11.28.2011

A verdade Sobre os Cosméticos e suas Ações Sobre a Pele




A cosmetologia atualmente vem ganhando notoriedade, pois o simples enfoque estético começa a ganhar a ótica médica. Para a especialista em Controle de Qualidade de Medicamentos e Cosméticos pela Universidade Federal de Minas Gerais, Renata Noronha Silveira, o cosmético, tem como finalidade tratar a pele de maneira a prevenir a sua deterioração e reestabelecer o seu equilíbrio fisiológico quando este for passível de uma alteração. O cosmético deve limpar, corrigir, proteger e embelezar a pele e anexos.

A pele é o maior órgão do corpo humano e um dos mais complexos, exercendo uma função principal de proteção e revestimento. A pele protege o corpo contra agressões do meio ambiente e funções sensoriais (calor, frio, pressão, dor, tato), além de ter o seu importante papel na regulação térmica, defesa orgânica e controle do fluxo sangüíneo. Os pêlos, unhas e cabelos constituem os seus anexos. A epiderme é a unidade mais superficial da pele exibindo a camada córnea, que se assenta sobre um tecido de sustentação fibrilar chamado derme. A derme, por sua vez se repousa sobre uma camada célulo-adiposa também conhecida como tecido subcutâneo ou hipoderme.

É importante lembrar que o termo cosmético deve se limitar aos produtos com ação superficial, sem caráter terapêutico, não penetrando na estrutura celular ou fazendo sinergia com o sistema circulatório. Qualquer ação em profundidade sobre a pele e anexos, com produtos que alteram a estrutura celular, passa ao domínio médico e deve ser visto como medicamento.

A camada córnea da pele contém aproximadamente de 10 a 20% de água e o seu grau de hidratação decorre do equilíbrio entre a água fornecida (endógena ou exógena) e as perdas por evaporação. A película hidrolipídica da superfície da pele, emulsão formada pelo sebo cutâneo, suor e seus componentes, têm papel importante na retenção da água. Certos produtos, devido aos seus componentes ou formulação, permitem diminuir os problemas relacionados com a desidratação da pele. Quando saudável e hidratada, a pele apresenta um aspecto brilhante e de plasticidade. Uma pele desidratada perde suas propriedades biomecânicas, biológicas e sobretudo estéticas pois o seu aspecto torna-se opaco, áspero, sem elasticidade e com tendência a descamação.

A desidratação da pele pode ser evitada diminuindo-se ou evitando-se as agressões externas ou utilizando produtos que corrigem e restabelecem o equilíbrio biológico.

Novas Buscas

A busca de novas matérias-primas para o desenvolvimento de formulações cosméticas, cada vez mais compatíveis e inócuas aos diferentes tipos de pele, bem como o avanço e a perspectiva de novos ativos com finalidades dermocosméticas, têm sido uma constante por parte dos farmacêuticos, químicos, dermatologistas e da indústria de cosméticos.

Segundo a farmacêutica industrial, os produtos de beleza e tratamento cosmético dividiam-se tradicionalmente em dois grupos: os extraídos de fontes naturais e aqueles obtidos por síntese. Hoje se sabe que a maior parte das substâncias utilizadas na formulação de cosméticos pertence ao grupo dos "produtos naturais modificados" que embora obtidos na natureza, foram modificados estruturalmente para apresentar propriedades mais atenuantes ou menos tóxicas.

Inúmeras são as substâncias empregadas nas formulações cosméticas para atenuar ou proteger a pele contra as agressões e envelhecimento mas a cosmetologia não passaria de um álibi, uma mera ilusão, se os fatores intrínsecos e extrínsecos como exposição ao sol, tabagismo, alimentação, sedentarismo físico e intelectual não forem controlados e evitados. Além do envelhecimento cutâneo intrínseco, geneticamente determinado, os fatores extrínsecos são determinantes, especialmente a radiação solar responsável pelo fotoenvelhecimento.

A pele envelhecida intrinsicamente apresenta-se delgada, pouco elástica e finamente enrugada, com acentuação das linhas de expressão do rosto. Já a pele fotoenvelhecida se caracteriza histologicamente, pela displasia epidérmica, com vários graus de atipia citológica, infiltrados inflamatórios, redução do colágeno e elastose (degradação do material elástico). Portanto, o envelhecimento intrínseco da pele resulta em atrofia, enquanto o fotoenvelhecimento em hipertrofia. Esta distinção nem sempre é clinicamente evidente mas nos casos ideais nota-se um envelhecimento intrínseco da pele com rugas finas, enquanto a pele fotoenvelhecida apresenta um enrugamento grosso e sulcado.

Necessidade de Proteção e os novos avanços

A especialista enfatiza que o reconhecimento de que a proteção solar pode reduzir ou até reverter os efeitos do fotoenvelhecimento da pele levou à inclusão de filtros solares nas preparações de bronzeadores, bases faciais, hidratantes, shampoos e batons. O desempenho de um protetor solar depende da concentração do filtro solar e de sua capacidade de permanecer na pele. Geralmente os filtros solares disponíveis não bloqueiam a energia luminosa entre 320 e 400 nm, conhecidos como região de raios ultravioleta-A (UVA). Os filtros solares entretanto absorvem 95% da radiação UV dentro dos comprimentos de onda 290 a 320 nm (espectro dos raios ultravioleta-B / UVB), também conhecido como região de queimadura solar, pois estes comprimentos de onda da energia luminosa produzem eritema e enrugamento cutâneo.

Os retinóides, como por exemplo a tretinoína, também podem reverter as modificações cutâneas fotoinduzidas. A tretinoína é um dos vários derivados da Vitamina A e demonstrou transformar a epiderme atrófica trazendo uma melhora do aspecto cutâneo rugoso. Entretanto não melhora o enrugamento associado às linhas de expressão facial. A pele do rosto tratada com tretinoína também apresenta novas sínteses de colágeno das papilas dérmicas, novas formações de vasos sanguíneos e esfoliação do estrato córneo acumulado. Ainda se desconhecem os efeitos da tretinoína sobre o envelhecimento intrínseco. Vários graus de eritema e dermatites são comuns em pacientes tratados com tretinoína, nas primeiras duas a seis semanas. Este efeito irritante (ardor, prurido e descamação) costuma desaparecer com o passar do tempo e com a descontinuidade da aplicação. A tretinoína é fotoinativada e aumenta a fotossensibilidade cutânea, de forma que a sua aplicação é recomendada à noite. Os pacientes também devem usar protetores solares. Os resultados podem ser percebidos a partir de 4 meses em pacientes que usam tretinoína tópica diariamente.

O rejuvenescimento facial é hoje uma realidade, alcançada através dos peelings químicos e aplicação de Laser (Light accumulated by stimuleted eletron radiation) que diferentemente da cirurgia plástica, que objetiva aumentar ou reduzir tecidos cutâneos, promovem um aspecto jovem e mais natural para a pele.

O peeling pode ser definido como um processo no qual se utilizam diversos agentes capazes de promover uma descamação das camadas superficiais da pele, ativando mecanismos biológicos que estimulam a renovação e o crescimento celular desde as camadas mais profundas da pele. Resultado disso é uma pele mais saudável, lisa, uniforme e rejuvenescida.

O peeling químico, utilizando ácido glicólico ou retinóico tem mostrado resultados muito satisfatórios na melhoria da textura e aparência da pele danificada pelo sol. Outros produtos como ácido salicílico ou ácido tricloroacético também são utilizados em peelings superficiais e de média profundidade, respectivamente.

Os alfa-hidroxiácidos são também chamados de ácidos frutais devido à sua obtenção a partir de fontes naturais como a maçã, uva, cana-de-açúcar e frutas cítricas. Embora utilizados há centenas de anos como agentes hidratantes e refrescantes da pele, os alfa-hidroxiácidos foram recentemente empregados no tratamento da acne, pele fotoenvelhecida, pigmentação e em rugas finas.

Este grupo de ácidos orgânicos, em especial o ácido glicólico, quando usado regularmente, age como esfoliante, promovendo uma remoção de corneócitos (células mortas) da camada superior da epiderme e permitindo que células mais jovens que emergem a superfície, facilitando a penetração de outros princípios ativos associados a ele.

Existem diversos produtos no mercado contendo alfa-hidroxiácidos em baixas concentrações e que são seguros para uso domiciliar. Soluções muito concentradas de ácido glicólico no entanto só devem ser aplicadas pelo Dermatologista, com rigoroso controle sobre o tempo de exposição à pele. Por se tratar de um leve esfoliante, vários tratamentos podem ser requeridos até que se atinja os resultados esperados.

O peeling com ácido glicólico é bastante seguro, não requer afastamento do indivíduo de suas atividades regulares e ao contrário do ácido retinóico, raramente causa sensibilidade à luz solar, vermelhidão ou irritação na pele. Existem algumas contra-indicações ao uso do peeling com ácido glicólico para os pacientes portadores de herpes, eritemas persistentes, cicatrizes hipertróficas, gestantes e em pele negra.

Os efeitos secundários relacionados ao emprego de cosméticos e produtos para cuidados pessoais são raros se considerarmos o grande número de pessoas que entram em contato com as mais variadas substâncias utilizadas nestes produtos. A dermatite de contato irritativa é o efeito colateral mais comum induzido por cosméticos. Manifesta-se por eritemas que causam ardor e coceira à pele, podendo apresentar microvesículas e escamação. Trata-se de um dano ao nível do estrato córneo, sem fenômenos imunológicos. A irritação pode ser conseqüência do pH das formulações ou veículos que dissolvem o sebo protetor da pele. Além disso, a fricção ou partículas abrasivas dos cosméticos também podem causar irritação. Uma vez danificada a camada córnea, esta deixa de exercer a função protetora e qualquer cosmético aplicado sobre a pele poderá causar uma irritação.

A dermatite de contato alérgica é um fenômeno imunológico, que necessita da presença de um antígeno e de células produtoras de antígenos, sem considerar a condição do estrato córneo protetor. Portanto, um estrato córneo íntegro não evita o desencadeamento de uma dermatite de contato alérgica nos indivíduos sensibilizados. As causas mais comuns de dermatite alérgica induzida por cosméticos são as essências, seguidas pelos conservantes. Uma outra manifestação ao uso de cosméticos pode ser a urticária de contato, caracterizada por pápulas e rubor após aplicação tópica de um produto químico, ou podendo ser generalizada com reação anafilática.

Relação causa e efeito

Segundo Renata Silveira, pode-se dizer então que a ação dos cosméticos sobre a pele pode causar uma "irritação" caracterizada por um efeito cáustico, geralmente proporcional à dose (concentração) e que se difere da "intolerância" aos cosméticos, que é um fator individual e não depende da concentração do alergênico.

Um tipo de acne de baixo grau, caracterizada por comedões fechados foi descrito por Kligman e Mills como acne cosmética, induzida por substâncias presentes nos cosméticos, apresentando em alguns casos uma erupção pápulo-purulenta. Quando se avalia o potencial comedogênico de um cosmético deve-se levar em conta sua concentração e seu potencial comedogênico quando associado com outras substâncias. Sabe-se que nem todas as bases oleosas necessariamente produzem comedões podendo ser acnegênicos e não comedogênicos. Entretanto, recomenda-se para peles oleosas e com acnes, os géis, evitando-se o uso de cremes com alto conteúdo lipídico.

Finalmente podemos concluir que tanto os cosméticos de superfície como os bioativos têm seus limites de atuação e os resultados vão depender da quantidade e qualidade do manto hidrolipídico. Apesar de grandes esforços e avanços na cosmetologia e no campo da fisiologia da pele, é pequeno o conhecimento sobre as reais modificações de ordem biológica do tecido cutâneo. "Muitas pessoas ainda acreditam em efeitos milagrosos dos cosméticos esquecendo-se que os melhores resultados somente serão obtidos quando aliado aos cosméticos encontrarmos hábitos saudáveis de vida", destaca.

+ boa Saúde

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