6.17.2014

Analistas se "surpreendem" com investimento produtivo no Brasil

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Os analistas econômicos brasileiros precisam de algumas sessões de análise para superar uma complexada visão sobre a atração que o Brasil oferece aos investimentos estrangeiros diretos (IED). Ouvidos pela imprensa, alguns justificam o ritmo forte de ingresso de capital no País à elevada liquidez da economia mundial. Afirmam, sem cerimônia e com embasamentos fracos, que a crise na Rússia fez o dinheiro dar meia volta e vir para o País, como se a decisão dos investidores fosse adotada num simples piscar de olhos, sem passar pelas áreas de planejamento estratégico das organizações. Após um erro atrás do outro, constata-se que o País vai repetir este ano o volume de R$ 65 bilhões em IED que recebe, em média, desde 2011.
De 2003 até o final de 2014 – confirmando a previsão do governo da presidenta Dilma Rousseff de receber US$ 65 bilhões -, o volume de IED representará nesse período a entrada de US$ 477,2 bilhões, dinheiro esse que seguiu para investimentos produtivos e não para a especulação. De 2003 até 2010, período que compreende os dois mandatos do ex-presidente Lula, o volume de IED foi de US$ 216,24 bilhões. No período  de 1995 a 2002, relativo aos dois mandatos do PSDB, o País recebeu US$ 163,6 bilhões.
O IED é diferente dos outros moldes de investimento, notadamente os feitos em papéis ou nas bolsas de valores, que buscam ganho rápido, especulativo – e podem sair do país na mesma velocidade com que entraram. O IED é aplicado em projetos de produção industrial, comércio e serviços. De médio a longo prazo de retorno, gera riqueza e criação de postos de trabalho.
Com o resgate dos fundamentos da economia a partir do governo de Lula – inflação sob controle, juros em queda, respeito aos contratos e incentivo à produção e a inclusão social, sem contar no esforço para reduzir a dívida líquida, manter superávits primários, aumentar as reservas cambiais e fortalecer e abrir novos mercados externos para produtos nacionais -, o Brasil se apresentou ao mundo como lugar necessário para os investimentos, daí o volume ter sido crescente ano após ano. Mas os analistas que escolhidos a dedo pelo oligopólio de mídia no Brasil não enxergam esses fundamentos – ou, o que é pior, não querem enxergar.
“A crise (global) não afetou a entrada de IED e esse patamar se mantém. O Brasil é considerado como destino certo de recursos em todo o mundo”, observou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em recente palestra. Curiosamente hoje, em entrevista para o jornal Valor Econômico, o economista-chefe do Deutsche Bank no Brasil, José Carlos de Farias, faz sua análise. De acordo com o texto, Farias diz que muitas empresas reconhecem que as perspectivas econômicas para o Brasil não são das melhores, “mas optam por investir no País porque estão sentadas em uma pilha de dinheiro e simplesmente não sabem o que fazer com ele”.
Tal declaração, profunda como um pires, poderia suscitar o questionamento se teria sido essa avaliação - “estão sentadas em uma pilha de dinheiro e simplesmente não sabem o que fazer com ele” – que fez a área de planejamento estratégico da BMW decidir construir uma fábrica de automóveis em Santa Catarina, e não pelo fato de que a nova classe média pode adquirir um veículo dessa marca.
Tudo indica, pelas declarações desses analistas, que muitos estão de olhos vendados. Aqueles que foram até a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) na última sexta-feira (6), em São Paulo, e assistiram apresentação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, notaram que realmente o Brasil está em outro patamar, exibindo fundamentos sólidos. Esses sim, que motivam e justificam o ritmo forte de ingresso de investimento estrangeiro direto no País.
Logo na primeira página de sua apresentação, percebe-se que o PIB acumulado de 2007 a 2013 é de 19,7%, ou seja, a riqueza do País deu um salto maior que muitas nações desenvolvidas, inclusive no período da crise global iniciada em 2008. Nesse período observado, o PIB dos Estados Unidos cresceu 5,9%, o da Alemanha 4,2% e o da França, 0,7%. Espanha e Itália viram a economia cair 5,9% e 8,5%, respectivamente.
As reservas internacionais, que demonstram a solidez da economia brasileira, estão em US$ 379,1 bilhões. Correspondiam, em 2003, no final do governo FHC tão incensado pelos mesmos “analistas”, a US$ 28 bilhões, quantia que continha parcela dos empréstimos tomados junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) sucessivamente após 1995. Em 2004, o governo Lula quitou a dívida com o FMI e hoje – os analistas e a mídia sempre esquecem esse detalhe – o Brasil é credor do fundo.
A dívida externa total do País é de US$ 318,8 bilhões, sendo que a de curto prazo corresponde a 11,6% desse valor. É um dos menores índices em relação a outros países. A dívida externa de curto prazo da Alemanha corresponde a 37% da dívida total; a dos Estados Unidos, 35%, a da França a 40,9%, a do Reino Unido está em 75,3%, a do Japão em 76,9% e de Hong Kong em 89,5%.
Outro dado relevante diz respeito à aceleração do investimento. No período de 1995 a 2002, a média do investimento era de 1%, subindo para 6% ao ano no período de 2003 a 2014. Observando a produção industrial dos países do G-20, o Brasil tem um percentual de crescimento de 2,3% relativo a 2013, quinto melhor resultado. Está á frente de países como a África do Sul (1,4%), Índia (0,6%), Rússia (0,4%), Coréia (0,3%) e Alemanha (0,1%). A produção industrial foi negativa na França (-0,5%), no Japão (-0,7%), no México (-0,7%), na Zona do Euro (-0,8%), na Espanha (-1,6%) e Itália (-3,1%).
A agricultura brasileira, que recebe investimentos vultosos, contribuiu com 7,3% no desempenho do PIB em 2013. A agricultura norte-americana contribuiu com 16,4% para a economia, mas em alguns países o desempenho foi negativo, como se viu na Alemanha (-0,9%), na França (-2,6%), Rússia (-3,8%) e Reino Unido (-4,1%).
Na área de crédito, o crescimento das operações foi de 30% do PIB no período de 2003 a 2014. Só em desembolsos do BNDES, por exemplo, os investimentos que eram de R$ 37,4 bilhões em 2002 vão totalizar R$ 190,4  bilhões apenas neste ano. Estamos falando do crescimento do volume em dinheiro disponível para o setor produtivo por meio de repasses do BNDES, que cresceu 409,1% entre o que se empresava em 2002 e o que se empresta hoje. Isso é fundamento econômico. De 2003 até 2014 a geração de novos empregos deverá atingir a marca de 20,3 milhões.
De 2008, quando eclodiu a crise global até 2014, enquanto diversos países demitiam seus trabalhadores, o Brasil gerou 11 milhões de novos postos de trabalho. Apenas na indústria foram 2,86 milhões de empregos criados. Diante desses números que os analistas não enxergam, outro dado relevante diz respeito à fotografia da composição das classes sociais no Brasil.
Em 2003 o País tinha 175 milhões de habitantes, sendo que 13 milhões ocupavam o topo da pirâmide nas classes A/B; 66 milhões de pessoas faziam parte da classe C e um exército de pobres, equivalente a 96 milhões, compunham as classes D/E. Mas a distribuição de renda, a valorização do salário mínimo, o aumento da renda das famílias e a geração de empregos, além das políticas públicas inclusivas, a pirâmide mudou – e muito. Hoje o Brasil tem 196 milhões de habitantes, sendo que 29 milhões estão nas classes A/B. Na classe C são 118 milhões de habitantes, 60% da população e 49 milhões ainda se encontram nas classes D/E.
Mas é por pouco tempo, porque a mudança iniciada a do governo Lula e mantida com a presidenta Dilma tem por objetivo combater a pobreza e a miséria. Nada de voltar atrás, porque o número de habitantes nas classes D/E caiu praticamente pela metade do que se tinha no governo tucano. Hoje, por mais que os analistas não enxerguem, o pobre de ontem sobe de classe social, consome mais porque tem poder de compra, ou seja, tem dinheiro, até para adquirir um BMW.
Marcello Antunes

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