3.19.2012

"Envelhecimento do Cérebro"

Pesquisa explica porque idosos têm dificuldade em fazer várias tarefas ao mesmo tempo

Segundo estudo, envelhecimento faz com que neurônios respondam mais lentamente a estímulos sobre a hora certa de mudar de atividade

Envelhecimento: a diminuição da capacidade de idosos reconhecerem o melhor momento de trocar de atividade faz com que eles não consigam realizar várias tarefas ao mesmo tempo Envelhecimento: a diminuição da capacidade de idosos reconhecerem o melhor momento de trocar de atividade faz com que eles não consigam realizar várias tarefas simultaneamente (Thinkstock)
Um novo estudo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, encontrou uma explicação para o fato de os idosos terem dificuldades em fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo. Segundo a pesquisa, isso se deve à perda da capacidade de essas pessoas identificarem qual é o momento de parar de pensar em uma tarefa e imediatamente começar a dar atenção a outras. Ou seja, elas não conseguem reconhecer o melhor momento de deixar de prestar atenção na conversa que estão tendo ao telefone para pensar na comida que está no forno, por exemplo. Esses dados foram publicados na edição desta quarta-feira no periódico The Journal of Neuroscience.
As conclusões dos pesquisadores foram contra o que eles imaginavam, ou seja, que essa dificuldade das pessoas idosas em fazer várias coisas ao mesmo tempo se deve ao fato de o envelhecimento afetar a memória espacial. Essa memória permite, por exemplo, que um indivíduo saiba que o que está no forno são as batatas e o que está no fogão, o feijão.
No entanto, após analisarem a atividade cerebral no córtex pré-frontal em ratos jovens e mais velhos, os especialistas descobriram que a memória afetada com a idade e que leva a esse problema é a memória de trabalho, ou de curto prazo, que permite o armazenamento temporário e limitado de informações. Essa memória faz com que uma pessoa seja capaz de lembrar que o forno está ligado enquanto assiste televisão, por exemplo.
A pesquisa concluiu, portanto, que o envelhecimento diminui a capacidade de um indivíduo responder aos sinais que indicam qual é a hora de interromper uma atividade e passar para outra, tanto no ambiente doméstico quanto no profissional. Isso acontece, segundo os autores do estudo, porque os neurônios dessa região cerebral dos ratos mais velhos reagem mais lentamente aos estímulos imperativos — ou seja, aos sinais do cérebro que dão a 'dica' sobre o melhor momento de trocar de tarefa — nessas situações, enquanto a resposta dos ratos jovens é imediata.
"O cérebro envelhecido parece se perder durante as transições", diz Mark Laubach, um dos autores do estudo. "Os neurônios de ratos mais velhos mostraram respostas menos intensas às pistas do cérebro do que os animais mais novos, que respondiam imediatamente. Eles pareciam estar parados no tempo", afirma o pesquisador. Agora, os pesquisadores esperam que, ao compreender os mecanismos da memória de trabalho, os cientistas possam um dia ser capazes de retardar ou mesmo de eliminar a deterioração destas funções cerebrais ao longo da vida.

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Pesquisa publicada na última edição do periódico da Academia Brasileira de Neurologia aponta que os cuidadores de pacientes idosos com demência fazem mais uso de medicações psicotrópicas do que aqueles que cuidam de idosos com outros problemas.

O estudo foi conduzido no Distrito Federal, sob a liderança do geriatra Einstein Camargos da Universidade de Brasília, e avaliou por dois meses cuidadores de idosos que eram acompanhados em quatro diferentes unidades de atendimento geriátrico de Brasília: Hospital Universitário de Brasília, Hospital Regional da Asa Norte, Hospital Regional do Guará e Hospital Regional de Taguatinga.

Questionários estruturados foram aplicados a 331 cuidadores de idosos, sendo que 63% destes eram cuidadores de pacientes com demência e os outros 37% formados por cuidadores de pacientes sem demência. O uso de psicotrópicos, incluindo benzodiazepínicos e antidepressivos, foi mais comum entre os que cuidavam de pacientes com demência quando comparado ao outro grupo (18.4% X 7%). Medicações para induzir o sono passaram a ser usadas após o início da função de cuidador mais frequentemente entre aqueles que cuidavam de pacientes com demência do que no outro grupo (11.4% X 4.3%). A maioria dos cuidadores era formada por filhos dos pacientes sem ocupação profissional, mulheres em 80% dos casos.

Pacientes com demência apresentam agitação durante a noite e habitualmente influenciam o sono da casa como um todo. A carga emocional de cuidar de um ente querido e até mesmo a restrição das atividades sociais também contribuem para esse maior uso de psicotrópicos. Estudos demonstram que os cuidadores de pacientes com demência têm hormônios do estresse mais elevados, respostas imunológicas a infecções menos eficientes, apresentam uma maior freqüência de transtornos psiquiátricos como a depressão e piores qualidade de vida e estado de saúde geral. 

A atual pesquisa provoca uma reflexão para que os médicos que assistem a pacientes com demência dêem atenção aos cuidadores e os orientem a ter apoio psicoterápico quando indicado.



Uma alta concentração da proteína beta-amilóide no cérebro influencia o desempenho cognitivo até mesmo de adultos de meia-idade saudáveis. Esse é o principal resultado de uma pesquisa que acaba de ser publicada pela revista Neurology, periódico oficial da Academia Americana de Neurologia. Já é bem reconhecido que a Doença de Alzheimer é caracterizada por um depósito expressivo dessas proteínas no cérebro.

A pesquisa avaliou 137 adultos com idades entre 30 e 89 anos, com alto nível educacional e sem problemas cognitivos. Todos os voluntários foram submetidos a exame de imagem PET scan do cérebro que permite estimar o contingente de depósitos da proteína beta-amilóide. Além disso, teste genético para o gene da apolipoproteína E também foi realizado. A presença do alelo 4 neste exame está associado a uma maior concentração cerebral da proteína beta-amilóide e maior risco da Doença de Alzheimer.

Os resultados mostraram que os indivíduos mais velhos apresentaram uma concentração maior de beta-amilóide e que 20% daqueles com mais de 60 anos apresentavam alta concentração da proteína no cérebro. Essas altas concentrações estavam associadas a um menor desempenho nos testes de memória de trabalho, raciocínio lógico e velocidade de processamento de informação. Esse grupo com alto grau de beta-amilóide apresentava mais freqüentemente o alelo de risco para doença de Alzheimer do que aqueles com pouco depósito de beta-amilóide (38% x 15%).

Novos estudos poderão concluir se esses depósitos de proteínas em cérebros na meia-idade representam um maior risco de desenvolver a Doença de Alzheimer.   Por enquanto, podemos começar ou continuar a fazer aquilo que já sabemos que ajuda a prevenir a doença: atividade física regular, manter o cérebro ocupado e o peso em dia, comer peixe, se possível duas vezes por semana,  e evitar substâncias tóxicas ao cérebro como o cigarro e o excesso de álcool. 

 

A última edição do periódico da Academia Americana de Neurologia traz uma publicação inédita em que pesquisadores americanos demonstraram que adesivos de nicotina promoveram a melhora do desempenho cognitivo de idosos com problemas de memória.  

Alguns pequenos estudos já haviam mostrado que o uso desses adesivos poderiam ser promissores para melhorar a memória e atenção de pacientes com a Doença de Alzheimer.  O presente estudo avaliou o efeito entre idosos com problemas de memória menos severos e que recebem o diagnóstico de transtorno cognitivo leve. Esse é um problema que pode ser considerado uma condição intermediária entre o envelhecimento cerebral normal e a demência.

Setenta e quatro voluntários não fumantes, e com média de idade de 76 anos, foram divididos em dois grupos. A metade recebeu diariamente adesivos de nicotina de 15mg por seis meses, enquanto a outra metade recebeu adesivos do tipo placebo. Testes cognitivos foram aplicados no início do estudo e após três e seis meses.

Ao final dos seis meses, a memória daqueles que usaram nicotina melhorou, enquanto aqueles que usaram placebo tiveram uma piora. Além da memória, a nicotina incrementou a atenção e a velocidade psicomotora. Os adesivos não provocaram efeitos colaterais sérios – a média de perda de peso foi de 2.5 kg, mas a pesquisa não pôde responder se os efeitos positivos da nicotina permanecem no longo prazo. Devemos lembrar que o uso dos adesivos de nicotina só deve ser feito sob indicação de um médico. Começar a fumar então, não precisa nem falar.

A nicotina estimula receptores nicotínicos do neurotransmissor acetilcolina no cérebro. Esses mesmos receptores são cada vez mais deficientes à medida que a Doença de Alzheimer progride.


Pesquisa publicada esta semana aponta que nossas capacidades cognitivas já começam a declinar por volta dos 45 anos. Os resultados foram publicados esta semana no prestigiado periódico British Medical Journal.

O estudo acompanhou de forma prospectiva cerca de sete mil londrinos com idades entre 45 e 70 anos. Cada voluntário foi submetido a exames seriados de memória, raciocínio, linguagem, incluindo testes de vocabulário e fluência semântica e fonêmica. Para análise dos resultados, eles foram divididos pela idade em cinco grupos: 45-49 anos, 50-54 anos, 55-59 anos, 60-64 anos e 65-70 anos.

Todos os testes cognitivos, exceto o de vocabulário, apresentaram declínio com o passar dos anos em todas as faixas etárias, e de forma mais intensa nos indivíduos mais velhos. O achado mais importante da pesquisa foi que nem mesmo o grupo de 45-49 anos foi poupado da redução da capacidade cognitiva. Estudos anteriores apontavam que essa perda não acontecia antes da sexta década de vida.

Não devemos ficar pessimistas com esses resultados, já que temos muita coisa a fazer para minimizar os efeitos do envelhecimento cerebral. Elenco a seguir cinco atitudes que podem fazer a diferença: 1) manter o cérebro sempre ativo; 2) atividade física regular; 3) alimentação saudável, não deixando de incluir na dieta peixes ricos em ômega 3; 4) evitar substâncias neurotóxicas como o cigarro e o excesso de álcool; 5) manter a mente equilibrada e longe da depressão.


 

Fatores psicológicos como fatalismo podem fazer a diferença no risco de uma pessoa vir a desenvolver um derrame cerebral. Essa é a conclusão de um estudo recém-publicado pelo periódico Stroke da Associação Americana de Cardiologia.

Cerca de 700 americanos internados por terem sido acometidos por derrame cerebral foram submetidos a uma entrevista com escalas que avaliam o estado psicológico antes do derrame cerebral, com ênfase no grau de otimismo, fatalismo, espiritualidade e sintomas depressivos.

Os resultados apontaram que um maior componente de fatalismo esteve associado ao risco de morte e à chance de um novo derrame cerebral. A escala que avalia o fatalismo aborda três diferentes dimensões: 1) pré-determinismo – percepção de que a saúde é uma questão de destino e que não há o que fazer para mudar; 2) sorte – tendência a vincular o estado de saúde à sorte; 3) pessimismo – expectativas negativas quanto ao futuro. A mesma associação com mortalidade e chance de recorrência do derrame cerebral foi demonstrada no caso de sintomas depressivos. Além disso, a influência do fatalismo sobre a mortalidade foi maior entre os pacientes que não apresentavam sintomas depressivos.

Esse é o primeiro estudo a associar o componente de fatalismo com o prognóstico de um derrame cerebral. O impacto negativo do fatalismo já havia sido demonstrado em condições como o câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e comportamentos de risco. A hipótese que melhor explica essa relação é uma pior aderência a tratamentos propostos e maior dificuldade em assumir hábitos de vida saudáveis.





A exposição a solventes pode colaborar para o desenvolvimento da Doença de Parkinson (DP) muitos anos depois. Essa é a conclusão de uma pesquisa divulgada esta semana pelo periódico da Associação Americana de Neurologia – Annals of Neurology. Essas substâncias estão presentes em produtos como tintas, colas, produtos de limpeza, combustíveis e lubrificantes, e chegam a contaminar até mesmo os lençóis freáticos.

O estudo avaliou 99 pares de gêmeos americanos em que apenas um dos irmãos apresentava o diagnóstico de DP. O tipo de ocupação profissional e hobbies desses voluntários foram analisados através de questionários já bem validados.  Os resultados mostraram que o grau de exposição ao solvente tricloroetileno (TCE) foi associado a uma maior chance de apresentar a doença. Outros solventes tiveram impacto menor, porém nada desprezíveis.

Já tínhamos evidências menos robustas da associação entre a exposição ao TCE e a DP. Um modelo experimental de DP em camundongos já havia apontado que o TCE é capaz de provocar alterações cerebrais semelhantes às encontradas entre os portadores da doença.  Além disso, casos clínicos isolados também foram relatados descrevendo a ocorrência doença entre indivíduos com altos níveis de exposição ao TCE.

A DP ocorre em uma a cada cem pessoas com mais de 65 anos, e em 90% dos casos, não existe uma história familiar da doença. Reconhece-se que tanto um componente genético, como fatores ambientais estão associados à doença.

Outras substâncias tóxicas ao cérebro podem provocar a DP, como é o caso do MPTP, substância que é parente próxima da heroína, e de alguns agrotóxicos, como o paraquat. Nos últimos anos, temos colecionado evidências de novos candidatos que podem ser deflagradores da DP:

- Foram descritos no ano de 2009 dois novos agrotóxicos (ácido 2,4-dichlorophenoxyacetic, permethrin) que aumentam em três vezes o risco da DP;

- Foi demonstrado que um metabólito da bactéria Streptomyces venezuelae reduz a função do Sistema Proteolítico Ubiquitina – Proteassoma  (UPS) em modelo animal. A redução da função desse sistema tem sido implicada na patogênese da DP esporádica;

- Inoculação intranasal do vírus da gripe aviária (H5N1) em ratos provocou alterações cerebrais semelhantes às encontradas na DP:  inflamação, agregados de a-sinucleína e degeneração de neurônios produtores de dopamina;

* Maiores níveis de colesterol aumentam risco da DP independente do índice de massa corporal. O cérebro é o órgão mais rico em colesterol e uma alteração de sua homeostase pode provocar alterações em suas conexões e membranas celulares.

Esses estudos nos estimulam a pensar a Doença de Parkinson como pensamos várias outras doenças como a hipertensão arterial, o diabetes e a Doença de Alzheimer. Todas são doenças que têm seu componente genético, mas fatores ambientais pode ser o empurrãozinho que faltava para o desenvolvimento da doença.

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