Transposição do Paraíba do Sul não é a melhor opção nem para São Paulo
Obra que reduzirá abastecimento do Rio não é prioritária para órgãos técnicos paulistas
Rio - Embora seja anunciada como a
panaceia necessária para resolver a questão da escassez de água em São
Paulo, a transposição de parte do Paraíba do Sul para um dos
reservatórios do sistema Cantareira não é sequer a primeira opção
apontada por órgãos do próprio governo daquele estado. Ainda assim, o
governador Geraldo Alckmin insistiu na intervenção no rio, que é o único
em volume capaz de atender às necessidades dos municípios fluminenses.
O Plano Diretor de Aproveitamento dos
Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, desenvolvido por
técnicos daquele estado, prevê dez obras até 2030 para garantir o
abastecimento. Entre os quais, o que levará água do reservatório
Jaguari, na Bacia do Paraíba do Sul, a Atibainha, que pertence ao
sistema Cantareira.
No relatório, que estabelece uma
ordem de importância e viabilidade a cada uma delas, os técnicos citam o
baixo volume retirado na transposição (5 metros cúbicos por segundo) e
sugerem que se construa também “reservatórios de regularização nos
afluentes do Rio Paraíba do Sul, visando a preservar as condições
hídricas atuais do rio”.
Comparando com outra obra sugerida no
Plano de Aproveitamento dos Recursos Hídricos, ainda para abastecer a
Região Metropolitana de São Paulo, as barragens Duas Pontes e Pedreira,
quando completas, terão vazão quase quatro vezes maior (18 metros
cúbicos por segundo), beneficiando 20 municípios, segundo o relatório.
Estas, porém, não afetariam o Paraíba do Sul.
O governo paulista, no entanto, defendeu a obra
na Bacia do Paraíba do Sul, segundo ele, pela necessidade de uma
interligação entre os dois reservatórios. Sobre quais medidas constarão
no edital de licitação para a regularizar a perda nos afluentes do rio, a
assessoria de imprensa do governo de São Paulo pediu prazo maior para
responder. O edital de licitação para a transposição está previsto para
ser lançado amanhã.Desde 2013, o governo do Rio conhecia os malefícios que a obra em terras paulistas causaria ao abastecimento fluminense e à geração de energia, segundo apontou estudo de técnicos da UFRJ, conforme publicou nesta quarta-feira o DIA . O documento também sugeriu que nos fóruns de discussão entre os governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais — outro interessado no assunto — buscassem “políticas proativas tendo em vista soluções do tipo ‘ganha-ganha’”.
Existem, diz o relatório, “vários arranjos possíveis alternativos para o aumento de oferta hídrica da Macrometrópole Paulista, enquanto o Estado do Rio depende substantivamente das águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o seu desenvolvimento socioeconômico.”
Pezão já fala em medidas drásticas
O governador Luiz Fernando Pezão admitiu nesta quarta-feira, após se reunir com a presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, que, se a seca se prolongar até abril, quando termina o período de chuvas na região, terá de tomar medidas “drásticas” em relação ao consumo de água no estado.
De acordo com o governador, não será cobrada sobretaxa para quem consumir água em excesso, “pelo menos em janeiro e fevereiro”. “A gente vai intensificar o ritmo das obras (para garantir o abastecimento de água), que é o que a gente acredita. E agora é torcer muito para que comece a chover e que a gente não precise tomar outras medidas mais drásticas”, disse.
Dicas para economizar água
Indagado, ele não esclareceu quais
seriam essas medidas e explicou que nenhuma possibilidade está afastada.
“Neste momento, a gente não quer tomar nenhuma dessas medidas
(sobretaxa e racionamento) porque ainda não são necessárias, mas nada
está afastado. Se essa seca se prolongar em fevereiro, março, abril, que
é o período de chuva no Rio, vamos tomar outras medidas, mas ainda
estamos estudando”, declarou o governador, explicando que foi a Brasília
mostrar à presidenta alguns projetos do estado para garantir o
abastecimento de água.
Enquanto as medidas do governo não
vêm, alguns cariocas já começam a economizar água. Em Botafogo, na Zona
Sul, o síndico do Condomínio Golden Garden, Saul Cusnir, 48 anos, conta
que, há um mês, a água despejada pela máquina de lavar de alguns
moradores é aproveitada para limpar contêineres de lixo do prédio. A
irrigação do jardim também é controlada para evitar desperdício. Em vez
de mangueiras, pequenos canos com furos molham as plantas.
Conta da Cedae
Apesar de o governador ter descartado, no
momento, cobrança extra para quem consome água em excesso, na prática a
Cedae já aplica sobretaxas a clientes que gastam mais de 15 mil litros
por mês. Esse é o limite considerado prudente pela companhia para frear o
desperdício e equivale a encher uma caixa d’água de mil litros a cada
dois dias.A estrutura de tarifas progressivas faz com que um consumidor com gasto mensal de 30 mil litros pague mais que o triplo de quem utilizou a metade do recurso. A Cedae aplica fórmulas diferentes para tarifar o consumo de até 15 mil, 30 mil, 45 mil ou 60 mil litros por habitação, por mês.
Um consumidor que se enquadra na faixa mínima paga R$ 34,48. Já quem consome o dobro paga R$ 126,46. “A estrutura tarifária é progressiva, justamente para desestimular o consumo excessivo. É assim desde 1975”, afirmou o presidente da concessionária, Jorge Briard, em nota.
De acordo com a Cedae, cerca de 70% dos consumidores estão na faixa do consumo não sobretaxada. Briard diz que a faixa mínima de 500 litros por dia é confortável, já que a Organização Mundial da Saúde recomenda 100 litros per capta por dia e a média do estado é de 3,3 moradores por habitação.
Nos condomínios com hidrômetro coletivo, a faixa de consumo é proporcional ao número de apartamentos. Na cidade do Rio, a legislação só passou a exigir que prédios novos tenham hidrômetros individuais em 2011. “A hidrometria individualizada faz com que cada pessoa tenha seu compromisso de economizar”, avalia o presidente do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Décio Tubbs.
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