Apesar de serem alvo de campanha de vacinação em massa, enfermidades como sarampo, coqueluche e poliomielite continuam a fazer centenas de vítimas pelo mundo
Monique OliveiraA erradicação da varíola nos anos 1970, após um esforço global de mais de 200 anos, deu início à esperança de que outras doenças também pudessem desaparecer por completo. A poliomielite foi, então, o próximo alvo. Na esteira da difusão de conceitos de vigilância epidemiológica pela Organização Mundial da Saúde, deflagrou-se uma corrida para a sua erradicação com metas sendo estabelecidas – e continuamente postergadas – desde 1971. A última, estabelecida em 2010, foi adiada por pelo menos mais três anos após nove novos casos serem registrados recentemente na China.
A varíola segue, então, como única doença erradicada. Com tantos avanços na medicina, a pergunta que se faz é por que, afinal, determinadas enfermidades – contra as quais há vacinas – continuam a fazer vítimas. As respostas são complexas. Para ser considerada erradicada, além de não originar mais nenhum caso, a doença deve atender a estes critérios: o homem ser o único hospedeiro do agente causador, dispor de uma forma de combate segura e efetiva e ser beneficiada por uma política pública mundial de campanhas de imunizações.
Isso já é uma grande tarefa. É preciso considerar, porém, que cada doença tem sua particularidade. No caso do sarampo, por exemplo, o vírus é altamente contagioso. Dessa forma, qualquer falha na cobertura vacinal é uma brecha perigosa. “Se alguém infectado entra em um consultório médico, por exemplo, e outro indivíduo lá presente não está imunizado, há grande chance de contágio”, diz o epidemiologista José Cássio de Moraes, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
A varíola segue, então, como única doença erradicada. Com tantos avanços na medicina, a pergunta que se faz é por que, afinal, determinadas enfermidades – contra as quais há vacinas – continuam a fazer vítimas. As respostas são complexas. Para ser considerada erradicada, além de não originar mais nenhum caso, a doença deve atender a estes critérios: o homem ser o único hospedeiro do agente causador, dispor de uma forma de combate segura e efetiva e ser beneficiada por uma política pública mundial de campanhas de imunizações.
Isso já é uma grande tarefa. É preciso considerar, porém, que cada doença tem sua particularidade. No caso do sarampo, por exemplo, o vírus é altamente contagioso. Dessa forma, qualquer falha na cobertura vacinal é uma brecha perigosa. “Se alguém infectado entra em um consultório médico, por exemplo, e outro indivíduo lá presente não está imunizado, há grande chance de contágio”, diz o epidemiologista José Cássio de Moraes, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
O problema é que, embora o Brasil tenha iniciado em 2005 uma campanha contra o sarampo e a rubéola, o vírus continua circulando com força na África e na Europa. “Por essa razão a doença não foi eliminada aqui”, explica Moraes. Na última semana, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, por exemplo, acompanhava três bebês com menos de um ano sob suspeita de terem contraído a enfermidade.
Na Europa, o controle sobre o sarampo teve outro complicador. Em 1998, um estudo publicado na revista científica “The Lancet” associava a vacina contra o sarampo, a caxumba e a rubéola ao autismo. O estudo iniciou uma onda antivacina na Inglaterra que prejudicou o sucesso das campanhas. “Essa pesquisa levou a surtos nos Estados Unidos e na Europa”, disse à ISTOÉ Steve Cohl, da Universidade da Califórnia e ex-membro do Comitê de Vacinas do Food and Drug Administration (FDA). “Crianças morreram por não ter sido imunizadas pelos pais, que acreditaram na pesquisa.” A licença do médico autor do estudo foi caçada, mas o estrago estava feito.
"No hospital, tomamos antibiótico porque a
suspeita era de pneumonia. Como o caso se
agravou, a coqueluche foi diagnosticada"
Marcelo Frazão, médico, que transmitiu a doença à filha, Marcela
Também a falta de campanhas de vacinação para adultos, que funcionam como reservatório de alguns micro-organismos causadores de doenças, dificulta o controle das doenças. Um exemplo é a coqueluche, causada por uma bactéria e caracterizada por crises de tosse. Em alguns casos, pode ser fatal. No ano passado, o Brasil registrou 588 casos, segundo o Ministério da Saúde. A enfermidade, cuja vacina precisa ser administrada de dez em dez anos, pertence ao grupo de doenças tidas, erroneamente, como incidentes apenas na infância. “Com o passar do tempo, adultos infectados transmitem males como esse a crianças”, disse Cohl.
Foi o que aconteceu com o cirurgião plástico Marcelo Frazão, 32 anos, de São Paulo. O médico contraiu a doença e a transmitiu para a filha, Marcela, então com apenas um mês. A bebê ainda não tinha recebido a primeira dose da DPT, contra difteria, tétano e coqueluche. “No hospital, tomamos antibiótico porque a suspeita era de pneumonia”, lembra. “Como o caso se agravou, a coqueluche foi diagnosticada.” De fato, é comum que a doença seja subdiagnosticada em adultos. “É frequente ser confundida com pneumonia e até com asma”, afirma Analiria Pimentel, pediatra e infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, instituição de Pernambuco escolhida para ser o centro de vigilância para a coqueluche naquele Estado.
Em países mais pobres, a erradicação de doenças esbarra também na vontade política e econômica. “A oncocercose, principal causa infecciosa da cegueira, poderia ser eliminada se houvesse interesse da indústria farmacêutica em produzir remédios”, lamenta o médico Moraes.
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