Quem são os médicos que, com a ajuda de novos recursos, como o resfriamento corporal, estão fazendo subir os índices de sobrevivência de pessoas que sofreram parada cardíaca - mesmo uma hora depois de o coração ter parado de bater
Cilene Pereira
PROTEÇÃO INTEGRAL
No serviço dirigido por Timerman, no InCor (SP), o paciente também é ajudado por
equipamentos que auxiliam depois da parada cardíaca. O médico luta para que
mais desfibriladores (aparelho que aparece na foto) estejam disponíveis no País
No serviço dirigido por Timerman, no InCor (SP), o paciente também é ajudado por
equipamentos que auxiliam depois da parada cardíaca. O médico luta para que
mais desfibriladores (aparelho que aparece na foto) estejam disponíveis no País
Nos serviços dirigidos pelo médico inglês
Sam Parnia, nos Estados Unidos, e por seu colega brasileiro Sérgio
Timerman, no Brasil, a chance de morrer de uma parada cardíaca é
significativamente menor do que na maioria dos outros hospitais do
mundo. Parnia chefia a UTI do hospital da Stony Brook University, em
Nova York. Timerman comanda o laboratório de pesquisa e treinamento em
emergência do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo.
No centro liderado por Parnia, 33% dos
pacientes vitimados por uma parada cardíaca sobrevivem. Só para se ter
uma ideia, a média nos outros hospitais americanos é de 16% de
sobrevivência. No InCor, a taxa de indivíduos que sobrevivem é de 30%.
Os dois centros reúnem o que há de mais moderno para ressuscitar
pacientes mesmo após seus corações terem parado de bater por uma hora.
São exemplos dos avanços obtidos pela medicina nessa área, progressos
que, juntos, compõem uma espécie de ciência da ressuscitação. Usados de
forma correta, seus recursos estão sendo responsáveis por trazer de
volta à vida um número recorde de pessoas. No hospital vinculado à
Universidade da Pensilvânia (EUA), por exemplo, em 1999 apenas 9% dos
pacientes com parada cardíaca sobreviveram. Em 2010, o índice saltou
para 38%.
Na última semana, os cardiologistas
brasileiros foram informados das recomendações mais recentes sobre o
tema, divulgadas durante o encontro da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, realizado no Rio de Janeiro. As diretrizes contemplam
conceitos novos, como o de compressões torácicas de alta qualidade
(feitas de forma que o coração volte a apresentar pelo menos 100
batimentos por minuto) e a abolição da respiração boca a boca feita por
leigos – estes dois procedimentos ainda na etapa de ressuscitação
cardiopulmonar. Elas também enfatizam a importância dos tratamentos a
serem aplicados depois, já no hospital. “Esse cuidado pós-ressuscitação é
a grande novidade atualmente”, explica o cardiologista Timerman.
O especialista se refere à aplicação de
três recursos: a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO, em
inglês), a hipotermia e o tratamento da causa que levou à parada
imediatamente após a volta dos batimentos. O primeiro se baseia no uso
de um aparelho que promove a oxigenação contínua do sangue do paciente,
medida que assegura o fornecimento de oxigênio às células. A segunda
técnica tem como objetivo preservar as células nervosas, usando para
isso o resfriamento da temperatura do corpo. Somadas às manobras da
ressuscitação cardiopulmonar (compressões torácicas, respiração boca a
boca feita por pessoas treinadas e uso de desfibrilador), estas duas
etapas compõem o que hoje é chamado de ressuscitação cardiocerebral (o
foco é manter o funcionamento do coração e também do cérebro). O último
passo é acabar com o que motivou o colapso cardíaco.
Os benefícios gerados a partir da aplicação de recursos como esses se estendem também às crianças. Um estudo realizado pela Universidade de Iowa (EUA) revelou que aquelas que estão hospitalizadas e que vierem a sofrer uma parada cardíaca têm hoje três vezes mais chances de sobreviver do que há três décadas, e com menos riscos de apresentarem sequelas neurológicas. Depois de analisarem casos de 1.031 crianças que sofreram parada em 12 hospitais, os cientistas constataram que, em 2009, 43% delas tiveram alta. Em 2000, apenas 14% deixaram o hospital com vida. “Vários fatores contribuem para esse avanço, como o melhor reconhecimento de uma parada cardíaca por meio da leitura de aparelhos de monitoramento, melhor qualidade das compressões torácicas e o uso de desfibrilador”, disse à ISTOÉ Saket Girotra, líder da pesquisa.
Os benefícios gerados a partir da aplicação de recursos como esses se estendem também às crianças. Um estudo realizado pela Universidade de Iowa (EUA) revelou que aquelas que estão hospitalizadas e que vierem a sofrer uma parada cardíaca têm hoje três vezes mais chances de sobreviver do que há três décadas, e com menos riscos de apresentarem sequelas neurológicas. Depois de analisarem casos de 1.031 crianças que sofreram parada em 12 hospitais, os cientistas constataram que, em 2009, 43% delas tiveram alta. Em 2000, apenas 14% deixaram o hospital com vida. “Vários fatores contribuem para esse avanço, como o melhor reconhecimento de uma parada cardíaca por meio da leitura de aparelhos de monitoramento, melhor qualidade das compressões torácicas e o uso de desfibrilador”, disse à ISTOÉ Saket Girotra, líder da pesquisa.
Os especialistas querem ampliar essas
vitórias. No Brasil, uma das lutas de Timerman é aumentar a
disponibilidade de desfibriladores. A experiência por ele comandada no
Metrô paulistano prova que isso dá bons resultados. Há cinco anos, todas
as estações dispõem de um desses aparelhos. De cada dez pessoas que
sofrem parada cardíaca em uma delas, quatro se salvam. No Brasil, de
forma geral, de cada dez indivíduos nessa condição, somente um
sobrevive.
Na Universidade da Pensilvânia, os médicos estudam formas de aumentar o uso da ECMO e da hipotermia. “A teoria por trás da ECMO é a de que o coração pode descansar e a causa da parada, revertida. E a aplicação desse recurso deve começar o mais rápido possível”, disse à ISTOÉ David Gaieski, pesquisador do assunto naquela instituição. Seu colega, Mark Mikkelsen, é autor de um levantamento no qual verificou que o resfriamento corporal vem sendo pouco utilizado. “Mas isso pode ser mudado, começando pela educação dos profissionais”, afirmou à ISTOÉ.
Na Universidade da Pensilvânia, os médicos estudam formas de aumentar o uso da ECMO e da hipotermia. “A teoria por trás da ECMO é a de que o coração pode descansar e a causa da parada, revertida. E a aplicação desse recurso deve começar o mais rápido possível”, disse à ISTOÉ David Gaieski, pesquisador do assunto naquela instituição. Seu colega, Mark Mikkelsen, é autor de um levantamento no qual verificou que o resfriamento corporal vem sendo pouco utilizado. “Mas isso pode ser mudado, começando pela educação dos profissionais”, afirmou à ISTOÉ.
Esforços como esses levam médicos como Sam
Parnia a pensar que, no futuro, a definição de morte poderá ser
diferente da atual. “Os avanços na ciência da ressuscitação começam a
desafiar nossa percepção do que é vida e do que é morte e do que é
possível”, disse à ISTOÉ. “Pode ser que dentro de alguns anos tenhamos
que redefinir os critérios pelos quais consideramos as pessoas mortas.”
foto: Kelsen Fernandes/ag. istoé
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