Especialistas dizem que as tensões são úteis para o corpo adaptar-se a mudanças
Lilian Fernandes
lilian@oglobo.com.b
Veja como o estresse atua no organismo
Sua atitude é usada pela médica Ana Maria Rossi, presidente da Isma Brasil, uma associação de pesquisa e tratamento do estresse, para ilustrar como administrar o estresse emocional. Atenção para a palavra administrar, e não “evitar” ou “eliminar”. Ela explica que o estresse, em si, não é bom nem mau: tudo vai depender de como cada um encara o que o desencadeou:
— O estresse tem sido visto como vilão, quando pode ser também um aliado. A princípio, ele é neutro, e gerado por qualquer situação que exija adaptação, da chegada de um filho a uma demissão. Se vai se tornar negativo ou positivo, depende das lentes que cada um usará para interpretar a situação: a perda do emprego pode ser devastadora para uma pessoa e vista como uma chance de fazer algo novo por outra.
O corpo reage ao estresse positivo e ao negativo da mesma maneira: a pessoa pode sentir mãos e pés úmidos, o coração batendo mais forte, os músculos retesados. Há maior produção de adrenalina e cortisol, hormônios que, em excesso, podem afetar o sistema imunológico. A imunidade baixa, e há perda momentânea de discernimento mental. O impacto de tudo isso no organismo depende do tempo que a pessoa leva para se refazer:
— O importante é a equação entre o nível de estresse e a eficiência para lidar com ele: estresse demais deixa a pessoa imobilizada, mas de menos desmotiva. Cada um precisa achar seu nível ótimo. O estresse prolongado é que pode causar doenças .
— As pessoas que chamamos de "overreatórias" são mais propensas a esses problemas: elas reagem se param no sinal vermelho, se encontram fila no banco, se alguém não sorri para ela como achava que deveria. Seu organismo acaba não voltando ao normal.
A lista é extensa: dor de cabeça crônica, picos de diabetes ou bronquite, gastrite, irritabilidade, queda de cabelo, herpes, depressão, infarto. A psicóloga Marilda Lipp, fundadora da Associação Brasileira de Stress e diretora do Laboratório de Estudos Psicofisiológicos do Stress, da PUC-Campinas, lembra que há pesquisas ligando até alguns tipos de câncer ao estresse prolongado. Ela explica que o processo se divide em quatro fases: na primeira, o corpo emite os sintomas de alerta, e não passa de 24 horas. Ou a pessoa sai dela ou vai para a segunda, a resistência, em que usa sua energia para enfrentar ou fugir da situação, e depois, volta ao seu estado normal. Se a pessoa não consegue fazer uma coisa nem outra, pode procurar ajuda de um psicólogo, por exemplo. Caso contrário, correrá o risco de passar à terceira etapa, a da quase exaustão: o organismo enfraquece, e doenças começam a surgir. Além de ajuda psicológica, deve-se procurar o médico especialista na doença que se desenvolveu, para não chegar à quarta e última fase, a da exaustão, em que a pessoa já está muito doente, e pode chegar a ter depressão profunda ou um infarto.
O escritório, hoje, parece ser o ambiente mais propício ao seu surgimento. Numa pesquisa do Isma com 900 pessoas, ainda não divulgada, a atividade ocupacional foi indicada como a principal fonte de estresse (64%) dos brasileiros, e a OMS aponta tensões profissionais como uma das maiores causas de acidentes no ambiente de trabalho. Em qualquer caso, especialistas sentenciam: contra o estresse, a fórmula é ter uma vida saudável e buscar estabilidade emocional.
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