12.06.2011

Macarrão com apenas 10 calorias

'Miojo milagroso' com apenas dez calorias vira dieta da moda

Aos 51, Nigella Lawson é linda, tem uma pele incrível e é famosa por suas receitas e seus hábitos em extinção, como fumar, beber e comer sem culpa, sempre provando pratos calóricos na TV e lambendo os dedos de satisfação.
A chef e apresentadora inglesa (GNT, quinta, 18h) age como se manteiga, vinho e chocolate fossem entidades sagradas, nunca antes difamadas por médicos e entusiastas da magreza.

Parecia teletransportada de um tempo em que saúde e corpinho não eram sinônimos e pressões por "vida saudável" eram mais flexíveis.

Karime Xavier/Folhapress
Com apenas dez calorias por porção e aparência pálida, macarrão japonês faz sucesso em dietas de emagrecimento
Com apenas dez calorias por porção e aparência pálida, macarrão japonês faz sucesso em dietas de emagrecimento
Eram. Nigella emagreceu. Do dia para a noite, a sex symbol do orgulho gordo surgiu menos corpulenta. Ela não diz quantos quilos perdeu, mas atribui o feito ao macarrão "konjac" (tubérculo usado na mesa japonesa).
"Nigella quis perder alguns quilos, mas seu desejo nunca foi ficar muito magra. Ela valoriza o prazer de comer e não acha que as mulheres precisam ser magras para serem bonitas e saudáveis", informou a assessoria.
Um mês antes de a musa do "food porn" (movimento de fetichização da comida) ter aparecido mais magra, seu site falava do ingrediente: "Estamos empolgadas por termos descoberto o miojo milagroso, um tipo de massa livre de carboidratos".
Em abril, Nigella dizia à revista "Australia's Woman's Weekly" que pareceria mais velha se emagrecesse: "Mas tenho momentos de dúvida. Todas as mulheres às vezes pensam 'meu Deus, não posso sair, meus quadris estão muito grandes'. Mas há uma faixa na qual cada um se sente bem, eu não posso passar dela". Duas semanas atrás, o "Daily Mail" mostrava a apresentadora mais magra.
O fenômeno do miojo da Nigella repete o padrão de celebridades: surgem magras, indicam o produto responsável, aí consumidoras enlouquecidas movem montanhas atrás do emagrecedor da vez.
No Brasil, o miojo atende pelo nome de "itokonnyaku" e é encontrado na Liberdade.Em outros países, o santo é chamado de "konnyaku", "shirataki", "konjac". Os americanos criaram um nome que vende: "miracle noodle" (miojo milagroso). Dezenas de sites oferecem o produto, incluindo o Amazon.
Karime Xavier/Folhapress
Chamado de "miojo milagroso", o "shirataki" é composto por fibras solúveis e água
Chamado de "miojo milagroso", o "shirataki" é composto por fibras solúveis e água
O macarrão de Nigella é uma espécie de melancia das massas. Contém 97% de água e 3% de fibras -na forma de uma substância viscosa chamada glucomanan.
É ela que faz o alimento ser usado no emagrecimento e no controle de colesterol, glicose, triglicérides, pressão. No Japão, é conhecido como "vassoura para o estômago".
"Em contato com a água, o glucomanan se expande, criando grande volume no estômago. A pessoa se sente satisfeita", diz a nutricionista Fernanda Pisciolaro.
O macarrãozinho age como uma redução de estômago temporária, explica o nutrólogo Eric Slywitch: "O estômago comporta 1,5 litro. Esse alimento preenche cerca de 300 ml quando consumido sem exagero. Isso ajuda a emagrecer sem sentir fome".
Ele lembra, no entanto, que o miojo milagroso tem poucos nutrientes.
LÍNGUA DO DIABO
No Japão, o miojo emagrecedor também é conhecido como "língua do diabo". Além de ser vendido em forma de macarrão é encontrado em um bloco que lembra goiabada cascão. Nessa forma, tem cheiro forte, textura gelatinosa e é chamado de "konnyaku".
Para Diogo Celente, cozinheiro do Prana Sushi, delivery de Porto Alegre que serve o alimento nessa forma de bloco, o mérito do ingrediente insosso é incorporar os temperos: "É como chuchu".
Um grande bloco de "konnyaku" tem apenas dez calorias e provoca grande sensação de saciedade por conta das fibras solúveis. No Prana Sushi, esse bloco é fatiado e grelhado com shoyo.

Karime Xavier/Folhapress
Chef Adriano Kanashiro prepara "itokonnyaku" com cogumelos e salmão
Chef Adriano Kanashiro prepara "itokonnyaku" com cogumelos e salmão
No Japão, há quem compre o bloco e o transforme em macarrão em casa. Segundo o chef Dylan Koishi, isso é muito difícil: "Eu nunca fiz, mas minha avó fazia". Por conta do gosto sem graça, ele sugere o uso em sopas e cozidos, para absorver o sabor dos caldos.
Quando recebe forma de macarrão, o alimento pode se transformar em "shirataki" ou em "itokonnyaku". A diferença entre os dois é a espessura e a textura, mas levam os mesmos ingredientes ("konjac" e água).
cachoeira branca
O "shirataki" (cachoeira branca, em japonês) é mais fininho e difícil de ser achado no Brasil. É vendido nos EUA em embalagens que incluem temperos prontos.
Há outras opções, como miojos feitos de tofu levemente mais calóricos (cinco calorias para cem gramas) e menos tradicionais no Japão.
Os "shiratakis" de tofu foram popularizados em Nova York em 2008, quando a então executiva da Warner Brothers e autora de livros gastronômicos Lisa Lillien passou meses escrevendo sobre as vantagens dessa massa em seu site.
Na época, uma marca de "shirataki" chegou a incluir em suas embalagens selos dizendo que o produto havia sido recomendado por Lillien.
Lillien permanece fiel ao "shirataki" de tofu. Ela conta que já provou a versão da moda, feita com "konjac": "Muita gente tem comprado essa versão por ter menos calorias que o miojo de tofu, mas acho que não vale a pena. O macarrão com tofu tem só 20 calorias por pacote e a textura é bem mais parecida com que o que conhecemos por massa."
Receitas com macarrão japonês usado para emagrecer
O chef Adriano Kanashiro, que vai abrir um novo restaurante, o Momotaro (r. Diogo Jácome, 591, Vila Nova Conceição, São Paulo, tel. 11 3846-8959), nesta quinta-feira, aprendeu a preparar "itokonnyaku" ainda criança, com sua mãe. Ele elaborou essa receita especialmente para a Folha por ser prática e fácil de fazer até para quem não tem familiaridade com esse tipo de macarrão.


Karime Xavier/Folhapress
Chef Adriano Kanashiro prepara "itokonnyaku"
Chef Adriano Kanashiro prepara "itokonnyaku"
Já o chef Dylan Koishi, do Killa (Rua Tucuna, 689, Perdizes, São Paulo, tel. 0/xx/11/8551-8511), preparou uma receita de "sukiyaki", um dos pratos japoneses mais tradicionais que usam macarrão "shirataki".

Karime Xavier/Folhapress
Macarrão japonês com salmão, cogumelos e cebolinha
Macarrão japonês com salmão, cogumelos e cebolinha
ITOKONNAYIKU COM SALMÃO
INGREDIENTES:
- 200 gr de itokonnyaku lavado
- 150 gr de file salmão cortado em e pedaços
- 20 gr de cebolinha em talos de 3 cm
- 60 gr de shimeji
- 15 ml de sake mirin adocicado para uso culinário)
- 10 ml de kirin seco
- 15 ml de shoyu
- 30 gr de manteiga ou 30 ml de azeite extra virgem
- Sal a gosto
- 3 folhas de papel alumínio cortado em 70 cm de comprimento
PREPARO:
- Coloque o papel alumínio sobre uma bancada.
- No centro do papel, coloque o salmão, o itokonnyaku, o shimeji, o sake mirin, o sake mirin, a manteiga, o sal e o shoyu.
- Por cima de tudo, salpique a cebolinha e feche o papel alumínio, fazendo um pacote bem vedado
- Aqueça uma frigideira ou chapa e coloque o embrulho de papel alumínio
- Mantenha o papel em fogo alto por cerca de seis minutos. Depois disso, deixe por outros seis minutos no fogo médio
- Abra o envelope com cuidado e sirva
RENDIMENTO:
- 1 porção
TEMPO:
- 15 minutos
SUKIYAKI
INGREDIENTES:
- 500 gr de carne cortada bem fina
- 1 tofu (queijo de soja) cortado em quadrados de 3 cm x 3 cm
- 1 acelga
- 1 pacote pequeno de moyashi (broto de feijão)
- 2 cebolas fatiadas
- 1 pacote de shirataki passado em agua fervente e escorrido
- 1 maço de cebolinha
- shoyu, saquê, açúcar e manteiga a gosto
- 4 ovos
- 1 xícara e meia de gohan (arroz japonês)
PREPARO:
- Em uma panela de ferro, coloque a manteiga e refogue levemente a carne.
- Tempere com um pouco de açúcar.
- Acrescente a cebola fatiada, espere murchar, e coloque a acelga, o tofu e o shirataki.
- Por último, coloque a cebolinha e o moyashi. Tempere com o saquê e o shoyu e espere cozinhar.
- Quando estiver cozido, sirva bem quente com um ovo batido e gohan (arroz japonês).
SERVIÇO
ONDE COMER:
Shin Zushi - Usa o macarrão no sukiyaki (R$ 250, porção para 2 pessoas). R. Afonso de Freitas, 169, Paraíso, SP, tel. (11) 3889-8700
Prana Sushi - Usa "konnyaku" no sushi, mas nem sempre tem por conta da irregularidade do fornecimento em Porto Alegre. Porto Alegre, tel. (51) 8128-8183
Shintori - No inverno, serve cozido com "konnyaku". Al. Campinas, 600, Jardim Paulista, SP, tel. (11) 3283-2455
ONDE COMPRAR:
Marukai - r. Galvão Bueno, 34, Liberdade, SP, tel. (11) 3341-3350. Vende "konnyaku" e "itokonnyaku"
Casa Bueno - r. Galvão Bueno, 48, Liberdade, SP, tel. (11) 3277-8901. Vende "konnyaku" e "itokonnyaku"
Agro Nippo - av. Dr. Gastão Vidigal, 1.946, Vila Leopoldina, SP, tel. (11) 3839-0330. Vende apenas "itokonnyaku"
JULIANA CUNHA
Folha 

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