Durante anos, biólogos que estudam a reprodução foram frustrados por um mistério do desenvolvimento do óvulo: quais são os sinais que ordenam que óvulos imaturos folículos primordiais se desenvolvam em óvulos maduros capazes de ser fertilizados?
A pergunta é importante para especialistas em fertilização. As mulheres que estão entrando na menopausa não produzem óvulos maduros, ou os produzem ocasionalmente, mas ainda possuem folículos primordiais. Assim como ocorre com mulheres cujos ovários falham num estágio ainda mais precoce. Se houvesse uma forma de estimular óvulos imaturos a se desenvolverem, deveria possibilitar que essas mulheres engravidassem.
Mulheres em tratamento contra o câncer que desativam seus ovários podem querer guardar alguns óvulos imaturos para gerar um bebê mais tarde.
Agora, Aaron J.W. Hsueh e Jing Li, da Stanford University, e colegas no Japão e na China relatam que resolveram o enigma da maturação do óvulo.
Num artigo publicado online no "Proceedings of the National Academy of Sciences", eles descrevem uma forma simples de sinalizar o amadurecimento de óvulos de ratas. Eles fertilizaram os óvulos maduros, obtiveram ratos recém-nascidos, os criaram e mostraram que eles eram férteis. Os pesquisadores também usaram seu método para amadurecer óvulos humanos, mas não os fertilizaram. Mas Kazuhiro Kawamura, no Japão, planeja dar o próximo passo com pacientes cujos ovários falharam mais precocemente maturando os folículos primordiais, então fertilizando os óvulos, disse Hsueh.
No entanto, Hsueh alerta que "ninguém pode garantir o sucesso" com óvulos humanos. Ele é apenas cientista e não planeja tratar pacientes.
Louis DePaolo, chefe do escritório de ciências reprodutivas do Instituto Nacional Eunice Kennedy de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano, enfatiza que o método ainda é experimental.
"Isso é algo possível", disse ele, "mas precisa de um refinamento maior". Neste ponto, ele diz, "não podemos dizer a uma paciente que vamos tentar esse procedimento".
Os resultados também podem ajudar os cientistas a gerar células-tronco embrionárias humanas. Um problema em obter essas células é que é difícil obter muitos óvulos humanos maduros para fertilização. Agora, Hsueh afirma querer tentar usar óvulos imaturos do tecido ovariano de mulheres que tiveram seus ovários removidos por outras razões. Ele espera poder incentivar o amadurecimento de óvulos imaturos.
Os cientistas há muito tempo ficam perplexos com o processo de maturação do óvulo. Um bebê do sexo feminino tem 800 mil óvulos imaturos no ovário quando nasce. Quando ela chega à puberdade e começa a ovular, mil dessas células de óvulos começam a se desenvolver todos os meses. Normalmente, apenas um óvulo se desprende no caminho. Ninguém sabe o que acontece com todos os óvulos que não conseguiram.
"Presumimos que eles morrem", disse Hsueh. "Exceto por alguns folículos mais avançados, ninguém sabe em que estágio a maioria morre".
Tratamentos de fertilidade usam hormônios para ajudar óvulos que já estão bem longe para amadurecer.
Porém, como ocorre com mulheres que estão iniciando a menopausa, pode não haver óvulo nenhum tão longe assim. Até o momento, nada podia ser feito.
O ímpeto por trás da descoberta foi um achado acidental de outros pesquisadores. Eles tinham removido um gene em ratas e viram algo estranho e inesperado: todos os óvulos imaturos dos animais começaram a amadurecer. As ratas, na verdade, acabaram se tornando inférteis mais tarde na vida; eles tinham usado todos os óvulos de uma vez.
Isso levou à percepção de que o segredo para fazer óvulos imaturos se desenvolverem é inibir uma enzima conhecida como PTEN e adicionar um fragmento de proteína para ajudar a ativar os óvulos. Parar aquela enzima tirou os freios do desenvolvimento do óvulo. Com um empurrãozinho extra da proteína ativadora, os óvulos começaram a crescer.
Agora, diz Hsueh, os pesquisadores melhoraram os métodos que reportam em seu novo artigo. É claro, eles não querem usar todos os óvulos num ovário de uma vez. Em vez disso, afirmou ele, a ideia é pegar um pequeno pedaço de ovário, ativar seus óvulos primordiais e colocá-lo de volta no corpo, permitindo que os óvulos cresçam e amadureçam.
A descoberta, disse DePaolo, "é importante", não apenas porque pode dar às mulheres mais opções quando seus ovários falham. Além disso, ele comentou, o trabalho fornece "conhecimentos básicos de como esses folículos em estágio inicial funcionam".
"Nunca entendemos isso", disse DePaolo.
Gina Kolata
Do "The New York Times"
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