11.08.2015

Aquecimento global deve causar inundações no Rio

Estudo aponta prejuízo de até R$ 124 bilhões. Estações de metrô e trem em risco

Gustavo Ribeiro
Rio - O Rio pode ser atingido pelo aumento do nível do mar decorrente do aquecimento global bem antes do que se imagina. Capítulo do estudo ‘Brasil 2040’, encomendado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, alerta que o avanço das águas pode inundar várias partes da cidade nos próximos 25 anos. A maioria dos hospitais públicos está em área de risco, assim como estações de trem e metrô e o VLT, em construção no Centro.
O maior estudo já realizado sobre impactos das mudanças climáticas no país também destaca que bairros da Zona Sul — como Ipanema, Copacabana e Botafogo —, a Barra da Tijuca e a Ilha do Fundão podem ser os principais afetados por inundações.
Elevação do nível do mar em até 0,33 metro nos próximos 25 anos ameaça área avaliada em R$ 109 bilhões
Foto: João Laet / Agência O Dia
Segundo a pesquisa, coordenada pela equipe do engenheiro Wilson Cabral, do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), as áreas de média ou alta vulnerabilidade são locais baixos e planos, próximos ao oceano ou a canais de drenagem — cuja saturação, em caso de eventos de elevação do nível do mar, ou de intensa precipitação, pode levar ao alagamento destas áreas.
“Os hospitais localizam-se, em sua maioria, em áreas de vulnerabilidade média ou alta. Tais hospitais são estruturas sensíveis, (...) pois uma necessidade de evacuação envolveria pacientes”, ressalta o texto. Estações de trem ou metrô nas regiões de Marechal Hermes, Campo dos Afonsos, Deorodo, Jacarezinho e Del Castilho estão sujeitas a inundações que podem paralisar esses serviços. Os pesquisadores recomendam estudos específicos para o percurso do VLT, “situado quase em toda sua totalidade sobre área de alta vulnerabilidade”.
O secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, disse que o Rio dará início, em 2016, ao Plano Estadual de Adaptação às mudanças climáticas, tendo como horizonte o ano de 2050. “O plano buscará o envolvimento dos 91 municípios”, afirmou. A prefeitura informou que o projeto do VLT levou em consideração estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre elevação do nível do mar, que apontou aquela área como livre de impactos.
Bairros da Zona Sul e Barra podem ser os mais afetados
Os pesquisadores que avaliaram os riscos se basearam em dois cenários do painel de cientistas do clima da ONU, o IPCC. No mais otimista, em que o mundo tomaria medidas para amenizar as mudanças climáticas, uma área do Rio com construção imobiliária avaliada em R$ 109 bilhões está ameaçada pelo aumento de 0,33 metro no nível do mar. Essa região abrange bairros da Zona Sul e Barra da Tijuca, de média vulnerabilidade.
Foto: Arte O Dia
O valor imobiliário da área vulnerável pode ser mais alto caso não sejam realizadas ações para controlar o clima. “A cifra é da ordem de R$ 124 bilhões, considerando-se os valores imobiliários em áreas de alta vulnerabilidade no cenário mais pessimista”, explica o estudo.
Este número não representa necessariamente perdas econômicas. “Trata-se de uma aproximação preliminar qualitativa.” Na situação mais crítica, a elevação seria de 0,38 metro no nível do mar. Segundo o texto, uma análise mais avançada poderia indicar com maior precisão os riscos associados a este conjunto de imóveis.
Outra recomendação prioritária, além de estudo para o VLT, é analisar a necessidade e perfil de intervenção adaptativa para redução de danos em situações de eventos extremos, com foco em localização e disponibilidade dos hospitais públicos, infraestrutura viária nas áreas de vulnerabilidade e análises de risco para o setor imobiliário

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