á mais perigos rondando um prato de comida do que pode imaginar quem se senta à mesa. Nas duas últimas semanas, os europeus descobriram que a carne de frango, um alimento presente em quase todos os cardápios do planeta, continha altas doses de dioxina, uma substância cancerígena que não existe na natureza. Mal refeitos do susto, souberam que a Coca-Cola servida em bares e restaurantes podia estar imprópria para consumo. O medo com comida estragada não é privilégio do Primeiro Mundo. O problema no Brasil é que a presença de dioxina em alimentos não seria detectada. "Se ocorresse esse tipo de contaminação em nosso país, não teríamos como descobrir", diz Anthony Wong, diretor do centro de assistência toxicológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Há apenas um laboratório no Brasil capaz de verificar a presença da dioxina em alimentos - o Centro de Excelência Geoquímica e Meio Ambiente da Petrobrás, no Rio de Janeiro -, mas o custo para testar um único produto, em torno de R$ 750, inviabiliza controle abrangente.
Laboratórios sofisticados não são, nem na Europa, garantia de transparência ao lidar com casos de intoxicação alimentar. Pelo menos uma parte da produção, informou oficialmente a Coca-Cola, continha um "gás carbônico ruim" ou latas sujas de fungicida, mas ninguém se satisfez com a explicação. Quem bebeu passou mal - na Bélgica, onde fica uma das fábricas responsáveis pelo problema (a outra está na França), pelo menos 200 pessoas foram hospitalizadas com dores de estômago e de cabeça, náuseas e diarréia. Para acalmar a população, os governos da França, da Bélgica, da Holanda e de Luxemburgo suspenderam a venda de todos os refrigerantes da empresa e retiraram dos supermercados mais de 50 milhões de garrafas e latas. No caso da dioxina, a Bélgica, também origem da carne contaminada, sacrificou 8,5 milhões de aves.
As cozinhas do planeta evoluíram muito desde os tempos em que geladeira era artigo de luxo e McDonald's apenas o sobrenome de um americano que sonhava abrir uma lanchonete na Califórnia. Mas a evolução não eliminou o medo que a população tem de comida estragada, tanto no Primeiro Mundo quanto em rincões menos afortunados do globo. Nos Estados Unidos, 9 mil pessoas morrem por ano por causa de alimentos contaminados. Na França, são 700. Do lado de baixo do Equador, as estatísticas são imprecisas. Só no Estado do Paraná, um dos únicos a estudar doenças transmitidas por alimentos, 1,6 milhão de pessoas sofreram algum tipo de contaminação nos últimos 20 anos. A estimativa é da Secretaria de Saúde do Paraná.
O diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gonzalo Vecina Neto, prefere apostar no produto brasileiro testado lá fora. "Não há indícios de que o problema ocorra no Brasil", diz, baseado no fato de que o rigoroso controle ao qual são submetidos os alimentos brasileiros exportados para o exterior nunca detectou dioxina. "Mesmo que o frango da mesa do brasileiro não seja o mesmo vendido para o exterior, é impossível criar uma ave com dioxina e outra sem contaminação", conclui Vecina. O raciocínio pode valer para grandes indústrias exportadoras de alimentos. Mas os produtos consumidos no mercado interno não passam por uma fiscalização mais rígida, sem contar os provenientes de abatedouros clandestinos, que chegam ao mercado sem nenhum cuidado.
"Nossa vigilância sanitária é altamente burocratizada, uma espécie de cartório, onde as empresas só têm a fila como empecilho para colocar produtos nas prateleiras", diz o deputado Eduardo Jorge (PT-SP), que é médico e especialista em saúde pública. Vencida a fila, vende-se qualquer coisa, para pavor dos consumidores. Algumas intoxicações alimentares provocam apenas mal-estar, mas outras podem matar, como as decorrentes de contaminação por salmonela, bactéria comum em alimentos crus e mal-cozidos. Contra uma salmonela ou um fungo, como a aflatoxina (que pode aparecer em alguns tipos de grão), têm pouca serventia as leis de defesa do consumidor. Para o ministro da Saúde, José Serra, a solução é a agência criada em janeiro passado e dirigida por Vecina. Em fase de implantação, a agência, segundo o ministro, poderá cuidar melhor da qualidade dos alimentos e medicamentos porque terá autonomia e será isenta de pressões políticas e econômicas.
O ministro afirma que o problema mais grave está na Constituição de 1988, que atribuiu responsabilidades diferentes ao governo federal, aos Estados e aos municípios. Os recursos se descentralizaram, cortando o orçamento da Saúde, mas a vigilância não chegou ao interior. E há muito a ser vigiado. A alimentação moderna vem misturada de ingredientes estranhos, criados para aumentar o volume e conservar por mais tempo a comida de uma população mundial que, neste ano, soma 6 bilhões de habitantes, mais de 46% deles vivendo em grandes aglomerados urbanos.
As mesmas técnicas que possibilitaram preservar e prolongar a qualidade dos produtos e diminuir os riscos à saúde pública, no entanto, podem corrompê-los. Os alimentos geneticamente modificados, concebidos justamente para multiplicar a produção, são hoje objeto de um intenso debate em todo o mundo. A polêmica gira em torno dos supostos riscos à saúde causados por tais alimentos.
"A contaminação da comida pode acontecer em vários momentos: na matéria-prima, na produção, no armazenamento ou na comercialização", diz Odair Senebon, diretor da divisão que estuda alimentos no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. O Instituto de Defesa do Consumidor, uma associação brasileira sem qualquer vínculo com empresas e governos, é mais radical. De acordo com Sezefredo Paz, consultor de alimentação do Idec, cerca de 20% de todos os alimentos que os brasileiros colocam no carrinho do supermercado ou na sacola da feira estão em desacordo com uma ou mais normas do Ministério da Saúde. Os casos de contaminação se multiplicam. Há dois meses, duas pessoas foram internadas em estado grave com botulismo, causado por um tipo de bactéria, depois de consumir palmito colombiano, na cidade de São Paulo. Em janeiro, também na capital paulista, um restaurante japonês teve de ser interditado ao se constatar a intoxicação de mais de dez clientes pela bactéria salmonela. Pesquisa recente feita com o leite consumido na região central do Estado de São Paulo detectou níveis muito elevados de inseticidas. "Os maiores riscos são com a contaminação química", afirma Senebon. "Se não adotarmos práticas agrícolas corretas, correremos um grande perigo."
Mas não é apenas nas práticas erradas ou nos eventuais acidentes que mora o perigo. Os aditivos ampliam as possibilidades de industrialização dos alimentos, mas também levantam dúvidas sobre seu impacto na saúde das pessoas. Eles são um mal necessário, sem o qual os alimentos industrializados perderiam no sabor, no aroma e até em seu valor nutritivo. Mas suspeita-se que tenham efeitos tóxicos e possam diminuir a resistência imunológica das pessoas. Ano a ano cresce o número de alérgicos a conservantes e corantes, principalmente entre crianças, consumidoras de balas, gelatinas, sorvetes e refrescos. Um dos vilões é a tartrazina, corante proibido ou de uso restrito em muitos países, mas largamente empregado no Brasil. Na Europa, qualquer produto que contenha tartrazina deve alertar na embalagem para os riscos de uma reação alérgica em seus consumidores.
Mesmo que os aditivos sejam necessários, é preciso, pelo menos, avisar as pessoas sobre o que estão engolindo. "O problema é que o consumidor médio não tem como decifrar os rótulos", acrescenta Paz, do Idec. Ele explica que a maioria das empresas usa o Sistema Internacional de Numeração de Aditivos e, sem uma tabela técnica na mão, é impossível saber o que há na comida. Além disso, não há indicação das doses permitidas de substâncias que em grande quantidade podem fazer mal. Paz cita a sacarina e o ciclamato contidos nos refrigerantes. Em doses excessivas podem ser perigosos, sobretudo para diabéticos.
Os especialistas garantem que o controle exercido pelas empresas de alimentos e os órgãos fiscalizadores cresceu bastante nas últimas décadas, mas o consumidor, diante de um prato de comida, tem dúvidas - e medo. Poucos europeus acreditaram nas explicações da Coca-Cola. "O que se espera de uma grande marca é ética e transparência", criticou George Lewis, consultor de gerência de marcas ao jornal francês Libération. No caso da dioxina, o governo belga também retardou ao máximo a comunicação da contaminação, descumprindo normas da União Européia, que obrigam os países-membros a dar alerta rápido quando houver risco à saúde.
No Brasil, empresas e consumidores também não mantêm uma relação de confiança. Há um ano, Maria Celina D'Araújo, professora de Ciências Políticas da Universidade Federal Fluminense, comprou uma garrafa de cerveja no interior do Rio de Janeiro e percebeu que havia um corpo estranho em seu interior. A professora procurou a Justiça e abriu um processo, mas desconfia de que o resultado será nulo. D'Araújo nunca foi procurada pelo fabricante. "Não estou preocupada com indenização", diz. "Meu objetivo é fazer com que as empresas sejam mais responsáveis."
Revista Época
Morte pela boca
Os piores casos recentes de intoxicação
O mercúrio presente em resíduos industriais despejados durante anos na baía de Minamata, no sul do Japão, contaminou o pescado da região. De 1953 a 1997, 12.500 pessoas haviam sido diagnosticadas com o "mal de Minamata", uma doença que degenera o sistema nervoso e é transmitida geneticamente, acarretando deformação nos fetos.
Em 1997 a segunda maior cadeia de fast food dos Estados Unidos, a Burger King, jogou fora 125 milhões de hambúrgueres fabricados pela Hudson Foods Inc, depois que 18 fregueses da rede apresentaram fortes sintomas de infecção pela bactéria Escherichia Coli. No mesmo ano, a mesma bactéria, encontrada num lote de suco de maçã não pasteurizado, provocou a morte de um bebê e a internação de 70 pessoas na Califórnia.
Os primeiros casos na Inglaterra da encefalopatia espongiforme bovina, a "doença da vaca louca", são diagnosticados em 1989. O mal que ataca o sistema nervoso dos animais é transmitido ao homem pela ingestão da carne. O governo sacrifica 2,5 milhões de cabeças de gado para derrubar o embargo à venda de carne, que durou dois anos. Foram descobertos 31 casos da doença em seres humanos na Europa.
Ganho por tabela
O escândalo da dioxina abre mercado para o frango brasileiro
A contaminação dos frangos na Europa abriu uma oportunidade para o Brasil e já provocou um aumento dos preços no mercado externo. Segundo Luiz Fernando Furlan, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), as cotações subiram 10% desde o episódio na Bélgica. "Ganhamos por tabela. Não aumentamos nossas exportações para a Europa, que é muito protegida e tem um imposto de importação de 70%, mas temos sido procurados por importadores de países que suspenderam suas compras de frangos europeus, como os de Hong Kong e Cingapura", diz. Para Furlan, que é também presidente da Sadia, episódios recentes de contaminação de alimentos mostram que estes têm sido muito mais freqüentes em países desenvolvidos, que em geral adotam produção intensiva.
Laboratórios sofisticados não são, nem na Europa, garantia de transparência ao lidar com casos de intoxicação alimentar. Pelo menos uma parte da produção, informou oficialmente a Coca-Cola, continha um "gás carbônico ruim" ou latas sujas de fungicida, mas ninguém se satisfez com a explicação. Quem bebeu passou mal - na Bélgica, onde fica uma das fábricas responsáveis pelo problema (a outra está na França), pelo menos 200 pessoas foram hospitalizadas com dores de estômago e de cabeça, náuseas e diarréia. Para acalmar a população, os governos da França, da Bélgica, da Holanda e de Luxemburgo suspenderam a venda de todos os refrigerantes da empresa e retiraram dos supermercados mais de 50 milhões de garrafas e latas. No caso da dioxina, a Bélgica, também origem da carne contaminada, sacrificou 8,5 milhões de aves.
As cozinhas do planeta evoluíram muito desde os tempos em que geladeira era artigo de luxo e McDonald's apenas o sobrenome de um americano que sonhava abrir uma lanchonete na Califórnia. Mas a evolução não eliminou o medo que a população tem de comida estragada, tanto no Primeiro Mundo quanto em rincões menos afortunados do globo. Nos Estados Unidos, 9 mil pessoas morrem por ano por causa de alimentos contaminados. Na França, são 700. Do lado de baixo do Equador, as estatísticas são imprecisas. Só no Estado do Paraná, um dos únicos a estudar doenças transmitidas por alimentos, 1,6 milhão de pessoas sofreram algum tipo de contaminação nos últimos 20 anos. A estimativa é da Secretaria de Saúde do Paraná.
O diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gonzalo Vecina Neto, prefere apostar no produto brasileiro testado lá fora. "Não há indícios de que o problema ocorra no Brasil", diz, baseado no fato de que o rigoroso controle ao qual são submetidos os alimentos brasileiros exportados para o exterior nunca detectou dioxina. "Mesmo que o frango da mesa do brasileiro não seja o mesmo vendido para o exterior, é impossível criar uma ave com dioxina e outra sem contaminação", conclui Vecina. O raciocínio pode valer para grandes indústrias exportadoras de alimentos. Mas os produtos consumidos no mercado interno não passam por uma fiscalização mais rígida, sem contar os provenientes de abatedouros clandestinos, que chegam ao mercado sem nenhum cuidado.
"Nossa vigilância sanitária é altamente burocratizada, uma espécie de cartório, onde as empresas só têm a fila como empecilho para colocar produtos nas prateleiras", diz o deputado Eduardo Jorge (PT-SP), que é médico e especialista em saúde pública. Vencida a fila, vende-se qualquer coisa, para pavor dos consumidores. Algumas intoxicações alimentares provocam apenas mal-estar, mas outras podem matar, como as decorrentes de contaminação por salmonela, bactéria comum em alimentos crus e mal-cozidos. Contra uma salmonela ou um fungo, como a aflatoxina (que pode aparecer em alguns tipos de grão), têm pouca serventia as leis de defesa do consumidor. Para o ministro da Saúde, José Serra, a solução é a agência criada em janeiro passado e dirigida por Vecina. Em fase de implantação, a agência, segundo o ministro, poderá cuidar melhor da qualidade dos alimentos e medicamentos porque terá autonomia e será isenta de pressões políticas e econômicas.
O ministro afirma que o problema mais grave está na Constituição de 1988, que atribuiu responsabilidades diferentes ao governo federal, aos Estados e aos municípios. Os recursos se descentralizaram, cortando o orçamento da Saúde, mas a vigilância não chegou ao interior. E há muito a ser vigiado. A alimentação moderna vem misturada de ingredientes estranhos, criados para aumentar o volume e conservar por mais tempo a comida de uma população mundial que, neste ano, soma 6 bilhões de habitantes, mais de 46% deles vivendo em grandes aglomerados urbanos.
As mesmas técnicas que possibilitaram preservar e prolongar a qualidade dos produtos e diminuir os riscos à saúde pública, no entanto, podem corrompê-los. Os alimentos geneticamente modificados, concebidos justamente para multiplicar a produção, são hoje objeto de um intenso debate em todo o mundo. A polêmica gira em torno dos supostos riscos à saúde causados por tais alimentos.
"A contaminação da comida pode acontecer em vários momentos: na matéria-prima, na produção, no armazenamento ou na comercialização", diz Odair Senebon, diretor da divisão que estuda alimentos no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. O Instituto de Defesa do Consumidor, uma associação brasileira sem qualquer vínculo com empresas e governos, é mais radical. De acordo com Sezefredo Paz, consultor de alimentação do Idec, cerca de 20% de todos os alimentos que os brasileiros colocam no carrinho do supermercado ou na sacola da feira estão em desacordo com uma ou mais normas do Ministério da Saúde. Os casos de contaminação se multiplicam. Há dois meses, duas pessoas foram internadas em estado grave com botulismo, causado por um tipo de bactéria, depois de consumir palmito colombiano, na cidade de São Paulo. Em janeiro, também na capital paulista, um restaurante japonês teve de ser interditado ao se constatar a intoxicação de mais de dez clientes pela bactéria salmonela. Pesquisa recente feita com o leite consumido na região central do Estado de São Paulo detectou níveis muito elevados de inseticidas. "Os maiores riscos são com a contaminação química", afirma Senebon. "Se não adotarmos práticas agrícolas corretas, correremos um grande perigo."
Mas não é apenas nas práticas erradas ou nos eventuais acidentes que mora o perigo. Os aditivos ampliam as possibilidades de industrialização dos alimentos, mas também levantam dúvidas sobre seu impacto na saúde das pessoas. Eles são um mal necessário, sem o qual os alimentos industrializados perderiam no sabor, no aroma e até em seu valor nutritivo. Mas suspeita-se que tenham efeitos tóxicos e possam diminuir a resistência imunológica das pessoas. Ano a ano cresce o número de alérgicos a conservantes e corantes, principalmente entre crianças, consumidoras de balas, gelatinas, sorvetes e refrescos. Um dos vilões é a tartrazina, corante proibido ou de uso restrito em muitos países, mas largamente empregado no Brasil. Na Europa, qualquer produto que contenha tartrazina deve alertar na embalagem para os riscos de uma reação alérgica em seus consumidores.
Mesmo que os aditivos sejam necessários, é preciso, pelo menos, avisar as pessoas sobre o que estão engolindo. "O problema é que o consumidor médio não tem como decifrar os rótulos", acrescenta Paz, do Idec. Ele explica que a maioria das empresas usa o Sistema Internacional de Numeração de Aditivos e, sem uma tabela técnica na mão, é impossível saber o que há na comida. Além disso, não há indicação das doses permitidas de substâncias que em grande quantidade podem fazer mal. Paz cita a sacarina e o ciclamato contidos nos refrigerantes. Em doses excessivas podem ser perigosos, sobretudo para diabéticos.
Os especialistas garantem que o controle exercido pelas empresas de alimentos e os órgãos fiscalizadores cresceu bastante nas últimas décadas, mas o consumidor, diante de um prato de comida, tem dúvidas - e medo. Poucos europeus acreditaram nas explicações da Coca-Cola. "O que se espera de uma grande marca é ética e transparência", criticou George Lewis, consultor de gerência de marcas ao jornal francês Libération. No caso da dioxina, o governo belga também retardou ao máximo a comunicação da contaminação, descumprindo normas da União Européia, que obrigam os países-membros a dar alerta rápido quando houver risco à saúde.
No Brasil, empresas e consumidores também não mantêm uma relação de confiança. Há um ano, Maria Celina D'Araújo, professora de Ciências Políticas da Universidade Federal Fluminense, comprou uma garrafa de cerveja no interior do Rio de Janeiro e percebeu que havia um corpo estranho em seu interior. A professora procurou a Justiça e abriu um processo, mas desconfia de que o resultado será nulo. D'Araújo nunca foi procurada pelo fabricante. "Não estou preocupada com indenização", diz. "Meu objetivo é fazer com que as empresas sejam mais responsáveis."
Revista Época
Heitor Shimizu e Ana Cláudia Fonseca, com sucursais
Os inimigos na sua mesa... Contaminação dos alimentos provoca intoxicações leves ou pode até matar
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Os piores casos recentes de intoxicação
O mercúrio presente em resíduos industriais despejados durante anos na baía de Minamata, no sul do Japão, contaminou o pescado da região. De 1953 a 1997, 12.500 pessoas haviam sido diagnosticadas com o "mal de Minamata", uma doença que degenera o sistema nervoso e é transmitida geneticamente, acarretando deformação nos fetos.
Em 1997 a segunda maior cadeia de fast food dos Estados Unidos, a Burger King, jogou fora 125 milhões de hambúrgueres fabricados pela Hudson Foods Inc, depois que 18 fregueses da rede apresentaram fortes sintomas de infecção pela bactéria Escherichia Coli. No mesmo ano, a mesma bactéria, encontrada num lote de suco de maçã não pasteurizado, provocou a morte de um bebê e a internação de 70 pessoas na Califórnia.
Os primeiros casos na Inglaterra da encefalopatia espongiforme bovina, a "doença da vaca louca", são diagnosticados em 1989. O mal que ataca o sistema nervoso dos animais é transmitido ao homem pela ingestão da carne. O governo sacrifica 2,5 milhões de cabeças de gado para derrubar o embargo à venda de carne, que durou dois anos. Foram descobertos 31 casos da doença em seres humanos na Europa.
...E as armas de defesa Cuidados que devem ser observados na compra de alimentos, segundo o Instituto de Defesa do Consumidor
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Ganho por tabela
O escândalo da dioxina abre mercado para o frango brasileiro
A contaminação dos frangos na Europa abriu uma oportunidade para o Brasil e já provocou um aumento dos preços no mercado externo. Segundo Luiz Fernando Furlan, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), as cotações subiram 10% desde o episódio na Bélgica. "Ganhamos por tabela. Não aumentamos nossas exportações para a Europa, que é muito protegida e tem um imposto de importação de 70%, mas temos sido procurados por importadores de países que suspenderam suas compras de frangos europeus, como os de Hong Kong e Cingapura", diz. Para Furlan, que é também presidente da Sadia, episódios recentes de contaminação de alimentos mostram que estes têm sido muito mais freqüentes em países desenvolvidos, que em geral adotam produção intensiva.
O alto preço do progresso Um veneno pouco conhecido e que provoca diversas doenças é criação do próprio homem O que é a dioxina Substância química extremamente tóxica e considerada cancerígena. É assimilada com facilidade pelos seres vivos, atraída por moléculas de gordura. Uma vez absorvida, dificilmente é eliminada. Dioxinas são moléculas formadas por cloro, oxigênio, carbono e hidrogênio. Existem mais de 200 variedades, dos quais 17 são tóxicas, e a mais perigosa é a TCDD, a mesma encontrada nos frangos da Bélgica. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o índice aceitável de ingestão de dioxina é de 4 picogramas (trilionésima parte do grama) por quilo de peso corporal. Os frangos contaminados na Europa tinham 30 vezes mais do que isso. Doenças e possíveis efeitos da contaminação A intoxicação por dioxina pode levar a diversos tipos de câncer, como de fígado, rins, pulmão, seio e sangue. Cloracne (ou acne clorada), doença que produz erupções cutâneas como se fosse um caso grave de acne, mas que atinge o corpo inteiro. Endometriose: doença em mulheres em que o tecido do útero cresce em outros locais do corpo. Queda nas taxas de esperma e testosterona. Dificuldade de aprendizado. Diabetes e efeitos estruturais na formação dos dentes. Produção industrial e uso militar A dioxina não é encontrada espontaneamente na natureza, pois se trata de um subproduto de processos industriais em que ocorrem reações químicas envolvendo o cloro. Apareceu no início do século, quando indústrias descobriram como separar o cloro do sódio em moléculas de sal. Principais situações em que a dioxina é produzida: na fabricação de PVC ou na queima de produtos à base de PVC; na produção de herbicidas ou pesticidas; na fabricação de papel ou tecido que usem alvejantes a base de cloro; na queima de lixo industrial ou hospitalar. Trata-se de substância química não solúvel na água ou no ar, que resiste por até três décadas quando contamina o solo. Na década de 60, os Estados Unidos dizimaram florestas do Vietnã com o agente laranja, arma química composta de dioxina. Depois da guerra, cientistas começam a perceber o perigo da nova substância criada pelo homem. |
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