11.16.2010

Bronquite e cortisona

Crises agudas de asma, tosse crônica e falta de ar são alguns dos sintomas mais frequentes
Bronquite é uma das doenças respiratórias mais comuns no mundo. Estima-se que mais de 4% de toda a população sofra de algum tipo de inflamação dos brônquios e pulmões. Portanto, ao extrapolar os dados para o Brasil, acreditam os especialistas que mais de 7 milhões de brasileiros tenham sintomas e sinais compatíveis com bronquite.
De modo geral, as inflamações dos brônquios são divididas em dois tipos. A bronquite aguda é causada com frequência por infecção viral ou bacteriana, com duração relativamente curta (dias ou mesmo semanas). E a bronquite crônica, cuja duração pode ser de vários meses ou anos.
A forma prolongada, crônica, costuma associar-se a lesões contínuas, como o tabagismo, além de alterações pulmonares que caracterizam o que chamamos de doença pulmonar obstrutiva crônica, ou DPOC. O enfisema pulmonar faz parte desse quadro.
A bronquite afeta drasticamente os pacientes, desde crises agudas de asma a sintomas crônicos de tosse e falta de ar progressiva. Avanços na prevenção (como parar de fumar) e no tratamento das inflamações brônquicas tiveram impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes portadores dessas doenças, além de evitar complicações e mortalidade associadas.
Antibióticos e broncodilatadores – medicamentos que aumentam o diâmetro dos brônquios e revertem a sua obstrução – são parte fundamental desse processo. O emprego mais difundido de anti-inflamatórios do tipo corticoide (conhecidos como cortisona), contudo, foi crucial no manejo desses pacientes.
Segundo Ronaldo Kairalla, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, “as formas típicas de administração dos corticoides se modificaram, inicialmente por via venosa, para os comprimidos. Entretanto, uma série de efeitos colaterais dificulta seu uso de forma crônica, estando reservado para crises mais intensas de asma e bronquite”.
Recentemente, foram introduzidas as formas inaláveis dos corticoides. O medicamento é aspirado diretamente aos pulmões, onde age localmente, na tentativa de limitar seus efeitos sobre os demais órgãos do paciente. “Inicialmente, foram utilizados na asma com uma eficácia intensa e poucos efeitos colaterais, mesmo durante uso prolongado. Aos poucos essa medicação foi testada em outras doenças, como na DPOC ou na bronquite crônica, com resultados bem menos evidentes que na asma. Como os pacientes com DPOC são mais idosos que na asma, necessitam de doses mais elevadas do medicamento e, em geral, apresentam outras doenças associadas. Os benefícios foram mais limitados e os efeitos colaterais bem mais frequentes”, diz Kairalla.
Há poucos meses, um grupo de pesquisadores dos departamentos de epidemiologia e medicina da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, liderados por S. Suissa, conduziram um estudo extenso, entre  1990 e 2005, a envolver mais de 388 mil pacientes portadores de DPOC ou asma, para avaliar o impacto do uso crônico de corticoide sobre a saúde dos participantes.
Os resultados desse estudo foram publicados na revista American Journal of Medicine. Os cientistas observaram que o uso de corticoides inaláveis aumentou o risco de aparecimento de diabetes em 34% para cada ano de uso, comparado com o grupo de pessoas que não recebeu esse tipo de medicação. O risco de desenvolvimento de diabetes era ainda maior no grupo de pacientes que necessitou de doses mais elevadas de corticoides para o controle de sua doença, chegando a um aumento superior a 64%.
Segundo Kairalla, “esse estudo confirma a nossa impressão clínica na prática diária. Recomenda-se, com base nessa pesquisa, um cuidado extremo ao prescrever tal medicação, especialmente de uso crônico e em idosos recebendo múltiplas drogas. No caso específico do corticoide inalatório em DPOC, devemos ser cautelosos com indicação, dose utilizada e controle dos efeitos colaterais”.
Os especialistas sugerem aos pacientes tratados com corticoides inaláveis que discutam as opções com seus médicos. Além disso, convém ter a glicemia (concentração de açúcar no sangue) avaliada periodicamente, para detectar elevação ou diabetes.


2 Respostas para “Bronquite e cortisona”

  • Gustavo disse: Sim, Gabriela, os médicos têm por obrigação escutar o paciente e atendê-lo conforme as informãções obtidas durante a anammese. A autorização do paciente é essencial para que qualquer conduta de tratamento seja realizada. Apoio veementemente com o seu “burrice e autoritarismo” desse profissional nessa circunstância uma vez que não dar importância ao que o paciente diz é pura ignorância.Isso não só vale ao médico, vale a todos cidadãos que querem respeito (escute para ser escutado!). Porém, há fundamentações no que refere-se ao efeito placebo. Não conheço os corticoides ditos, mas é fato que o psicológico tem o poder de influenciar de maneira drástica aos tratamentos, basta fazer revisões na literatura médica, ou uma simples busca no ‘google’. Creio que a melhor saída é buscar sempre opiniões de mais alguns médicos. Cerca 3 opiniões bastam visto que o excesso de sugestões pode piorar o seu caso clínico. Claro, cada um é cada um, e cada caso é cada caso. Os casos “Vareia”, rsrs…
  • Gabriela Carneiro disse: Pois é. No início desse ano tive uma discussão seríssima com uma médica que me atendeu no hospital de otorrinos da Unimed, em Recife, Pernambuco. Tenho crises de bronquite desde que nasci, há 24 anos (hoje bem mais espaçadas que na infância, felizmente), conheço meu organismo, meus sintomas e as famílias de broncodilatadores existentes, assim como minhas reações a eles. Também possuo acompanhamento médico de pneumologista/alergista desde então.
    Infelizmente a médica, no atendimento de emergência (fiz um quadro durante viagem), além de me querer impor a inalação de corticóides (o que nunca foi necessário para cessar minhas crises) SEM MINHA AUTORIZAÇÃO (1o problema ético, pois a enfermeira me trouxe o material mesmo após eu ter manifestado prévia recusa à médica), discutiu comigo dizendo não existir diferença entre os medicamentos aerolin e berotec (salbutamol e bromidrato de fenoterol), sendo que meu organismo sempre reagiu de maneira bastante distinta aos dois (insinuou que a razão poderia ser psicológica). Considero este um 2o problema ético posto que, mesmo que os cânones todos da medicina concordem com sua tese, médico nenhum pode tapar os ouvidos para os relatos clínicos que o paciente apresenta. É burrice e autoritarismo.
    Resultado, além de não ter conseguido resolver minha crise, saí aperreada que só, como em bom pernambucanês.

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