Pedir e esperar que um viciado deixe de comprar para diminuir ou acabar com o tráfico revela um desespero de quem confia mais na força de um fraco dependente do que na força do governo constituído.
Lou Micaldas*
A CULPA É DA VÍTIMA? "- Você teve ou tem um filho viciado? Você tem ou teve pais, avós, ou parentes viciados? Você já teve a oportunidade de ouvir o drama dos pais de filhos viciados? Já chorou pelo suicídio de um amigo ou familiar viciado? Se a sua resposta é não, você não consegue imaginar o sofrimento de quem está passando por tudo isso. Pare de acusar o viciado de ser o culpado pelos altos lucros da venda de drogas ilícitas.
“Pega leve!" Foi o conselho que recebi quando comentei que iria escrever esta carta à sociedade!
Não quero e não posso pegar leve, pois minha palavra tem que pesar mais do que as armas usadas pelo tráfico! Tem que ser mais forte e abrangente do que as granadas que fazem parte do arsenal dos bandidos. Tem que causar mais impacto do que o abalo moral causado pela corrupção, pela extorsão e pelo suborno que levam toda uma sociedade a sofrer de medo e de constrangimento diante da violência ou ameaças graves.
Quero mesmo que o peso das minhas palavras atinja as velhas raposas da política e toda a sociedade, para que acabem com a hipocrisia, com a corrupção e com o custo alto das drogas! O álcool e o tabaco são drogas que matam. Os viciados escolhem e compram seus cigarros livremente, mesmo com as trágicas imagens expostas nos pacotes. Quanto lucro traz ao governo a venda dessas drogas!
Quantos empregos legais em todas as escalas são oferecidos por essas indústrias de drogas "legais"?! Muitas mães são viciadas em barbitúricos, derivados do ópio. Só conseguem dormir sem tomar a pílula de tarja preta.
Muitos pais se socorrem no uísque, na vodca, na cachaça, pra esquecer as angústias do dia-a-dia, pra suportar as ameaças sofridas pelos filhos e filhas dependentes das drogas intituladas ilícitas.
Então, é assim: o álcool, permitido pelos juízes, pode matar nas estradas e nas pracinhas das cidades, o cigarro pode matar de câncer. Somos uma sociedade de drogados legais e ilegais: de produtos que são vendidos nas farmácias, nos supermercados e importadoras e os que são vendidos nas "bocas" e "becos", espalhados por toda cidade, não só nos morros ou nas periferias.
O comércio das drogas ilícitas recruta escancaradamente
batalhões armados de crianças e jovens desesperançados, transformando-os em marginais na busca do dinheiro fácil, do lucro garantido! São meninos aliciados e preparados para começarem de baixo, como olheiros. Contentam-se em poder levar pão e um pouco de comida pra casa, porque sabem que "naquela organização a fome é zero" de verdade, não é promessa. E eles sabem que têm "futuro".
A subida de posto é rápida. Em contrapartida, também sabem que sua vida é curta. Podem morrer por um simples deslize. E eles são testemunhas de que seu "protetor", seu "chefe", morreu aos 20 anos. Outros tantos também foram abatidos antes de alcançarem a maioridade.
Mas eles também são testemunhas de que o irmãozinho morreu de fome, ou de chumbo, ou de overdose. Vale a pena arriscar. Já que a vida vai ser curta, pelo menos, querem aproveitar o melhor.
Compram roupas de grife, tênis importado, até o dia em que tombam mortos ou vão para um Carandiru qualquer.
- Fazer o quê, "broder"? - Melhor enfrentar, "mermão! A lei do tráfico é a lei que impõe "respeito" e que funciona rápido. Não tem burocracia. Não paga imposto. Também não sonega...
Liberem as drogas todas! Quem vai comprá-las sabe o que está comprando. Vai porque quer, porque ficou dependente dela.
Pedir e esperar que um viciado deixe de comprar para diminuir ou acabar com o tráfico, pode ser um desespero de quem confia mais na força de um fraco dependente, do que na força do governo constituído. Mas pode ser também uma forma simplista de encontrar um responsável. Ou talvez o pior: revelar uma forma perversa de empurrar com a barriga (cheia) e o bolso (cheio) esta conversa fiada, protelando a solução. Quem vai querer secar a fonte do dinheiro farto e rápido?
Acredito na boa fé daqueles que têm a esperança de que, se todos os viciados se unissem e fizessem greve, o tráfico entraria em falência. São os inocentes úteis aos abutres, que fingem combater, que prendem de mentirinha, com o fim de extorquir mais e de valorizar o produto.
Liberem as drogas e cobrem altos impostos. Que elas sejam vendidas em qualquer boteco, supermercado, farmácias e drogarias, assim como as bebidas e os cigarros e os soníferos.
Com a vultosa arrecadação de impostos, invistam na recuperação e na saúde dos dependentes das drogas.
Invistam na educação de crianças, que antes de aprenderem a segurar um lápis, já sabem como utilizar armas pesadas, com seus braços magros que mal as aguentam. Aumentem a remuneração e a dignidade das polícias.
Com a droga legalizada, o tráfico de entorpecentes, perderia uma das mais lucrativas fontes de achaque. Seria o fim do comércio e o início de uma vida melhor pra todos.
Como aconteceu com o fim da "Lei Seca".
Recolham e apliquem, honestamente, os impostos de todas as drogas legalizadas, reduzindo os impostos dos remédios. Apliquem na melhoria de vida dos idosos, diminuindo seus impostos e aumentando seus proventos, suas pensões. Apliquem a arrecadação dos impostos nas estradas, nos meios de transportes, no turismo, na agricultura, na criação de empregos. Em creches.
Quanto arrecadaria o INSS com a contribuição de empregados com carteira assinada, na indústria legal das drogas? Quantas novas empresas seriam reabertas, com o fim da insegurança dos assaltos e sequestros, motivados pela busca desenfreada de dinheiro para compra de armas e munições pra abastecer o crime organizado? Nem será necessário fazer campanhas demagógicas, paternalistas!
Quantos políticos se elegem à custa de discursos hipócritas, enquanto estão associados a marginais traficantes? Quantos foram presos? Quantos já foram soltos? Não podemos continuar passivos nesse circo, onde somos os palhaços, mas pensamos que somos plateia.
Por que aplaudimos com nossos votos aqueles que nos iludem e nos roubam?
O que se vê nos jornais é o governo barganhando o salário mínimo, aumentando os impostos, propondo um aumento menor para os aposentados, cujo imposto já vem confiscado na fonte.
Políticos, policiais, ministros, juízes faturam com a contravenção e, depois, fingem que se espantam quando aparece a "vovó do pó"! Os candidatos, em época de campanha eleitoral, prometem o que não podem cumprir: "segurança pública, saúde e educação". Eles já estão "carecas" de saber que a repressão leva à contravenção, encarece a droga e enriquece os que assumem o comando.
Acabaram-se os inocentes! Eles fingem tomar "atitudes severas", prometem "aplicar a lei quando se fizer necessária", mas não se movem. Por quê?
Acabaram-se os inocentes! Sobramos nós, uma sociedade amedrontada, anestesiada, inerte. Todos nós sabemos disto. As fitas gravadas e as imagens invadem as nossas casas e nos roubam a confiança naqueles em quem votamos.
Todos têm algo a dizer, mas "pegam leve". Não se comprometem, não se mobilizam pra acabar com este inferno que invade os próprios lares, que tiram nosso sono. São quase 4 horas da manhã e eu resolvi me levantar da cama, dos lençóis macios e vim "pegar pesado".
Faça isso você também! Abra bem os olhos e a boca! Vamos proteger nossas crianças, jovens e velhos; vamos socorrer os viciados contra a falsa moralidade, contra a omissão. É de socorro que eles precisam.
Vamos cobrar das autoridades uma atitude honesta, rápida e verdadeira: legalizar a venda das drogas. Torná-la lucrativa em benefício da sociedade em geral, e não aos bolsos dos corruptos.
Quantos juízes estão nas mãos dos traficantes? Quantos têm filhos e filhas dependentes e não podem cumprir a lei que os beneficiariam, porque também são vítimas de ameaças? Basta!
Basta de se vestir de branco e de sair pelas ruas carregando faixas, com a inscrição "Basta!"
Conheço mães e pais que me escrevem porque são chantageados por terem filhos viciados. Não há dinheiro que baste para saciar a cobrança dos que lucram com esse comércio ilegal. Entre eles, a polícia que bate na porta ou telefona pra um pai desesperado e pergunta: "- Você quer que seu filho apareça morto na sarjeta? Não? Então trate de me dar o meu."
Vamos tratar das nossas vítimas do tráfico como doentes, e não como culpados.
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