Seg, 09 de Junho de 2014 15:24
Os
analistas econômicos brasileiros precisam de algumas sessões de análise
para superar uma complexada visão sobre a atração que o Brasil oferece
aos investimentos estrangeiros diretos (IED). Ouvidos pela imprensa,
alguns justificam o ritmo forte de ingresso de capital no País à elevada
liquidez da economia mundial. Afirmam, sem cerimônia e com embasamentos
fracos, que a crise na Rússia fez o dinheiro dar meia volta e vir para o
País, como se a decisão dos investidores fosse adotada num simples
piscar de olhos, sem passar pelas áreas de planejamento estratégico das
organizações. Após um erro atrás do outro, constata-se que o País vai
repetir este ano o volume de R$ 65 bilhões em IED que recebe, em média,
desde 2011.
De
2003 até o final de 2014 – confirmando a previsão do governo da
presidenta Dilma Rousseff de receber US$ 65 bilhões -, o volume de IED
representará nesse período a entrada de US$ 477,2 bilhões, dinheiro esse
que seguiu para investimentos produtivos e não para a especulação. De
2003 até 2010, período que compreende os dois mandatos do ex-presidente
Lula, o volume de IED foi de US$ 216,24 bilhões. No período de 1995 a
2002, relativo aos dois mandatos do PSDB, o País recebeu US$ 163,6
bilhões.
O
IED é diferente dos outros moldes de investimento, notadamente os
feitos em papéis ou nas bolsas de valores, que buscam ganho rápido,
especulativo – e podem sair do país na mesma velocidade com que
entraram. O IED é aplicado em projetos de produção industrial, comércio e
serviços. De médio a longo prazo de retorno, gera riqueza e criação de
postos de trabalho.
Com
o resgate dos fundamentos da economia a partir do governo de Lula –
inflação sob controle, juros em queda, respeito aos contratos e
incentivo à produção e a inclusão social, sem contar no esforço para
reduzir a dívida líquida, manter superávits primários, aumentar as
reservas cambiais e fortalecer e abrir novos mercados externos para
produtos nacionais -, o Brasil se apresentou ao mundo como lugar
necessário para os investimentos, daí o volume ter sido crescente ano
após ano. Mas os analistas que escolhidos a dedo pelo oligopólio de
mídia no Brasil não enxergam esses fundamentos – ou, o que é pior, não
querem enxergar.
“A
crise (global) não afetou a entrada de IED e esse patamar se mantém. O
Brasil é considerado como destino certo de recursos em todo o mundo”,
observou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em recente palestra.
Curiosamente hoje, em entrevista para o jornal Valor Econômico, o
economista-chefe do Deutsche Bank no Brasil, José Carlos de Farias, faz
sua análise. De acordo com o texto, Farias diz que muitas empresas
reconhecem que as perspectivas econômicas para o Brasil não são das
melhores, “mas optam por investir no País porque estão sentadas em uma
pilha de dinheiro e simplesmente não sabem o que fazer com ele”.
Tal
declaração, profunda como um pires, poderia suscitar o questionamento
se teria sido essa avaliação - “estão sentadas em uma pilha de dinheiro e
simplesmente não sabem o que fazer com ele” – que fez a área de
planejamento estratégico da BMW decidir construir uma fábrica de
automóveis em Santa Catarina, e não pelo fato de que a nova classe média
pode adquirir um veículo dessa marca.
Tudo
indica, pelas declarações desses analistas, que muitos estão de olhos
vendados. Aqueles que foram até a Federação Brasileira de Bancos
(Febraban) na última sexta-feira (6), em São Paulo, e assistiram
apresentação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo
Rogério Caffarelli, notaram que realmente o Brasil está em outro
patamar, exibindo fundamentos sólidos. Esses sim, que motivam e
justificam o ritmo forte de ingresso de investimento estrangeiro direto
no País.
Logo
na primeira página de sua apresentação, percebe-se que o PIB acumulado
de 2007 a 2013 é de 19,7%, ou seja, a riqueza do País deu um salto maior
que muitas nações desenvolvidas, inclusive no período da crise global
iniciada em 2008. Nesse período observado, o PIB dos Estados Unidos
cresceu 5,9%, o da Alemanha 4,2% e o da França, 0,7%. Espanha e Itália
viram a economia cair 5,9% e 8,5%, respectivamente.
As
reservas internacionais, que demonstram a solidez da economia
brasileira, estão em US$ 379,1 bilhões. Correspondiam, em 2003, no final
do governo FHC tão incensado pelos mesmos “analistas”, a US$ 28
bilhões, quantia que continha parcela dos empréstimos tomados junto ao
Fundo Monetário Internacional (FMI) sucessivamente após 1995. Em 2004, o
governo Lula quitou a dívida com o FMI e hoje – os analistas e a mídia
sempre esquecem esse detalhe – o Brasil é credor do fundo.
A
dívida externa total do País é de US$ 318,8 bilhões, sendo que a de
curto prazo corresponde a 11,6% desse valor. É um dos menores índices em
relação a outros países. A dívida externa de curto prazo da Alemanha
corresponde a 37% da dívida total; a dos Estados Unidos, 35%, a da
França a 40,9%, a do Reino Unido está em 75,3%, a do Japão em 76,9% e de
Hong Kong em 89,5%.
Outro
dado relevante diz respeito à aceleração do investimento. No período de
1995 a 2002, a média do investimento era de 1%, subindo para 6% ao ano
no período de 2003 a 2014. Observando a produção industrial dos países
do G-20, o Brasil tem um percentual de crescimento de 2,3% relativo a
2013, quinto melhor resultado. Está á frente de países como a África do
Sul (1,4%), Índia (0,6%), Rússia (0,4%), Coréia (0,3%) e Alemanha
(0,1%). A produção industrial foi negativa na França (-0,5%), no Japão
(-0,7%), no México (-0,7%), na Zona do Euro (-0,8%), na Espanha (-1,6%) e
Itália (-3,1%).
A
agricultura brasileira, que recebe investimentos vultosos, contribuiu
com 7,3% no desempenho do PIB em 2013. A agricultura norte-americana
contribuiu com 16,4% para a economia, mas em alguns países o desempenho
foi negativo, como se viu na Alemanha (-0,9%), na França (-2,6%), Rússia
(-3,8%) e Reino Unido (-4,1%).
Na
área de crédito, o crescimento das operações foi de 30% do PIB no
período de 2003 a 2014. Só em desembolsos do BNDES, por exemplo, os
investimentos que eram de R$ 37,4 bilhões em 2002 vão totalizar R$ 190,4
bilhões apenas neste ano. Estamos falando do crescimento do volume em
dinheiro disponível para o setor produtivo por meio de repasses do
BNDES, que cresceu 409,1% entre o que se empresava em 2002 e o que se
empresta hoje. Isso é fundamento econômico. De 2003 até 2014 a geração
de novos empregos deverá atingir a marca de 20,3 milhões.
De
2008, quando eclodiu a crise global até 2014, enquanto diversos países
demitiam seus trabalhadores, o Brasil gerou 11 milhões de novos postos
de trabalho. Apenas na indústria foram 2,86 milhões de empregos criados.
Diante desses números que os analistas não enxergam, outro dado
relevante diz respeito à fotografia da composição das classes sociais no
Brasil.
Em
2003 o País tinha 175 milhões de habitantes, sendo que 13 milhões
ocupavam o topo da pirâmide nas classes A/B; 66 milhões de pessoas
faziam parte da classe C e um exército de pobres, equivalente a 96
milhões, compunham as classes D/E. Mas a distribuição de renda, a
valorização do salário mínimo, o aumento da renda das famílias e a
geração de empregos, além das políticas públicas inclusivas, a pirâmide
mudou – e muito. Hoje o Brasil tem 196 milhões de habitantes, sendo que
29 milhões estão nas classes A/B. Na classe C são 118 milhões de
habitantes, 60% da população e 49 milhões ainda se encontram nas classes
D/E.
Mas
é por pouco tempo, porque a mudança iniciada a do governo Lula e
mantida com a presidenta Dilma tem por objetivo combater a pobreza e a
miséria. Nada de voltar atrás, porque o número de habitantes nas classes
D/E caiu praticamente pela metade do que se tinha no governo tucano.
Hoje, por mais que os analistas não enxerguem, o pobre de ontem sobe de
classe social, consome mais porque tem poder de compra, ou seja, tem
dinheiro, até para adquirir um BMW.
Marcello Antunes
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