Responsável pela descoberta de 108
espécies, Estação Científica Ferreira Penna, no Pará, completa 20 anos
como a maior especialista na floresta
Ana Carolina Nunes
A cidade de Melgaço, no Pará,
recentemente ficou conhecida no País por “conquistar” a última posição
no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Mas a
cidade mais pobre do País, em que metade da população de 24 mil
habitantes é analfabeta, abriga um valioso tesouro, de fama
internacional, pelo menos na área da ciência e do meio ambiente. É a
Estação Científica Ferreira Penna, que fica isolada no meio dos 330 mil
hectares da Floresta Nacional do Caxiuanã, unidade de conservação
nacional que integra a Amazônia Legal.
Estar fora do GPS é justamente um de seus maiores valores. Sua
localização possibilita aos pesquisadores que enfrentam 16 horas de
barco desde Belém usufruir de um verdadeiro laboratório natural e
preservado. O trabalho de campo desenvolvido por mais de mil estudiosos
que já passaram pela Estação entregou à ciência 108 novas espécies de
fauna e flora e rendeu cerca de mil publicações científicas, incluindo
dissertações de mestrado e teses de doutorado, conferindo à Estação o
status internacional de referência em literatura amazônica.
Ter como escritório parte da maior floresta tropical do mundo e um
dos mais ricos biomas do planeta garante amplas possibilidades nas mais
diversas áreas de pesquisa, inclusive de ciências humanas. “Mais de 100
projetos científicos foram ou estão em desenvolvimento aqui, nas áreas
de botânica, zoologia, arqueologia, ciências da terra e ciências
humanas”, conta a coordenadora da Estação Científica, Maria das Graças
Ferraz Bezerra.
Apesar do isolamento geográfico, a Estação Científica Ferreira Penna
possui cerca de 500 vizinhos que habitam o entorno. Uma parte delas atua
prestando serviços na própria Estação. Outros participam dos projetos
para a exploração de atividades econômicas ambientalmente sustentáveis,
os chamados bionegócios, como atividades com as castanheiras ou no
desenvolvimento de biojoias, bioinseticidas e biocosméticos. São opções
para que a comunidade não se renda à extração madeireira. “A floresta
deve ser valorizada e economicamente trabalhada, desde que em pé”,
explica Graça.
A Estação hospeda atualmente três grandes projetos de monitoramento e
conservação do ambiente florestal, como o estudo da seca na floresta,
pesquisa da biodiversidade do bioma da Amazônia e avaliação da dinâmica
florestal incluindo a relação dela com as mudanças climáticas.
A história da Estação Científica começou no fim do século 19, quando o
então diretor do Museu Paraense, o zoólogo suíço Emilio Goeldi, que
posteriormente emprestou seu nome à instituição, buscava uma área
preservada na Amazônia destinada a pesquisas e estudos científicos. Mas
só quase cem anos depois, em 1993, a Estação foi inaugurada, após a
cessão das terras pelo Ibama e o investimento do governo britânico,
financiador da obra de US$ 2,7 milhões. Hoje a administração da Estação é
de responsabilidade do Museu Paraense Emilio Goeldi, unidade de
pesquisa do Ministério de Tecnologia, Ciência e Inovação, em parceria
com o Instituto Chico Mendes (ICMBio), autarquia do Ministério do Meio
Ambiente responsável pela Flo resta Nacional do Caxuanã.
No aniversário de 20 anos da Estação, foi realizado o seminário
‘Biodiversidade, Inovação e Sustentabilidade-Amazônia e Reino Unido,
experiências e oportunidade’, mostrando aos britânicos que eles tiveram
um dos melhores retornos sobre o investimento que um financiador pode
ter. É para inglês ver, se orgulhar e replicar.
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