Os comportamentos de uma pessoa manifestamente dependente de sexo podem ser caracterizados pelos seguintes passos, formando um ciclo que se repete constantemente:
a) Preocupação antecipatória: o indivíduo apresenta pensamentos recorrentes sobre sexo, com sensação de ansiedade, excitação, “transe”;
b) “Ritualização”: o indivíduo estabelece rotinas especiais que o conduzem às atividades sexuais. Por exemplo, tranca a porta do escritório e pega materiais pornográficos em uma gaveta trancada deixada para tal; inventa uma história no trabalho ou em casa, pega o carro e dirigi-se a locais mais ou menos conhecidos para atividades sexuais;
c) Ato sexual propriamente dito ou também chamado “gratificação”;
d) Sensação de vazio, impotência ou desespero: o indivíduo comumente sente que mais uma vez não conseguiu controlar seu comportamento sexual. No entanto, esses sentimentos negativos no final do ciclo podem ser obscurecidos em alguns indivíduos, porque o início do ciclo recomeça muito rapidamente.

A busca por excitação entre pessoas com quadros de dependência de sexo é bastante similar à de outras síndromes de dependência por substâncias. O indivíduo demonstra perda do controle sobre o comportamento, sensação de ansiedade e irritação quando não desempenha o comportamento, progressivo aumento da “ritualização”, diminuição do repertório de outras atividades prazerosas, prejuízos pessoais, familiares, sociais e no trabalho em decorrência disso.
Tendo em vista a semelhança comportamental entre esses indivíduos e aqueles dependentes de drogas, foram criados critérios para o diagnóstico da Dependência de Sexo, baseados nos critérios utilizados para o diagnóstico da Síndrome de Dependência de Substâncias (Goodman, 1990).
São eles:
Padrão de comportamento recorrente, ocasionando desconforto ou comprometimento clínico significativo, que se manifesta por três (ou mais) das seguintes características, persistentes por um período de 12 meses:
1. Envolvimento frequente em atividades sexuais por mais vezes ou durante tempo maior que o pretendido inicialmente;
2. Tentativas mal-sucedidas de redução ou controle desse comportamento sexual;
3. Gasto excessivo de tempo em atividades relacionadas a esse comportamento sexual;
4. Desistência de outras atividades sociais, ocupacionais ou recreativas em decorrência desse comportamento sexual;
5. Continuidade da atividade sexual apesar de frequentemente apresentar problemas sociais, financeiros, psicológicos ou físicos causados por esse comportamento;
6. Necessidade progressiva de aumentar a frequência ou a intensidade dessa atividade sexual para obtenção dos mesmos níveis de prazer;
7. Inquietação ou irritação diante da impossibilidade de exercer essa atividade sexual.
Alguns autores têm classificado essa entidade clínica em dois tipos: a dependência de sexo caracteriza por comportamentos sexuais desviados (parafílica) e a dependência de sexo caracterizada por comportamentos sexuais não desviados (não parafílicas). Na parafílica, o portador pode apresentar comportamentos sexuais recorrentes e intensos envolvendo:
a) pessoas que não consentem ou não podem consentir (pedofilia);
b) objetos inanimados ou partes do corpo de uma pessoa (fetichismo);
c) humilhação do parceiro (sadismo sexual);
d) submissão em relação ao parceiro (masoquismo sexual);
e) recorrente exposição dos órgãos genitais em público (exibicionismo), dentre outras.
Quanto maior a intensidade do descontrole comportamental sexual em pessoas com fantasias sexuais desviadas, maiores serão as complicações legais e sociais decorrentes.
Dentre aqueles portadores de Impulso Sexual Excessivo sem pensamentos sexuais desviados, podemos reconhecer:
a) intenso e descontrolado consumo de pornografia e prostituição;
b) masturbação compulsiva;
c) internautas sexuais (cybersex addicts), dentre outros.
Em algumas situações, tanto as fantasias sexuais desviadas quanto as convencionais combinam-se em uma mesma pessoa.
Também, é importante considerar que pessoas que padecem de Dependência de Sexo comumente demonstram outros transtornos psiquiátricos comórbidos, como síndromes depressivas e ansiosas, dependência de álcool e outras drogas, transtornos da personalidade. É fundamental a avaliação médica e psicológica rigorosa objetivando o diagnóstico correto e a proposta terapêutica mais adequada possível e sempre baseada em evidência científica de efetividade.
Apesar das dificuldades para se desenvolver pesquisas epidemiológicas nessa área, aventa-se que cerca de 3 a 6% dos homens (nos Estados Unidos da América) sofrem desse quadro. Infelizmente, poucos procuram tratamento médico e psicológico especializados, por várias razões:
a) não sabem ou reconhecem que o comportamento pode ser produto de uma doença ou transtorno mental;
b) têm vergonha de revelar seus comportamentos sexuais para seu médico;
c) têm medo da exposição social ou familiar.
Na minha prática diária, a maioria das pessoas com quadros de comportamentos sexuais compulsivos procura o atendimento especializado quando elas são descobertas por membros familiares ou quando já apresentam problemas na Justiça ou no trabalho.
Existem várias formas de tratamento para pessoas que padecem desse transtorno: terapia cognitivo-comportamental, psicofarmacoterapia e grupos de mútua- ajuda.
O grupo de mútua-ajuda conhecido como DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos) tem sido de grande auxílio para muitas pessoas que padecem desse problema. Em algumas situações, o portador do comportamento sexualmente impulsivo não consegue controlar suas fantasias e práticas sexuais apenas com o tratamento psicoterapêutico e psicossocial, necessitando de abordagem farmacológica.
Existem medicações que ajudam o paciente a controlar o comportamento impulsivo. Atualmente, as mais prescritas são os antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina. De qualquer forma, a utilização das medicações deve sempre ser associada com o tratamento psicoterapêutico, tendo em vista a multiplicidade de fatores relacionados com o comportamento.
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