Pesquisas mostram alto índice de casos nos quais os remédios são dados na hora e dose incorretas e até para o paciente errad
PERIGO
Enganos acontecem em relação à quantidade de medicamentos
Uma situação preocupante começa a chamar mais a atenção dos responsáveis pelos cuidados com os pacientes dentro dos hospitais. Pesquisas estão demonstrando que, nestes estabelecimentos, é muito alto o índice de erros na hora de dar a medicação aos doentes, o que coloca a vida desses indivíduos em risco. No Brasil, o estudo mais recente foi realizado pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto. O trabalho foi feito em cinco hospitais públicos e analisou a administração de cerca de cinco mil doses de medicação. Os cientistas detectaram erros em 30% dos casos.
AÇÃO
Dennis Quaid faz alertas desde que
suas filhas foram vítimas de erro
CUIDADO
No Copa D’Or, checa-se o remédio
com o código da pulseira do doente
Nos Estados Unidos, uma vítima famosa do problema foi o ator Dennis Quaid. Na verdade, um sério erro foi cometido durante a internação de suas filhas, gêmeas, no Cedars-Sinai Hospital, em Los Angeles. As meninas haviam acabado de nascer e estavam internadas na unidade de terapia intensiva da instituição. Quando completavam 12 dias de vida, receberam uma dose altíssima de uma droga anticoagulante e por pouco não perderam a vida. O erro foi de uma enfermeira, que confundiu a embalagem do remédio para criança com a de adulto. O ator processou a companhia fabricante do medicamento e também o hospital. Além disso, iniciou uma cruzada contra enganos do mesmo gênero. Ele ajudou a dar força a um movimento que alerta os profissionais sobre erros que podem ter sido cometidos – The National Alert Network for Serious Medication Errors System – e acaba de produzir um documentário sobre a questão.
Para minimizar o problema, hospitais de todo o mundo também estão tomando providências, adequando-se a normas de vigilância que a classe médica chama de barreiras. No Copa D’Or e no Hospital Israelita Albert Einstein, este em São Paulo, nenhuma receita médica é escrita à mão – todas são digitadas, para evitar dificuldades na leitura. No Sírio-Libanês, a prescrição eletrônica é regra em áreas de maior gravidade, como unidade de terapia intensiva e oncologia. A partir daí, segue-se uma série de checagens que, no caso do Sírio-Libanês e do Albert Einstein, inclui, por exemplo, a leitura de um código de barras no recipiente da medicação. O procedimento é feito duas vezes, a última delas dentro do quarto do paciente, à vista do próprio doente. No Copa D’Or, há a conferência da medicação usando a identificação da pulseira do paciente. “Essa preocupação começou a ser levada mais em conta nos últimos anos”, diz Carla Paixão, responsável pelo projeto de controle de erro de medicação do Albert Einstein. “Mas ainda é impossível alguém afirmar que reduziu o índice de erros a zero.”
MUDANÇA
Roberto passou a tomar a medicação corretamente
após o nascimento do neto Guilherme
Outro desafio na área de saúde é melhorar os índices de adesão ao tratamento, o que inclui tomar os remédios corretamente em casa. Um trabalho do Hospital Geral de Massachusets (EUA) deu uma ideia do tamanho do problema: depois de analisarem quase 200 mil prescrições eletrônicas receitadas por 1.217 médicos, os cientistas verificaram que, a cada cinco receitas, uma foi parar na lata do lixo. Os mais rebeldes foram os pacientes com doenças crônicas como a diabetes e a hipertensão.
No jogo de forças entre médico e paciente que se forma quando é abordado o assunto, falta razão aos dois lados. “O paciente decide o que comprar, como usar e inventa suas razões para interromper o uso”, observa o pesquisador em antropologia médica José Quirino dos Santos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Os pacientes não aderem, alegando que os médicos não explicam de forma clara os efeitos da doença.Os médicos reclamam que os pacientes não se empenham e que tentam esconder que não estão seguindo as recomendações”, diz Décio Mion, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para os especialistas, a solução está mais nas mãos dos médicos. “O convencimento depende muito do carisma do profissional e de sua capacidade de convencimento”, acredita Antônio Carlos Lopes, da Unifesp. Entender a mente do paciente, embora fundamental, não é nada fácil. Às vezes a motivação para o tratamento vem de lugares inesperados, como é o caso de Robert Achcar Filho, diagnosticado com hipertensão desde 2005. Com 64 anos, Robert relutou para seguir à risca as ordens médicas. Só mudou com a chegada do primeiro neto, Guilherme, em 2008: “Percebi que valia a pena cuidar mais de mim”, diz. Roberto agora encara a dieta recomendada, parou de fumar, aderiu aos exercícios físicos e toma todos os remédios.
Rachel Costa
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