O racismo na era da internet
(Com Comentários)
A web confere uma falsa sensação de anonimato e torna-se um instrumento para manifestação de preconceitos contra nordestinos. Presidente da OAB-PE garante ação contra agressores
“É tudo culpa dos nordestinos….. seca eterna para vocês!!!! Dilma presidente Parabéns povo burro!!” Esta frase foi postada na rede de microblogs Twitter na segunda-feira 1º, dia seguinte a vitória de Dilma Rousseff na disputa pela presidência da República. Longe de ser um caso isolado, surgiram na rede social diversas manifestações de preconceito que atribuíam a eleição da candidata do PT à larga vantagem obtida nos estados do Norte e Nordeste.
A coordenadora do Núcleo de Combate a Discriminação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Maíra Coraci Diniz, lembra os autores dos posts no Twitter podem ser enquadrados na Lei 7.716, que trata dos crimes de preconceito contra raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. “O problema é que o anonimato na internet dificulta, porque tem que pedir a quebra do sigilo para o site de relacionamento”, explica. Segundo ela, as pessoas divulgam mensagens discriminatórias por acharem que, na rede, estarão livres de qualquer consequencia.
Apesar de não haver lei contra o racismo que foque a internet, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco, Henrique Mariano, destaca que a jurisprudência considera as redes sociais meios de comunicação e, por isso, as enquadra na Lei 7.716. “Tomamos o preconceito pela internet como igual a quem assina artigos racistas numa revista, por exemplo. Com o agravante de o Twitter ter um poder de disseminação muito maior”, destaca o presidente. Mariano afirma que a OAB-PE entrará, na quinta-feira 4, com uma queixa-crime contra a estudante de Direito Mayara Petruso, uma das autoras das mensagens. “Isso não impede que, na medida em que mais usuários forem identificados, ações contra outras pessoas sejam movidas”, destaca Mariano.
Não é a primeira vez que as redes sociais são usadas para manifestações preconceituosas. Durante as enchentes que assolaram os estados da região, neste ano, uma comunidade no Orkut foi criada com o nome Odeio Nordestino. Os integrantes lamentavam que, com o desastre natural, mais famílias do Nordeste migrariam para os estados do Sul-Sudeste.
Também da internet veio a reação de repúdio as mensagens. Um site chamado Xenofobia Não foi criado e tenta reunir o maior número possível de manifestações preconceituosas. Além do mais, na segunda-feira 1º, a tag #orgulhodesernordestino, campanha criada por tuiteiros contra a discriminação, foi a primeira nos Trending Topics Brasil e uma das mais comentadas no mundo.
Falácia
Além de revelar um profundo sentimento de discriminação, os comentários que circularam na internet após as eleições se baseiam em uma afirmação falsa. Dilma Rousseff venceria mesmo se só fossem computados os votos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Seriam 33,2 milhões de votos para a petista contra 32,9 milhões para José Serra (PSDB).
Sobre a questão do preconceito contra os eleitores do Nordeste, é imprescindível a leitura do texto da professora Tânia Bacelar Araújo, publicada aqui depois do 1º turno das eleições. (clique aqui)
“É tudo culpa dos nordestinos….. seca eterna para vocês!!!! Dilma presidente Parabéns povo burro!!” Esta frase foi postada na rede de microblogs Twitter na segunda-feira 1º, dia seguinte a vitória de Dilma Rousseff na disputa pela presidência da República. Longe de ser um caso isolado, surgiram na rede social diversas manifestações de preconceito que atribuíam a eleição da candidata do PT à larga vantagem obtida nos estados do Norte e Nordeste.
A coordenadora do Núcleo de Combate a Discriminação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Maíra Coraci Diniz, lembra os autores dos posts no Twitter podem ser enquadrados na Lei 7.716, que trata dos crimes de preconceito contra raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. “O problema é que o anonimato na internet dificulta, porque tem que pedir a quebra do sigilo para o site de relacionamento”, explica. Segundo ela, as pessoas divulgam mensagens discriminatórias por acharem que, na rede, estarão livres de qualquer consequencia.
Apesar de não haver lei contra o racismo que foque a internet, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco, Henrique Mariano, destaca que a jurisprudência considera as redes sociais meios de comunicação e, por isso, as enquadra na Lei 7.716. “Tomamos o preconceito pela internet como igual a quem assina artigos racistas numa revista, por exemplo. Com o agravante de o Twitter ter um poder de disseminação muito maior”, destaca o presidente. Mariano afirma que a OAB-PE entrará, na quinta-feira 4, com uma queixa-crime contra a estudante de Direito Mayara Petruso, uma das autoras das mensagens. “Isso não impede que, na medida em que mais usuários forem identificados, ações contra outras pessoas sejam movidas”, destaca Mariano.
Não é a primeira vez que as redes sociais são usadas para manifestações preconceituosas. Durante as enchentes que assolaram os estados da região, neste ano, uma comunidade no Orkut foi criada com o nome Odeio Nordestino. Os integrantes lamentavam que, com o desastre natural, mais famílias do Nordeste migrariam para os estados do Sul-Sudeste.
Também da internet veio a reação de repúdio as mensagens. Um site chamado Xenofobia Não foi criado e tenta reunir o maior número possível de manifestações preconceituosas. Além do mais, na segunda-feira 1º, a tag #orgulhodesernordestino, campanha criada por tuiteiros contra a discriminação, foi a primeira nos Trending Topics Brasil e uma das mais comentadas no mundo.
Falácia
Além de revelar um profundo sentimento de discriminação, os comentários que circularam na internet após as eleições se baseiam em uma afirmação falsa. Dilma Rousseff venceria mesmo se só fossem computados os votos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Seriam 33,2 milhões de votos para a petista contra 32,9 milhões para José Serra (PSDB).
Sobre a questão do preconceito contra os eleitores do Nordeste, é imprescindível a leitura do texto da professora Tânia Bacelar Araújo, publicada aqui depois do 1º turno das eleições. (clique aqui)
Última (será?) flor do Fascio,
Estulta e feia,
És a um tempo, horror e sepultura,
Lodo nativo, que no esterco impura,
Aflora e entre os fascistas vela,
Detesto-te, e que permaneças desconhecida e impura,
Entre os acólitos dos demos e tucanos,
Como esta candidata a rábula da ditadura.
uma punição para todos que pratiquem tal atos.
A rede social é formada na grande maioria de jovens, que ainda estão formando sua personalidade. A rede social também é para isso. As pessoas vão errando e acertando. É o método de “pesquisa-ação”, “tentativa-e-erro”.
A solução está na própria rede social, como bem o artigo demonstra. O bom senso estabelecerá o equilíbrio e, com certeza, expurgará a “erva daninha”.
Agora, a proposta é tão intolerante quanto à intolerância do anônimo “twitteiro”.
Não foi Rio e não é Brasília ainda, o local em que o país foi administrado burocraticamente, mas foi a BA, no NE, local em que todo o aparato burocrático portuguès se instalou na nova Terra. Aliás, nunca foi SP e nunca será. Outra coisa, fica cada vez mais difícil alguém do PSDB chegar ao Planalto. Vai pensando que o nordestino que encontra fora do NE vai vontar maciçamente em vocês. Vai, vai sonhando. Aguardem o NE se desenvolver e vocês verão de onde virá o administrador do país.
O voto do Nordeste
Viomundo 19 de outubro de 2010 às 8:52h Por Tânia Bacelar AraújoA ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não “soubesse” votar.
Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o “Bolsa Família” serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo “Bolsa Família”), os “grotões”- como nos tratam tais analistas – teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).
A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores, parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.
A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.
Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização – que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns “clusters” (turismo, fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro…) enquanto nos anos recentes a maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.
Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região liderou – junto com o Norte – as vendas no comercio varejista do país entre 2003 e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e medias empresas locais ampliavam sua produção.
Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em construção e mais duas previstas) e em patrocinar – via suas compras – a retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários estaleiros.
Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em infra-estrutura – foco principal do PAC – que beneficiou o Nordeste com recursos que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil “bombou” na região.
A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de Institutos Nacionais – antes fortemente concentrados no Sudeste – dentre os quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e o Instituto de Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira “cidade da ciência” num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).
Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro – safra , Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar, entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta política, pois abriga 43% da população economicamente ativa do setor agrícola brasileiro.
Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.
Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da submissão – como antes – da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto- confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados – alguns ainda insipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é só miséria (e, portanto, “Bolsa Família”), mas uma região plena de potencialidades.