9.28.2010

GOTA

Gota é caracterizada por ataques episódicos de artrites (inflamação das articulações) e causada por elevados níveis sanguíneos de ácido úrico, uma substância produzida em 90% por nosso organismo (o restante provém da dieta). É uma doença de caráter genético e hereditário, mais masculina do que feminina, que se manifesta na proporção de nove homens para uma mulher.
"Na maioria das vezes, o que define os níveis de ácido úrico no sangue das pessoas não é o que elas comem e sim a quantidade da substância que elas produzem", informa o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti, diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares (Iredo).
"Podemos ter excesso de ácido úrico quando produzimos muito ou quando excretamos pouco esta substância. "As principais causas para o aparecimento da doença são a herança genética e os defeitos metabólicos que culminam no acúmulo da substância no organismo".
Como ocorre
"O excesso de ácido úrico pode exceder a capacidade de solubilidade do sangue, formando os temidos cristais, que vão sendo depositados nos órgãos e nas articulações e que podem levar a um intenso processo inflamatório, com disfunção de órgãos importantes, como os rins, além de inchaço das juntas, conhecido como gota", explica o reumatologista.
Ele esclarece que, diferente da crença geral, o excesso de ácido úrico não causa descamação de mãos e pés, não aumenta com a ingestão de frutas cítricas e não causa escurecimento da pele no contato com metais de bijuterias.
Orientações nutricionais
Quando os sintomas se manifestam, um ponto essencial no tratamento dos pacientes com gota é seguir uma dieta alimentar equilibrada, que vise à redução do peso, em caso de obesidade, e o controle de fatores agravantes, como a hipertensão arterial e o diabetes. Deve-se também substituir ou suspender, quando possível, medicamentos que causam a elevação do ácido úrico, como os diuréticos.
Pacientes com gota devem evitar as restrições calóricas intensas, pois elas podem elevar agudamente o ácido úrico no sangue. Hidratar o corpo dilui a urina, aumenta o volume urinário e reduz a possibilidade de precipitação dos cristais de ácido úrico. Outra recomendação é abolir a ingestão de álcool. "São comuns crises de atrite aguda que se seguem ao consumo de bebida alcoólica".
Segundo ele, não se justifica a restrição de grãos, frutas cítricas e tomate, como muitos acreditam, "mas excessos na ingestão de carnes e de frutos do mar estão associados a um risco maior de surgimento de gota". A ingestão de proteínas do leite e de proteína vegetal - encontrada nas leguminosas como o feijão, lentilha, grão de bico e ervilha - tem sido considerada um fator protetor do organismo.
Problema antigo
Sergio Lanzotti conta que Hipócrates descreveu casos de gota séculos antes de Cristo. A partir da descrição detalhada dos sintomas articulares causados pela doença, a gota passou a ser conhecida como "a enfermidade dos patrícios" ou "a doença dos reis".
A intoxicação crônica pelo chumbo presente nos alimentos e no vinho talvez tenha sido a causa da epidemia de gota que se disseminou entre os habitantes da Roma antiga e da Inglaterra vitoriana, porque o excesso de chumbo interfere no mecanismo de excreção do ácido úrico pelos rins. Do século XVII ao século XIX, na Inglaterra, a gota constituiu-se numa verdadeira epidemia.
Diagnóstico e tratamento
"Geralmente, o paciente acorda no meio da noite com uma dor lancinante, muito frequente no dedão do pé, podendo ocorrer em outras articulações. A dor intensa também pode acometer o joelho. A área comprometida geralmente fica inchada e arroxeada devido ao processo inflamatório", conta o diretor do Iredo.
Pessoas idosas podem apresentar dores poliarticulares características de uma forma pouco usual de gota, que provoca dores em várias articulações e não apenas em uma delas. O diagnóstico do problema é feito através das complicações que ele causa aliadas a um exame de sangue, que revela os níveis de ácido úrico no organismo.
Após o aparecimento dos sintomas e da primeira crise de gota diagnosticada é fundamental que o paciente tome medicações específicas e siga um programa de dieta para alcançar a normalização dos níveis de ácido úrico no sangue.
Miriam Ribeiro

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