10.19.2013

Manifestantes contra pesquisa com animais fecham Raposo Tavares e entram em confronto com a polícia

  •  Carros da polícia e da imprensa foram incendiados durante o protesto Foto: Eliaria Andrade / Agência O Globo
  • Pelos menos dois carros da imprensa e um da polícia foram incendiados por um grupo de mascarados
  • Duas pessoas foram detidas por dano ao patrimônio público

Tatiana Farah


Manifestantes colocaram fogo em um veículo na rodovia Raposo Tavares Foto: Aline Miriah/ divulgação

Manifestantes colocaram fogo em um veículo na rodovia Raposo Tavares Aline Miriah/ divulgação
SÃO PAULO - Cerca de 500 pessoas fecharam neste sábado o km 56 da rodovia Raposo Tavares em protesto contra o uso de animais em pesquisas. Após quatro horas de protesto, a Tropa de Choque da Polícia Militar disparou tiros de borracha e usou bombas de efeito moral para liberar a rodovia, o que aconteceu por volta das 14h. Dois carros TV TEM, afiliada da Rede Globo, e um da polícia foram incendiados por vândalos mascarados e seis pessoas ficaram feridas. A manifestação aconteceu no entroncamento que dá acesso ao Instituto Royal, em São Roque (SP). Quatro pessoas foram detidas e deverão responder por dano ao patrimônio público.
Na madrugada de sexta-feira, um grupo de pelo menos cem ativistas invadiu o instituto e levou 178 cães da raça beagle. Eles acusam a instituição de praticar maus-tratos contra cães, coelhos e ratos.
A polícia posicionou os manifestantes no acesso da rodovia Raposo Tavares ao centro de pesquisas. O trânsito foi desviado para a rodovia Castelo Branco, o que acabou reduzindo o congestionamento no local. Segundo o tenente da PM, Mario Machado Júnior, havia um acordo com a coordenação do protesto para que a cada 25 minutos de bloqueio da rodovia ela fosse reaberta durante 10 minutos, mas que não foi cumprido.
Manifestantes chegaram de várias partes do país, alguns deles, com rostos cobertos e com máscaras. Quando um grupo partiu para forçar a barreira policial e entrar na área restrita, começou o confronto. Policiais Militares da Tropa de Choque jogaram bombas de efeito moral e usaram gás de pimenta para conter os manifestantes. Muitos correram para a rodovia. Mascarados depredaram viaturas da imprensa e da polícia e ccolocaram galhos na estrada para interditar para o tráfego de veículos.
O advogado Carlos Henrique Marino participou pela primeira vez de uma manifestação. Ele saiu de São Paulo hoje pela manhã com a mulher, Renata, e a cadela beagle Mel, de 11 anos.
- Dou total apoio a eles (os defensores dos animais). Achei totalmente correta essa intervenção. Os animais não foram tomados, mas resgatados pelos ativistas - disse ele.
Ontem, o juiz Fabio Calheiros do Nascimento, da 1ª Vara Cível de São Roque, concedeu uma liminar aos proprietários do Instituto Royal, para garantir a integridade do prédio contra nova invasão. Segundo o site G1, para que se cumpra a liminar, a Polícia Militar deve ser acionada para manter a ordem no local.
Segundo a polícia, os ativistas que invadiram o instituto vão responder por furto qualificado. Os representantes da Frente Antivivisseccionista do Brasil também registraram boletim de ocorrência de maus tratos e abusos praticados contra os animais pelo instituto. A entidade afirma ter recebido denúncia de que cães e camundongos foram sacrificados e colocados no porão. Na quinta-feira, os ativistas ouviram ganidos de cães, que teriam sido submetidos vivos à dissecação para pesquisa. Os ativistas informaram que os ganidos, que indicam sofrimento dos animais, são ouvidos quatro vezes por dia. Afirmaram ainda que o ato fugiu do controle e que pessoas não ligadas ao movimento também entraram na sede do Instituto.
Defensora dos animais há 15 anos, Giuliana Stefanini é uma das líderes do grupo, que também contou com a participação da apresentadora e ativista Luísa Mell. Segundo Giuliana, o grupo investigava o laboratório há cerca de um ano e meio com a ajuda de um funcionário do próprio instituto.
- Uma pessoa de lá, que mantém o anonimato, é quem passava tudo para gente. Durante a tarde de quinta-feira fomos informados que eles mataram 12 Beagles. Do lado de fora, escutamos gritos horrorosos das cadelas, todos nós choramos, inclusive quem não era ativista, como o nosso advogado. Mataram todos os camundongos também. Eles iam matar todos os outros e, por isso, antecipamos nossa invasão. Foi tudo pacífico, só queríamos resgatar os animais - contou.
A pesquisa de medicamentos em animais é permitida por lei no Brasil, mas existe protocolo a ser seguido. Segundo o promotor Wilson Velasco Júnior, do Ministério Público Estadual em São Roque, o Instituto Royal era investigado desde o fim do ano passado, após denúncias de abusos contra os animais.
Segundo ele, apesar de as pesquisas serem legais, é preciso que os laboratórios sigam um protocolo, para que não imponham sofrimento desnecessário aos animais.
- Um animal só pode ser usado uma vez. É preciso que haja intervalo entre os procedimentos e eles devem ser anestesiados, para que não sintam dor - afirmou.
Segundo ele, quando se afirma que não houve maus-tratos aos cães significa apenas que eles não passaram fome, não foram espancados e não estavam sem contato com a luz do sol.
- O inquérito civil aberto para apurar a ação do Instituto Royal apura mais que isso. Investigamos se os protocolos de pesquisa estavam sendo seguidos. Pedi e recebi laudos de veterinários e biólogos, mas ainda não analisei o conteúdo. Agora, minha investigação foi prejudicada. As provas, que são os cães, foram levadas - reclamou.
O promotor afirmou que o Ministério Público do Estado já se posicionou contra a lei que permite o uso de animais em pesquisas. A diretora do Instituto Royal, Silvia Ortiz, disse ao Jornal Hoje, da TV Globo, que segue todos os procedimentos estipulados pela Anvisa. A empresa classificou o ato como terrorismo.
- Estamos muito chateados, pois fazemos um trabalho sério por mais de dez anos.

Nenhum comentário: