Esqueceu uma coisa importante? Normal. Qualquer pessoa saudável, em qualquer idade, pode ter lapsos.
"Não existe memória absoluta", diz Iván Izquierdo, neurocientista argentino radicado no Rio Grande do Sul, autor de "Memória" (Artmed, 134 págs., R$ 41,30).
"Brancos" acontecem por motivos comuns: nervosismo, estresse, insônia, cansaço, excesso de informações.
"O estresse faz com que seja liberado o hormônio cortisol, que age no cérebro impedindo a evocação de memórias", explica Izquierdo. São exemplos cantores que se esquecem das letras e estudantes que não se lembram de nada na hora da prova.
Se for crônico, o estresse também pode atrapalhar a aquisição de informações.
"A memória é uma função cognitiva dependente dos processos de atenção. Qualquer coisa que interfira na concentração pode prejudicá-la", afirma Mônica Sanches Yassuda, neuropsicóloga e pesquisadora da USP.
A falta de sono é uma das principais inimigas da boa memória. De acordo com o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior, do Instituto do Sono da Unifesp, dormir pouco resulta em perda de atenção no dia seguinte, além de atrapalhar no armazenamento de informações anteriores.
"As lembranças são consolidadas quando dormimos, principalmente no terço final da noite, no sono REM [em que acontecem os sonhos]."
O problema é que muitas pessoas têm cada vez menos episódios de sono REM. "Dormimos mais tarde e acordamos mais cedo. Isso faz com que sejamos privados desse tipo de sono. A longo prazo, isso pode até causar perda irreversível da memória."
O consumo de álcool também pode prejudicar as funções cerebrais de forma irreversível. É a chamada demência alcoólica, diferente daquela "amnésia" que acontece depois de uma bebedeira.
A demência aparece ao longo dos anos e é comum entre dependentes químicos, explica a psiquiatra Carla Bicca, da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas).
Já a "amnésia alcoólica" aparece uma vez ou outra. "Nem todo mundo tem esse apagão, ele não deve ser comum. Se você tem sempre, é um alerta: ou é mais vulnerável ou está exagerando."
AMNÉSIA PROTETORA
O esquecimento não é ruim. Para a neurologia, é tão importante quanto a lembrança. "Para recordar seletivamente o que interessa você tem que inibir, bloquear ou esquecer certas coisas. É inútil lembrar-se de tudo", diz o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp.
A inibição de uma lembrança pode acontecer quando o fato é perturbador ou traumático. "É uma forma de a pessoa seguir em frente", afirma Damasceno.
A amnésia de fatos ruins também é vista pela psicanálise como normal. "Faz parte do equilíbrio da mente deixar alguns fatos no âmbito do inconsciente. Mas, se houver um esquecimento grande, pode indicar um desequilíbrio que precisa ser trabalhado em terapia", diz a psicanalista Giselle Groeninga.
Às vezes, esquecer parece com mentir. Mas, nos casos mais comuns, é tudo culpa do cérebro, que não só não grava com perfeição (daí os lapsos), como nos engana criando falsas lembranças.
Isso tudo só é preocupante quando os apagões são frequentes e interferem no cotidiano -e você se esquece de pagar uma conta, digamos.
Esse lapso é mais comum depois dos 45 anos e pode ser sinal de perda cognitiva, diz a neuropsicóloga Ivanda Tudesco, pesquisadora da Unifesp. "O alerta é a mudança de comportamento: a pessoa que nunca esquecia panela no fogo e passa a esquecer."
Em pessoas mais jovens, é comum que os esquecimentos sejam causados por excesso de tarefas e desorganização. "Passar a usar lembretes e agenda já ajuda. Todo mundo precisa de lembrete, é um recurso saudável e fácil."
SEM RECEITA
Não tem uma fórmula para melhorar a memória. Mas sempre é bom reforçar quegravar um fato depende de concentração e interesse.
"Estar motivado aumenta o tônus cerebral, criando uma situação ótima para que informações sejam registradas", diz Benito Damasceno.
Uma dica é pensar no significado da informação e tentar fazer o maior número de associações possíveis. "Se associarmos vários sentidos, fica mais fácil de lembrar."
Usar as informações várias vezes também faz com que exista mais chances de aquela memória ser consolidada.
Jogos e exercícios de treinamento ajudam, mas não resolvem o problema, segundo a neuropsicóloga Gislaine Gil, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
"Não adianta a pessoa ficar boa em um jogo e continuar perdendo a chave de casa. É mais útil você tentar lembrar antes de dormir o que fez durante o dia do que jogar jogo da memória."
Ela dá algumas orientações de organização. "Faça uma lista do que você precisa fazer no dia, organize a gaveta e a mesa de acordo com o uso dos objetos e guarde coisas que somem (óculos, chave) no mesmo lugar."
JULIANA VINES
Folha
"Não existe memória absoluta", diz Iván Izquierdo, neurocientista argentino radicado no Rio Grande do Sul, autor de "Memória" (Artmed, 134 págs., R$ 41,30).
"Brancos" acontecem por motivos comuns: nervosismo, estresse, insônia, cansaço, excesso de informações.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Se for crônico, o estresse também pode atrapalhar a aquisição de informações.
"A memória é uma função cognitiva dependente dos processos de atenção. Qualquer coisa que interfira na concentração pode prejudicá-la", afirma Mônica Sanches Yassuda, neuropsicóloga e pesquisadora da USP.
A falta de sono é uma das principais inimigas da boa memória. De acordo com o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior, do Instituto do Sono da Unifesp, dormir pouco resulta em perda de atenção no dia seguinte, além de atrapalhar no armazenamento de informações anteriores.
"As lembranças são consolidadas quando dormimos, principalmente no terço final da noite, no sono REM [em que acontecem os sonhos]."
O problema é que muitas pessoas têm cada vez menos episódios de sono REM. "Dormimos mais tarde e acordamos mais cedo. Isso faz com que sejamos privados desse tipo de sono. A longo prazo, isso pode até causar perda irreversível da memória."
O consumo de álcool também pode prejudicar as funções cerebrais de forma irreversível. É a chamada demência alcoólica, diferente daquela "amnésia" que acontece depois de uma bebedeira.
A demência aparece ao longo dos anos e é comum entre dependentes químicos, explica a psiquiatra Carla Bicca, da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas).
Já a "amnésia alcoólica" aparece uma vez ou outra. "Nem todo mundo tem esse apagão, ele não deve ser comum. Se você tem sempre, é um alerta: ou é mais vulnerável ou está exagerando."
AMNÉSIA PROTETORA
O esquecimento não é ruim. Para a neurologia, é tão importante quanto a lembrança. "Para recordar seletivamente o que interessa você tem que inibir, bloquear ou esquecer certas coisas. É inútil lembrar-se de tudo", diz o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp.
A inibição de uma lembrança pode acontecer quando o fato é perturbador ou traumático. "É uma forma de a pessoa seguir em frente", afirma Damasceno.
A amnésia de fatos ruins também é vista pela psicanálise como normal. "Faz parte do equilíbrio da mente deixar alguns fatos no âmbito do inconsciente. Mas, se houver um esquecimento grande, pode indicar um desequilíbrio que precisa ser trabalhado em terapia", diz a psicanalista Giselle Groeninga.
Às vezes, esquecer parece com mentir. Mas, nos casos mais comuns, é tudo culpa do cérebro, que não só não grava com perfeição (daí os lapsos), como nos engana criando falsas lembranças.
Isso tudo só é preocupante quando os apagões são frequentes e interferem no cotidiano -e você se esquece de pagar uma conta, digamos.
Esse lapso é mais comum depois dos 45 anos e pode ser sinal de perda cognitiva, diz a neuropsicóloga Ivanda Tudesco, pesquisadora da Unifesp. "O alerta é a mudança de comportamento: a pessoa que nunca esquecia panela no fogo e passa a esquecer."
Em pessoas mais jovens, é comum que os esquecimentos sejam causados por excesso de tarefas e desorganização. "Passar a usar lembretes e agenda já ajuda. Todo mundo precisa de lembrete, é um recurso saudável e fácil."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Não tem uma fórmula para melhorar a memória. Mas sempre é bom reforçar quegravar um fato depende de concentração e interesse.
"Estar motivado aumenta o tônus cerebral, criando uma situação ótima para que informações sejam registradas", diz Benito Damasceno.
Uma dica é pensar no significado da informação e tentar fazer o maior número de associações possíveis. "Se associarmos vários sentidos, fica mais fácil de lembrar."
Usar as informações várias vezes também faz com que exista mais chances de aquela memória ser consolidada.
Jogos e exercícios de treinamento ajudam, mas não resolvem o problema, segundo a neuropsicóloga Gislaine Gil, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
"Não adianta a pessoa ficar boa em um jogo e continuar perdendo a chave de casa. É mais útil você tentar lembrar antes de dormir o que fez durante o dia do que jogar jogo da memória."
Ela dá algumas orientações de organização. "Faça uma lista do que você precisa fazer no dia, organize a gaveta e a mesa de acordo com o uso dos objetos e guarde coisas que somem (óculos, chave) no mesmo lugar."
JULIANA VINES
Folha
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