Padrão de moda é o tipo da coisa que a maioria de nós não sabe de onde vem, que benefício traz, porém, de uma maneira ou de outra, acaba seguindo - mesmo em manifestações simplórias, como o formato da gola de uma camisa. Mas é quando tais padrões saem dos acessórios em si e começam a exigir do material humano que se configura uma das mais cruéis formas de ditadura moderna: a da beleza.
Há pouco tempo atrás no Brasil, muitos expectadores nunca tinham ouvido falar em "anorexia nervosa" na grande mídia. Até que em 2006, uma modelo brasileira morreu em decorrência de complicações da doença que, grosso modo, é um distúrbio alimentar resultante da preocupação exagerada com o peso corporal. Passado o episódio, o Senado recebeu um projeto que visava impedir o emprego de modelos muito magras em peças publicitárias e desfiles de moda no país. Já aprovada, a matéria agora aguarda uma decisão terminativa.
Num mundo em que a magreza está diretamente vinculada aos padrões da moda - pouco importa a natureza corpórea do indivíduo - é fundamental discutir o assunto de forma legal, para que a anorexia não seja socialmente aceita. O projeto, de autoria do senador Gerson Camata (PMDB-ES), prevê, aos possíveis responsáveis pelo delito, multas que vão de R$ 1 mil a R$ 5 milhões - valor que pode ser pra lá de salgado para quem não costuma exagerar no tempero. A iminência da aprovação absoluta tem amedrontado modelos e o mercado fashion de uma maneira geral, mas essa, definitivamente, não é preocupação minha - uma démodé convicta.
Ao contrário da anorexia, a fome é velha conhecida do povo brasileiro. Aqui no Nordeste - aliada à seca e a outras condições degradantes - ela costuma causar danos irreparáveis, mesmo quando "combatida" através dos mais variados métodos paliativos: do sopão da esquina ao Bolsa Família. A mazela antiqüíssima mata, como não poderia deixar de ser, mas antes é capaz de impulsionar a marginalidade, o vício e, sobretudo, a descrença na vida. Como se pode perceber, a magreza nada estética de quem não tem o que comer já quebrou todas as espécies de leis ligadas à dignidade da pessoa humana. Mas essa multa, quem paga?
Isolda Herculano, 24 anos, é jornalista baiana radicada em Maceió. Ela tem dois blogs: www.malajornalistica.blogger.com.br e www.isolda.blogger.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário