11.02.2010

. “É difícil uma mulher adulta não ter celulite”,

Flagrar as imperfeições corporais de atrizes, modelos e cantoras famosas é a nova obsessão dos paparazzi. O público? As mulheres reais, claro
Martha Mendonça
Ela é linda, famosa e poderosa. Com o corpão à mostra, vai à praia relaxar. No mesmo dia, um site exibe uma imagem sua – cheia de celulite. Cuidado, famosas: revelar as imperfeições das celebridades virou a nova obsessão dos paparazzi, no Brasil e no mundo. Antes, eles se acotovelavam por um pedaço de calcinha (ou de ausência dela), um decote generoso ou o flagrante de uma transparência mal calculada. Essas coisas, claro, continuam a provocar interesse. Mas a elas foram adicionadas, numa espécie de vingança das normais, os defeitos das ninfas.

Delson Silva / Ag. News
OLHA LÁ! OLHA LÁ!
Carolina Dieckmann, no Rio
Rafael Mesquita
Viviane Araújo, na quadra do Salgueiro
Cada beldade de biquíni ou saia curta é alvo potencial das câmeras indiscretas, ávidas por fenômenos naturais que o Photoshop esconde. Essas imagens são publicadas em revistas e sites especializados e batem recordes de audiência. As vítimas mais recentes foram a atriz Carolina Dieckmann e a modelo Viviane Araújo. A primeira, quando foi à praia dar um mergulho. A segunda, num ensaio de escola de samba. A pop star americana Jennifer Lopez também foi clicada de costas, num show em Porto Rico, na semana passada.
Outras famosas, como as brasileiras Juliana Paes e Daniela Sarahyba, as cantoras americanas Rihanna e Cristina Aguilera e a atriz Kate Hudson, também já estrelaram esse tipo de galeria pouco lisonjeira. Em todas essas imagens estavam lá, em maior ou menor quantidade, as indesejáveis ondulações nas coxas e no bumbum que tiram o sono das mulheres... as mesmas mulheres que comemoram cada furinho cravado na pele das famosas.
A dermatologista das celebridades Lygia Kogus confirma esse sadismo feminino. “A mulher se regozija ao ver que as outras também têm celulite”, afirma. A lógica é parecida com a da criança que acusa o irmão de cúmplice na malcriação. O castigo vai ser o mesmo, mas pelo menos ela não está sozinha. “É difícil uma mulher adulta não ter celulite”, diz Lygia. “Em se tratando de brasileiras, quase impossível.”
A dermatologista explica que aquelas que têm ascendência portuguesa, espanhola ou italiana, com cintura fina, quadril largo e coxas grossas, não conseguem escapar da gordura localizada nessas áreas. Ironicamente, o corpo mais valorizado pelos homens (o violão...) é também o mais propenso à celulite. Fica ainda mais difícil driblar a inimiga à luz do dia. Aquilo que o espelho não mostra dentro de casa salta aos olhos sob o sol do meio-dia – e quase sempre a punhalada vem pelas costas.

Photopress/Splash News e Gregg DeGuire
Jennifer Lopez, em Porto Rico
Smart Pictures.CO.U.K e Pascal le Segretain
Rihanna, em Londres
A celulite é o resultado de líquido acumulado nas células de gordura. No período pré-menstrual aparece mais. Também é mais visível no dia seguinte a uma noitada regada a chope e pizza, porque o sal e o álcool aumentam a retenção de líquidos. Se a mulher consome muita bebida alcoólica, fuma e tem vida sedentária, pior. Mais ainda se usa pílula anticoncepcional, porque o hormônio feminino é o pai da celulite. E a vida sedentária é a mãe. Para combater a celulite, recomenda-se verdura e legumes, frutas diuréticas, pouco sal e perda de peso, por meio de exercícios. Haja força de vontade!
Se isso serve de consolo a famosas e anônimas, a celulite parece ser uma preocupação estritamente feminina. Numa pesquisa informal feita pelos blogs Mulher 7x7 e Sexpedia, do site de ÉPOCA, a vasta maioria dos homens respondeu que não liga para esses acidentes de relevo. “Quem não gosta de celulite não gosta de mulher”, diz o internauta Luiz Marcondes. “Mulher sem celulite é mulher de Photoshop”, afirma Renato Ribeiro, pelo Twitter.
É verdade que nem sempre a celulite foi esse tormento na vida das mulheres. Nos anos 50 e 60, bonito era ser curvilínea, usando corpetes para acentuar a cintura. Para isso era preciso carne – e pelo menos um pouco de gordura. Foi nos anos 70 que tudo mudou, diz a historiadora Mary Del Priore. Junto com a liberação sexual das mulheres e sua inserção no mercado de trabalho, desembarcaram no Brasil as bonecas Barbie, criando um novo paradigma corporal. Nos Estados Unidos, a atriz Jane Fonda (que na juventude havia sido uma Barbarella farta e certamente com celulite) explodiu com os vídeos de ginástica, ao ensinar as mulheres a esculpir o corpo.
De lá para cá, a estética virou a nova prisão feminina – de segurança máxima. As imperfeições se transformaram em fonte de interminável angústia... que também causa celulite. Quanto mais estressada a mulher ficar com a visão de seus furinhos, dizem os médicos, mais eles vão se multiplicar. A melhor arma contra essa inimiga subcutânea é relaxar e lembrar que basta ser mulher – famosa ou não – para conviver com ela.

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