Obras do metrô, da Sabesp e do Rodoanel estão na mira do MP
Os contratos apareceram na planilha apreendida na casa do doleiro Alberto Youssef
por Fabio Serapião
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Guilherme Lara Campos/ A2 Fotografia
Alvo de uma
série de processos e inquéritos para apurar a atuação de um cartel de
empresas em suas licitações, o Metrô de São Paulo entrou na mira dos
promotores paulistas após aparecer em uma planilha apreendida na casa de
Alberto Youssef. No documento, revelado por CartaCapital em sua
edição 828, a estatal aparece em meio às 750 obras que, segundo a
Polícia Federal, foram intermediadas pelo doleiro preso desde março em
Curitiba e alvo principal da Operação Lava Jato. Com base nas
informações publicadas pela revista, o Ministério Público instaurou um
procedimento preliminar e solicitou à Justiça Federal do Paraná o
compartilhamento de provas relacionadas à suposta ação de Youssef em
solo bandeirante.
Além do Metrô, serão investigadas outras
três obras apontadas na planilha, duas da Companhia de Saneamento, a
Sabesp, e uma do Rodoanel. Subscrita pelo promotor Augusto Eduardo de
Souza Rossini, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social
da Capital, o pedido relacionado ao setor metroferroviário tem como
objetivo investigar possíveis “irregularidades consistentes em supostos
desvios na licitação do trecho do Monotrilho entre as estações Oratório e
Vila Prudente, integrante da Linha 15-Prata do Metrô e descumprimento
do prazo de entrega do referido trecho pelos representados”.
No documento, uma planilha de 34 páginas
com nomes de clientes relacionados a obras e órgãos públicos, a “Obra
Vila Prudente” tem como cliente do doleiro a construtora baiana OAS.
Além de alvo da Lava Jato, a empreiteira é integrante do consórcio
responsável pela construção do monotrilho ao lado da Queiroz Galvão e da
canadense Bombardier. Prometida pelo governador Geraldo Alckmin, do
PSDB, para janeiro de 2014, a obra ainda não foi inaugurada. Na
planilha, o doleiro cita o engenheiro Vagner Mendonça e aponta como o
valor do contrato a cifra de 7,9 milhões de reais. Ao analisar a lista
de projetos, a PF apontou que “pode-se deduzir que o doleiro tinha
interesse especial nos contratos dessas empresas, onde de alguma forma
atuava na intermediação”.
Além da planilha, caso
o compartilhamento seja autorizado pelo juiz Sergio Moro, os
investigadores da força-tarefa paranaense enviarão aos promotores
paulistas uma série de documentos com potencial para colocar, mais uma
vez, as caríssimas e lentas obras do Metrô no centro de um escândalo de
corrupção. Em meio à papelada amealhada pelas diversas fases da Lava
Jato encontram-se registros de movimentações financeiras em contas do
doleiro sediadas no exterior que devem comprometer duas integrantes do
consórcio do Monotrilho. Além da OAS, a Bombardier aparece em extratos
encontrados sob a tutela do funcionário de Youssef João Procópio
Junqueira Pacheco de Almeida Prado. A empresa canadense é alvo das
investigações sobre o cartel de trens que teria operado em São Paulo
durante as gestões de Mario Covas, José Serra e Alckmin.
O material no qual a Bombardier aparece
foi apreendido na Queluz Investimentos, que, segundo a PF, servia de
escritório ilegal do banco suíço PKB no Brasil. Os investigadores
chegaram até a sede da empresa em busca dos rastros deixados por Almeida
Prado. Preso desde o dia 1º de julho, o funcionário de Youssef é
considerado pela força-tarefa como responsável pela abertura de offshore
em paraísos fiscais, por onde a organização criminosa escoava o
dinheiro proveniente de desvios em licitações públicas. Ele é integrante
da centenária família Almeida Prado e concunhado do vice-presidente da
Camargo Corrêa, João Auler, outro detido na carceragem da PF no Paraná.
Uma das offshore criadas e
administradas por Almeida Prado é a Santa Tereza Services Limited
Partnership. Nela, além da Bombardier, os investigadores encontraram
movimentações financeiras de outras empresas com contratos milionários
em estatais federais e estaduais. Diz o MPF sobre a offshore:
“Apurou-se que dentro da conta da Santa Tereza na Suíça há quatro
subcontas, todas controladas pela organização criminosa de Youssef e
utilizadas para práticas delitivas. No extrato da subconta Sanko Sider
aparecem depósitos que são também relacionados à corrupção de
funcionários públicos brasileiros: Bombardier, OAS Investments, Cimentos
Tupy (...)”.
Mantida no PKB Private Bank da Suíça, a conta da offshore
chegou a ter 3,2 milhões de dólares de saldo e, segundo análise dos
peritos da PF, seus extratos do período entre 8 de outubro de 2012 e 4
de março de 2014 indicam “intensa movimentação financeira, com diversas
operações com valores iguais ou superiores a 1 milhão de dólares”. A
subconta Sanko Sider, diz a PF, era abastecida por numerário proveniente
da ação do doleiro em negociações relacionadas à venda de tubos para
empreiteiras envolvidas no cartel da Petrobras. A planilha apreendida
com o doleiro também está relacionada à Sanko.
Em nota, a Bombardier negou manter
contato com a Santa Tereza ou empresas pertencentes a Alberto Youssef.
Segundo a multinacional, em 2013, a empresa emitiu títulos para captação
de recursos na forma de bonds que teriam sido adquiridos pela offshore
em operação transparente e de acordo com as normas financeiras. “A
Bombardier reforça seu compromisso com os mais altos padrões de ética
corporativa em todos os países onde está presente”, diz a nota. Também
em nota distribuída à imprensa, o Metrô criticou “a tentativa de extrair
conclusões de documento cuja autenticidade e significado dependem de
provas que já estão sendo produzidas com muita correção pelo Judiciário,
Ministério Público e Polícia Federal”. Segundo a estatal, o projeto da
Linha 15, bem como todas as obras executadas pela Companhia, foi
licitado com base na Lei nº 8.666, com ampla concorrência entre os
consórcios participantes. O certame foi vencido pelo Consórcio Expresso
Monotrilho Leste, que ofereceu o melhor projeto e o menor preço.
Somadas, as obras listadas na planilha de
Youssef alcançam a cifra de 11,5 bilhões de reais. São 747 projetos
executados por órgãos públicos entre 2008 e 2012. No caso do monotrilho
da Vila Prudente, as relações do doleiro com as licitações ainda
necessitam de uma investigação mais aprofundada. Mas o fato é que a
instauração dos inquéritos por parte das autoridades paulistas é mais um
passo no caminho da busca por todos os tentáculos da organização
criminosa comandada por Youssef e que, segundo a PF, extrapola os
limites da Petrobras e “assola o País de Norte a Sul.”
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