e, de preferência, que se vistam bem. Na falta de candidatos
assim, continuam solteiras – para desespero do governo,
que luta para aumentar a taxa de fecundidade do país
assim, continuam solteiras – para desespero do governo,
que luta para aumentar a taxa de fecundidade do país
Fotos Paulo Vitale |
Por que os japoneses estão adiando o momento de compartilhar o tatame? Nas pesquisas, homens e mulheres respondem a mesma coisa: porque ainda não acharam o parceiro certo. Por "parceiro certo", entendem alguém que tenha bom caráter, seja carinhoso e dedicado à família. Os predicados exigidos por um e outro gênero são basicamente os mesmos. À exceção de um, invariavelmente mencionado pelas mulheres: o parceiro ideal, afirmam as japonesas, tem de ser alguém "economicamente estável’.
As amigas Mizuko Toriyama, 34 anos, e Akiko Takahashi, 33, confirmam a tese de Mariko. As duas dizem que não pretendem se casar com alguém "financeiramente instável". "Não sei se vou querer trabalhar até os 60 anos de idade", justifica Mizuko. "Não quero baixar meu padrão de vida", explica Akiko. Como secretária da presidência de uma grande empresa, Akiko ganha o equivalente a 1.800 dólares por mês. Diz que a boa situação financeira de um pretendente não é a primeira condição para que ela aceite casar-se com ele ("dedicação à família vem antes"), mas é a segunda. "Quando somos mais novas, só enxergamos a parte externa do homem: se é bonito, como se veste. Depois, quando amadurecemos, a realidade fala mais alto: entendemos que é necessário procurar alguém que tenha futuro", diz ela. Ah, sim, Akiko tem namorado – e com uma boa situação profissional: engenheiro de sistemas numa grande empresa. Akiko pretende casar-se com ele? Não. E por que não? "Desconfio que ele seja o típico homem japonês", diz. Segue a descrição do "típico homem japonês", segundo Akiko: "Aquele que trabalha todo dia até 11 da noite, nunca janta com a família e, nos fins de semana, vai jogar golfe com os amigos".
Por meio de panfletos, solteiros e solteiras são convidados a participar (elas, com o transporte pago pela prefeitura) de um "Tokimeki-biyori", algo como "dia perfeito para se encantar". Em geral, o encontro começa com um piquenique, seguido de atividades variadas, como rafting. O último encontro do gênero ocorreu no ano passado. Depois dele, a prefeitura percebeu que talvez não fosse suficiente reunir num mesmo espaço jovens de sexos opostos e objetivos idênticos. Para que o evento produzisse o resultado esperado (leia-se romance, namoro e, oxalá, casamento), era preciso, antes de tudo, que as partes se comunicassem. Eis aí algo difícil para os japoneses. "Os homens tinham grande dificuldade em aproximar-se das mulheres", afirma Tohru Ohsawa, coordenador de eventos da prefeitura. Foi dele a idéia de contratar o professor Kiyoharu Ohashi para uma série de palestras na cidade. Ohashi especializou-se em ensinar homens solteiros a se comportar diante das mulheres de modo a aumentar suas chances de mudar de estado civil. No mês passado, ele deu sua terceira palestra em Ikeda, patrocinada pela prefeitura (veja reportagem abaixo).
[POBRE, NÃO] Com 33 e 34 anos, as amigas Akiko e Mizuko continuam solteiras e dizem que assim pretendem permanecer até achar um homem que seja dedicado à família "e que tenha futuro" |
A opção pelo filho único Apesar dos incentivos do governo, mulheres acham que um segundo filho ameaça o seu emprego
Não que as leis japonesas não facilitem a vida das mães que trabalham. Até o início da década de 90, as coisas eram bem difíceis: cada empresa tinha sua própria política de licença-maternidade, quando tinha alguma. A maior parte se contentava em conceder às gestantes algumas semanas de folga, quase sempre não remuneradas. Sucessivos anos de baixíssimas taxas de natalidade, no entanto, mudaram a situação. Hoje, as empresas são obrigadas a conceder às funcionárias catorze semanas de licença-maternidade (seis antes do parto e oito depois), seguidas da opção de retornar ao trabalho ou de ficar em casa (recebendo 50% do salário) até que o bebê faça 1 ano. Depois disso, a criança tem direito a uma vaga em creche subsidiada pelo governo e a mãe, a um horário de trabalho mais flexível que o dos colegas. Natsuki concorda que a lei é bastante razoável. Mas diz que não são as condições objetivas que a preocupam. O que ela teme é que uma segunda gravidez desagrade seu chefe e colegas de trabalho. "Eles são gentis, mas, quando dizem: ‘Que bom que você vai poder ficar tanto tempo fora cuidando do seu bebê’, percebo que há uma certa crítica pelo fato de que alguém terá de fazer o meu serviço", conta. Para a engenheira, no entanto, ainda que a gravidez de uma funcionária sobrecarregue seus colegas, não há grandes problemas quando ela ocorre pela primeira vez. "Mas, na segunda, vão dizer: ‘De novo?’." Natsuki também não acredita que vai usufruir o direito legal de chegar mais tarde e ir embora mais cedo do serviço. "Se todos tiverem de trabalhar até meia-noite, eu não poderei simplesmente virar as costas e ir embora", diz. "Não é uma questão de a lei permitir ou não. Na vida real, as coisas funcionam de outro modo." |
Diante da escassez de noivas, solteiros fazem
curso para aprender a conquistar mulheres
curso para aprender a conquistar mulheres
[PRIMEIRA LIÇÃO] Combinar as cores e "parar de comprar roupas no supermercado", diz a instrutora |
Dessa vez, Ohashi trouxe instrutoras para ajudá-lo. A platéia, minúscula, está muda e tensa. A primeira instrutora começa por relacionar temas que podem render "boas conversas". De acordo com o professor Ohashi, escolher sobre o que vai falar é uma das principais dificuldades relatadas pelos alunos. "Ao contrário das mulheres, que lêem revistas e vão a restaurantes da moda com as amigas, os homens japoneses só trabalham. Na hora de um encontro, não têm assunto." A instrutora sugere que os alunos comecem por perguntar às mulheres em que cidade nasceram. Para efeito de treino, propõe simular diálogos com os participantes. O primeiro se recusa. O segundo desiste logo no início. O terceiro segue a sua orientação e começa perguntando de onde ela é. "Kioto", responde a instrutora. Ele leva a mão ao queixo e permanece vários segundos em silêncio balançando afirmativamente a cabeça, até que, finalmente, diz: "Ah, Kioto... Tem muita violência em Kioto, não?". A instrutora salta da cadeira, levando as mãos à testa: "Não, não!", exclama, enquanto os demais riem. "O comentário deve ser agradável!" O participante enrubesce.
Outro exercício consiste em aprender a sorrir no momento de cumprimentar uma mulher – tarefa que pode ser das mais complicadas para um japonês. Parte por timidez, parte por tradição, muitos homens costumam apresentar-se às mulheres com a cara mais fechada possível. "Isso assusta", informa a instrutora. Depois de distribuir espelhos aos participantes, ela pede a eles que exercitem alguns músculos faciais, de modo a "relaxá-los e aprender a dar um sorriso natural". I. Matsuoka – 32 anos, funcionário de uma empresa de construção que, como os demais participantes, afirma ter-se inscrito no curso "por curiosidade" – concentra-se diante da própria imagem, move alguns músculos do rosto para baixo e para cima e logo desanima: "Muzukashi" ("difícil"), diz. Ohashi concorda. "Assim como não foram treinados para sorrir, os japoneses não foram ensinados para atrair uma mulher e nem mesmo para ser agradáveis com ela", diz. Agora, diante da concorrência apertada, correm o risco de ficar para titios.
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