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Daniel Berehulak/The New York TimesEquipe funerária enterra o corpo de um homem que morreu após contrair ebola na Libéria
"O mundo está malpreparado para responder a qualquer emergência sanitária sustentada e severa", disse a diretora num discurso lido por um representante da OMS em reunião de responsáveis de saúde do Pacífico Ocidental, em Manila, e distribuído à imprensa, em Genebra.
Margaret Chan frisou que esta constatação não se refere apenas ao surto de ebola na África Ocidental, mas a qualquer outra emergência da mesma magnitude.
O atual surto, considerou, é a maior emergência sanitária da nossa era. "Na minha longa carreira na saúde pública, que incluiu lidar com os surtos de H5N1 e Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), em Hong Kong, e com a pandemia de gripe, na OMS, nunca vi um assunto que atraia tanto interesse midiático mundial. Nunca vi um problema de saúde que provoque tanto medo e terror fora dos países afetados. Nunca vi uma doença contagiosa que contribua tão fortemente para o potencial fracasso de um Estado", disse a diretora-geral da OMS.
A reunião de 18 de setembro, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para avaliar a situação demonstra se tratar de "uma crise de saúde pública que se transformou numa crise que afeta a paz e a segurança internacional", avaliou Margaret Chan.
Ela realçou que a evolução do surto foi parcialmente determinada pelo fato de ter surgido em países pobres com sistemas de saúde precários. "O surto demonstra os perigos das crescentes desigualdades sociais e econômicas no mundo. Os ricos obtêm o melhor tratamento. Os pobres são deixados [para] morrer", disse.
A inexistência de tratamentos ou vacinas para um vírus conhecido desde 1976 deve-se ao fato de "o ebola ter sido histórica e geograficamente confinado a nações africanas pobres", destacou a diretora da OMS. Mais de 8.000 pessoas foram infectadas com o ebola, na África. Nos últimos meses, mais de 4.000 africanos morreram.
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6.jan.2015
- Funcionários da Cruz Vermelha carregam o corpo de uma vítima do ebola
durante um enterro com a presença de familiares, em Monróvia, na
Libéria. Escolas irão reabrir em fevereiro, seis meses depois de terem
sido fechadas em uma tentativa de conter a propagação do vírus. O pior
surto da doença já matou mais de 8 mil pessoas. A Libéria teve a taxa de
mortalidade mais alta, com 3.471 mortes, seguida por Serra Leoa e
Guiné. A foto foi tirada em 5 de janeiro Zoom Dosso/AFP
Entenda o ebola
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O que é o ebola?É uma doença causada por vírus, que pode ser fatal em até 90% dos casos. A morte geralmente ocorre por falhas renais e problemas de coagulação, em até duas semanas após a aparição dos primeiros sintomas.
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Como se contrai o vírus?Ele é transmitido pelo contato direto e intenso com sangue e fluidos corporais (como suor, urina, fezes e sêmen, por exemplo) de pessoas contaminadas e de tecidos de animais infectados. Até o momento, não há notícias de pessoas que transmitiram o vírus antes de apresentarem os sintomas.
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Quais os sintomas mais comuns?Febre repentina, fraqueza, dor muscular, dor de cabeça e inflamação na garganta. Depois, vômito, diarreia, coceira, deficiência hepática e renal e, em alguns casos, hemorragias internas e externas. O período de incubação costuma ser de dois a 21 dias, ou seja, esse é o tempo que pode levar para a pessoa infectada começar a apresentar os sintomas.
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O que é um caso confirmado?Um caso suspeito com resultado laboratorial positivo para o vírus ebola realizado em laboratório de referência.
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O 1º exame negativo descartada a doença?Não. O descarte só é feito após dois exames laboratoriais negativos com intervalos de 48h entre eles.
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Qualquer unidade de saúde pode colher sangue para teste?Não. Esta doença é de notificação compulsória imediata. O Ministério da Saúde recomenda que, em caso de suspeita, a pessoa seja isolada e o ministério, acionado imediatamente para que o paciente seja levado a uma unidade de referência. Somente neste local pode ser feita a coleta de sangue.
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Qualquer laboratório pode manipular o sangue de um caso suspeito?Não. Apenas um laboratório no Pará tem nível internacional de segurança 3 e, por isso, é o único credenciado pelo Ministério da Saúde para manipular e diagnosticar vírus ebola.
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Como transportar pacientes suspeitos e/ou confirmados com ebola?Uma ambulância é previamente envelopada (seu interior é coberto por plástico para que não haja contato dos instrumentos com o paciente). Durante o transporte, tanto o paciente quanto a equipe médica e o motorista utilizam Equipamentos de Proteção Individual (EPI): macacão de tyvek, protetor facial, bota, luvas, entre outros.
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O paciente deve ser colocado na ambulância em maca-bolha?Não há essa indicação técnica, já que a doença não é transmitida pelo ar e os profissionais de saúde estão usando todos os EPIs indicados no protocolo.
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O que é feito quando há confirmação de caso de ebola?Os pacientes devem ser mantidos isolados, em suporte intensivo, em hospitais de referência para tratamento de doenças infecciosas graves. Todo e qualquer profissional de saúde que tiver contato com o paciente deve estar usando EPI.
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O ebola tem tratamento específico?Não. Em geral os médicos recorrem a medicamentos para aliviar os sintomas, mas a cura depende do organismo do paciente. Existem apenas remédios e vacinas experimentais sendo testados no Canadá e nos EUA. O Zmapp, publicado no meio científico desde 2012, foi usado em humanos pela 1ª vez no surto atual, já que a OMS só libera o uso de medicamentos de alto risco em situações extremas.
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Existe risco de epidemia de ebola no Brasil?O risco é extremamente baixo. Mesmo que haja casos confirmados isolados, a adoção de protocolos de isolamento, monitoramento e bloqueio evita a ocorrência de surto.
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Quais países têm mais casos de ebola?Guiné, Libéria e Serra Leoa vivem surtos de ebola, e há casos na Nigéria e no Congo. EUA, Espanha e Reino Unido levaram compatriotas infectados para tratamento em seus países.
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Como pode ser feita a notificação de um caso suspeito?O Ministério da Saúde disponibilizou alguns canais para profissionais de saúde: o telefone 0800 644 6645 e o e-mail notifica@saude.gov.br. A população pode usar o número 136.
Fonte: Ministério da Saúde, Médicos Sem Fronteias e entrevista com o doutor em microbiologia Atila Iamarino
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