Estudo desaconselha tratamento imediato contra o câncer de próstata em pacientes acima dos 70 anos de idade
Células de câncer de próstata em cultura laboratorial (Parviz M. Pour/Latinstock)
Um novo estudo americano reforça a ideia, defendida em levantamentos anteriores, de que o tratamento contra o câncer de próstata pode ser adiado em pacientes com mais de 70 anos. De acordo com a pesquisa, publicada no Journal of Clinical Oncology, apenas monitorar os casos de tumores de baixo risco em homens idodos pode ser mais seguro do que iniciar o tratamento assim que o câncer é detectado. Isso porque, explicam os médicos, ainda não existe um método 100% eficaz para determinar quais homens terão, de fato, sua saúde prejudicada pelo aparecimento do tumor - nesses casos, o risco de um tratamento desnecessário pode ser mais prejudicial do que a doença.A pesquisa acompanhou um grupo de 650 homens acima dos 66 anos, todos com câncer de próstata já detectado. Os médicos perceberam que a maioria dos pacientes foi capaz de viver durante cinco anos sem qualquer tratamento contra a doença. Nenhum dos participantes morreu em função do câncer de próstata durante o estudo.
“O problema por trás da pesquisa é que, hoje, há um excesso de tratamento em casos de câncer de próstata, porque não sabemos dizer ao certo quais pacientes jamais serão prejudicados pela doença”, diz H. Ballentine Carter, professor de urologia e oncologia na Universidade Johns Hopkins e um dos responsáveis pela pesquisa. Segundo o especialista, a grande maioria dos casos de câncer de próstata em pacientes idosos cresce lentamente, permitindo à pessoa viver por muitos anos.
Uma das hipóteses mais prováveis para o excessivo tratamento da doença nesses pacientes pode estar no exame que é feito para diagnóstico. Fácil, simples e barato, o exame para diagnosticar o tumor mede a quantidade do antígeno específico da próstata (PSA, sigla em inglês), uma substância que tem seu nível no sangue aumentada na maioria dos casos de tumor na próstata.
Feito em larga escala, esse exame tem aumentado o diagnóstico de cânceres que nunca teriam causado problemas significativos à saúde do paciente – já o tratamento em idosos pode ter efeitos colaterais muito mais severos. Estudos científicos anteriores já haviam contra-indicado exames de diagnóstico de câncer de próstata em homens acima dos 70 anos.
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Dr. Mario Eisenberger
Há 17 anos trabalhando na Universidade Johns Hopkins, o oncologista Mario Eisenberger estuda o futuro do combate ao câncer. Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, já teve pacientes que chegaram em estado grave ao seu consultório, com metástase até no osso, mas que dez anos depois estão vivos e em completa remissão.“Metástase não é mais sentença de morte”, diz, com um leve sotaque em inglês, adquirido nas quase quatro décadas morando nos Estados Unidos. Fascinado por estudos clínicos, sua tarefa é definir os padrões da doença que serão examinados. É a linha de frente da ciência.
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