos países do BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China. De acordo com as estimativas da consultoria IMS Health, essas nações irão "puxar" a venda de medicamentos, principalmente a comercialização de remédios genéricos.
Especialistas do Governo almejam fortalecer o setor farmacêutico nacional, criando assim uma política estruturada a fim de evitar a desnacionalização das empresas, principalmente, dos produtos genéricos. Para o gerente-executivo da Alanac, o Brasil tem aproximadamente 300 empresas farmacêuticas de capital nacional e multinacional e a maioria atua na produção e comercialização de medicamentos de referência, similares de marca e genéricos. A aquisição das companhias nacionais não representa ameaça à instabilidade nacional, segundo Serafim Branco. "O maior interesse na aquisição e/ou fusão de empresas congêneres é a complementação de linhas de produção, sendo esta o foco principal destas empresas - nacionais e multinacionais -, ou seja, a atuação em diversas pontas do mercado".
Fonte: Revista Acesso
Nenhum comentário:
Postar um comentário