Neurônios afiados
Como os jogos eletrônicos podem melhorar o desempenho de seu cérebro
Não é fácil memorizar os detalhes de uma reunião após uma jornada de mais de dez horas de trabalho. Ainda mais quando se participa de três ou mais reuniões em um único dia. Esse tem sido o desafio da analista financeira Katia Kimiyo, de 35 anos. Ela registra as demandas em um caderno de anotações e até grifa o que é mais importante. Mas no fim do dia muita coisa importante escapa da memória. “Meu desejo é reter o essencial”, diz Katia. Há três meses, ela passou a se dedicar a um treinamento cerebral com jogos on-line que prometem lapidar a memória. “Estou mais atenta e já percebo mudanças positivas no trabalho”, afirma.
Os novos jogos eletrônicos de “ginástica cerebral” são tão específicos quanto os aparelhos de uma academia de ginástica: alguns servem apenas para aquecer os neurônios, outros para ativar áreas específicas do cérebro que trabalham com memória, atenção, linguagem e a visão espacial. O cérebro funciona como um músculo, dizem os neurocientistas. Tende a ficar mais forte à medida que é usado.
E formas de usá-lo não faltam. Há pelo menos 40 novos jogos “cerebrais” lançados neste ano. Todos eles, sem exceção, dizem ser montados com base nas últimas descobertas da neurociência. “São mais dinâmicos e eficientes que seus primos mais velhos, da década passada”, diz Richard Grane, neurocientista de Harvard que trabalha em parceria com programadores eletrônicos. “Agora eles têm embasamento científico e o aval dos principais centros de estudo de neurociência.”
A promessa dos jogos é atraente: ao exercitar os neurônios, o sujeito cria uma espécie de reserva cognitiva, o que torna novas áreas do cérebro aptas a executar tarefas antes restritas a poucas regiões. Uma boa reserva cognitiva permite chegar aos 40 anos melhor do que se passou pelos 30 – e atravessar os 60 sem trocar o nome dos parentes. “As pessoas desejam ter com o cérebro os mesmos cuidados que aprenderam a ter com o corpo”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A maior preocupação com o bom desempenho do cérebro, segundo ela, acontece porque se vive mais do que antes e as pessoas têm mais expectativas em relação à terceira idade.
Os primeiros jogos on-line em português surgiram neste ano, no site Cérebro Melhor. São versões de games da empresa francesa Happy Neuron. Seus jogos permitem montar treinos personalizados e até comparar seu desempenho ao de pessoas de outros países, de mesmo sexo, idade e escolaridade. Há jogos gratuitos on-line e conteúdo pago com uma mensalidade de R$ 18,90. Até os consoles DS e Wii têm games de exercício cerebral. Não são tão eficientes quanto os demais, mas são bem divertidos.
Será que precisamos recorrer a jogos eletrônicos para manter o cérebro saudável? Não, dizem os cientistas. “Basta ter uma vida ativa intelectualmente”, diz Paulo Caramelli, neurologista da Universidade Federal de Minas Gerais. Mas nem sempre isso é possível. O matemático capixaba Marcos Cesar Gomes, professor de ensino médio, diz que “esfola” seus neurônios seis horas por dia com equações de alta complexidade. “Sou bom em raciocínio lógico, mas péssimo com a linguagem”, diz. Gomes adotou o programa importado Brain Age para melhorar a fluência verbal. Diz estar progredindo.
Os especialistas dizem que jogos que melhoram o desempenho cerebral conseguem retardar os sintomas de doenças degenerativas, como o Alzheimer, embora não impeçam seu surgimento.
Os novos jogos eletrônicos de “ginástica cerebral” são tão específicos quanto os aparelhos de uma academia de ginástica: alguns servem apenas para aquecer os neurônios, outros para ativar áreas específicas do cérebro que trabalham com memória, atenção, linguagem e a visão espacial. O cérebro funciona como um músculo, dizem os neurocientistas. Tende a ficar mais forte à medida que é usado.
E formas de usá-lo não faltam. Há pelo menos 40 novos jogos “cerebrais” lançados neste ano. Todos eles, sem exceção, dizem ser montados com base nas últimas descobertas da neurociência. “São mais dinâmicos e eficientes que seus primos mais velhos, da década passada”, diz Richard Grane, neurocientista de Harvard que trabalha em parceria com programadores eletrônicos. “Agora eles têm embasamento científico e o aval dos principais centros de estudo de neurociência.”
A promessa dos jogos é atraente: ao exercitar os neurônios, o sujeito cria uma espécie de reserva cognitiva, o que torna novas áreas do cérebro aptas a executar tarefas antes restritas a poucas regiões. Uma boa reserva cognitiva permite chegar aos 40 anos melhor do que se passou pelos 30 – e atravessar os 60 sem trocar o nome dos parentes. “As pessoas desejam ter com o cérebro os mesmos cuidados que aprenderam a ter com o corpo”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A maior preocupação com o bom desempenho do cérebro, segundo ela, acontece porque se vive mais do que antes e as pessoas têm mais expectativas em relação à terceira idade.
COM FOCO
A analista financeira Katia Kimiyo em seu escritório, em São Paulo. Ela se dedica a jogos eletrônicos para afiar a memória e melhorar a atenção
A analista financeira Katia Kimiyo em seu escritório, em São Paulo. Ela se dedica a jogos eletrônicos para afiar a memória e melhorar a atenção
Será que precisamos recorrer a jogos eletrônicos para manter o cérebro saudável? Não, dizem os cientistas. “Basta ter uma vida ativa intelectualmente”, diz Paulo Caramelli, neurologista da Universidade Federal de Minas Gerais. Mas nem sempre isso é possível. O matemático capixaba Marcos Cesar Gomes, professor de ensino médio, diz que “esfola” seus neurônios seis horas por dia com equações de alta complexidade. “Sou bom em raciocínio lógico, mas péssimo com a linguagem”, diz. Gomes adotou o programa importado Brain Age para melhorar a fluência verbal. Diz estar progredindo.
Os especialistas dizem que jogos que melhoram o desempenho cerebral conseguem retardar os sintomas de doenças degenerativas, como o Alzheimer, embora não impeçam seu surgimento.
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