1.31.2015

É hora de comprar ações da Petrobras? Especialistas respondem

Preço das ações da estatal atingiram mínimas em dez anos na sexta (30).
Em uma semana, papéis preferenciais caíram mais de 18%.

Karina Trevizan e Marta Cavallini Do G1, em São Paulo
As ações preferenciais da Petrobras caíram 18,2% esta semana, segundo a Economatica, e acenderam o alerta vermelho entre os investidores. No ano de 2014, a queda foi de 37% e em 2015, há desvalorização acumulada de 18,36% dos papéis.
Para o pequeno investidor, a recente desvalorização das ações da Petrobras tem gerado questionamentos sobre o que fazer com os papéis já adquiridos. Por outro lado, há também a dúvida comum entre quem ainda não tem ações da estatal: com os papéis cotados aos preços mais baixos desde 2004 das ações ordinárias e desde 2005 das preferenciais, é hora de comprar?

Veja abaixo a opinião de especialistas ouvidos pelo G1 sobre o assunto:

Comprei ações há poucos anos com expectativa de alta. Devo vender agora? (Foto: G1)
“Esse grupo é o que comprou baseado em boas notícias e tomou prejuízo”, afirma o especialista em investimentos Mauro Calil, do banco Ourinvest. “Para o investidor que comprou na onda do pré-sal e etc., eu diria que já deveria ter vendido há muito tempo, porque os prejuízos são muito grandes”, diz.

“As pessoas são corajosas na hora em que estão perdendo dinheiro, e dizem: ‘eu comprei por R$ 100, está a R$ 90, vou esperar subir’, e depois: ‘está a R$ 50, agora que eu não vendo mesmo’. Quando na verdade tem que se reverter o prejuízo quando ele ainda é pequeno”, diz Calil. “Eu atendi um cliente que fez isso com a OGX. Entrou com R$ 26 mil, e já estava com R$ 200. Eu disse para ele que não tinha sentido manter o que restou ali, e ele me disse: ‘o único sentido que tem para mim é lembrar de como é arriscado investir em ações’. Esse papel virou fantasma.”

Para Felipe Miranda, analista da Empiricus Research, a tendência é que o valor das ações da Petrobras caia ainda mais, e que a empresa emita mais ações para cobrir o “rombo”: “o petróleo cai, cria ambiente de estrangulamento financeiro, e isso implica mais queda”, diz. Para ele, não é uma boa comprar ações da estatal, mas sim de vender, e o quanto antes, melhor.

Herdei ações da Petrobras ou comprei há várias décadas. Devo me desfazer delas agora? (Foto: G1)
Segundo Calil, os acontecimentos recentes não devem necessariamente acender o alerta vermelho entre acionistas muito antigos. “Tem aquele investidor que herdou ações e não pagou nada por isso, ou aquele que comprou na década de 70. Para esses dois em especial, eu diria: segura, tenha um pouco mais de paciência. O investimento não saiu do suor do trabalho dele, é algo que o valor é tão ínfimo, às vezes se aproximando de zero, que ele pode esperar.”

Não tenho ações da Petrobras. É hora de aproveitar o preço baixo e comprar? (Foto: G1)
“Eu recebo essa pergunta todos os dias”, diz Calil. “Essa pessoa está com espírito ganancioso, mais que especulativo. Não é porque a Petrobras está na cotação mais baixa dos últimos anos que significa que vai subir. Essa mesma pergunta era feita em relação a OGX há pouco mais de dois anos. A segurança de não perder dinheiro é muito mais importante do que ganhar, porque o dinheiro vai entrando naturalmente na sua vida pouco a pouco. Se você não perde o que você tem, amanhã você terá mais.”

Quero aproveitar o preço baixo para comprar e vender logo quando subir. É um bom negócio? (Foto: G1)
“O investidor que fica especulando no day trade (aquele que compra e vende ações muito rápido, sem necessariamente esperar lucros a longo prazo) deve ter mais cuidado”, diz Calil, acrescentando que esses acionistas devem estabelecer o momento de estancar perdas em momentos de baixa intensa (o chamado “stop loss”).

“Se você quer fazer movimentos especulativos, primeiro tem que saber onde está andando e ter parâmetros muito sérios”, aconselha o especialista. “Se está colocando R$ 10 mil no investimento e tem R$ 100 mil na sua vida, é bastante coisa. Agora, se tem R$ 10 milhões, aí sim eu usaria o termo ‘fazer uma aposta’.”

Investi pouco dinheiro na Petrobras, mas estou perdendo. Como saber se vale a pena vender? (Foto: G1)
Calil aponta que a decisão pela venda ou manutenção das ações compradas em momentos de alta deve levar em consideração a comparação entre quanto foi investido e quanto dinheiro o investidor possui. “Tem gente que investiu R$ 1 mil e perdeu R$ 800, isso não quebra ninguém. Agora tem quem comprou R$ 1 milhão e perdeu R$ 800 mil, e ainda é um pequeno investidor pelo porte da Petrobras. Se você tem R$ 1 mil investidos e agora está com R$ 200, pode deixar lá. Mas se tinha R$ 100 mil e agora tem R$ 50 mil, é melhor botar as barbas de molho. Essa resposta sai do tamanho da perda e do impacto da perda na vida da pessoa.”

Perdi muito dinheiro com a baixa das ações. Devo esperar para ver se elas se recuperam? (Foto: G1)
“Não faça isso, não fique passivo, pois a passividade já te levou à perda. Estabeleça um plano para estancar as perdas”, aconselha Calil. “Se perdeu até 15%, você consegue recuperar em até 1 ano e meio. Realize o prejuízo (ou seja, venda as ações por um valor mais baixo do que pagou por elas) e coloque em outro investimento. Para perdas de até 35%, é possível fazer um plano de recuperação em até 36 a meses com renda fixa, dentro das garantias do Fundo Garantidor de Créditos (entidade que garante a cobertura de um limite do prejuízo ao investidor em caso de quebra da instituição financeira em que a aplicação foi feita).”

Miranda diz que quem está nessa situação deve pegar o dinheiro de volta. “Tem que olhar para a frente, já perdeu 30% do FGTS, estar com o FGTS é a melhor forma de recuperar? Ou é melhor comprar ações de outras empresas? Tem que pensar onde alocar o dinheiro”.
Já a planejadora financeira Myrian Lund diz que voltar o dinheiro investido para o FGTS é perda, pois rende abaixo da inflação (o rendimento do FGTS é de 3% ao ano mais Taxa Referencial. O resgate do FGTS só é permitido, por exemplo, na aposentadoria, compra de imóvel ou demissão sem justa causa). “Na Bolsa, há sempre uma esperança de que a empresa possa reverter toda a expectativa negativa e voltar a ser procurada por investidores institucionais. Neste caso, é melhor esperar, pois a empresa não vai acabar. O investimento só é perdido se a empresa falir”.

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