1.04.2011

Como construir sua fortuna

O país cresce, a Bolsa promete e os juros seguem altos. Nos próximos anos, o Brasil dará chances de enriquecimento a quem souber investir
Marcos Coronato
 Shutterstock
Toda mudança de governo, como a que ocorrerá em janeiro, traz uma incerteza – seja por mudanças no comando da economia ou por novas pressões políticas. O mundo também vive um momento instável, com a persistência da crise que abalou as economias desenvolvidas. E, embora o Brasil apresente taxas de crescimento robustas, as contas públicas preocupam, pelo crescimento da dívida interna. Mesmo assim os próximos anos trarão oportunidades de enriquecimento para os brasileiros em idade de trabalhar e guardar dinheiro. O cenário permite, por exemplo, que um casal com patrimônio normal para as grandes cidades acumule R$ 1 milhão no período dos dois próximos mandatos presidenciais.
Para conferir se isso seria possível, pedimos recomendações de investimentos a profissionais do mercado financeiro com diferentes perfis. Eles mostraram como um poupador ou um casal de poupadores que tenham hoje R$ 150 mil e consigam aplicar perto de R$ 40 mil por ano poderão chegar a R$ 1 milhão antes do fim da década. Se o novo presidente, seja quem for, se reeleger em 2014, nosso casal de poupadores se tornará milionário ao mesmo tempo que o reeleito deixar o Palácio do Planalto, em 2018. As sugestões dos especialistas a ÉPOCA têm pelo menos 35% de investimentos arriscados (não recomendáveis para qualquer tipo de poupador) e tentam tirar proveito das condições brasileiras, esquisitíssimas do ponto de vista econômico: vivemos num país com inflação muito alta para os padrões internacionais, mas estável; estável e com baixo risco, mas que mesmo assim paga juros altíssimos; com juros altíssimos, mas empresas crescendo, desemprego em queda e uma Bolsa que promete muito. “Saímos da crise muito rapidamente e entraremos em 2011 em um equilíbrio, sem superaquecimento nem ameaça de a inflação estourar a meta. A economia brasileira reage muito bem a estímulos”, diz o economista José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e sócio-diretor da MCM.
Neste país estranho, chegamos àquele momento do ano em que se acendem as luzes amarelas da preocupação com dinheiro: é época de receber a restituição do Imposto de Renda, de pensar no que fazer com o 13o salário ou com o ganho adicional dos negócios fechados no Natal. Ao mesmo tempo, há a pressão para gastar mais com presentes e viagens. Para temperar tudo, surge a vontade de fazer tudo diferente e evitar os antigos erros financeiros ao entrar no Ano-Novo. Pois, no caminho para o enriquecimento, o melhor é começar evitando os erros mais comuns. São eles:
Gasto e endividamento desenfreado. O poupador vem sendo assediado por ofertas de crédito que comprometem a renda e os planos futuros. Use o crédito com parcimônia e sem se colocar em risco financeiro.
Indisciplina para poupar. Mesmo entre os que não sofrem com o endividamento crônico, é comum a falta de paciência ou organização para investir. Deixar dinheiro parado na conta-corrente, fazer aplicações esporadicamente, apenas quando sobra dinheiro no fim do mês ou quando a memória ajuda, não é um bom caminho para acumular patrimônio. Aplique regularmente.
Excesso de conservadorismo. Mesmo entre os que não sofrem com endividamento nem com falta de disciplina para poupar, há aqueles que enriquecem mais devagar do que poderiam. Eles concentram investimentos na poupança, em fundos pouco rentáveis ou em um único ativo, como um negócio próprio (que pode não dar certo) ou imóveis (ótima opção nos últimos anos, mas que ainda assim oferece riscos). Procure alternativas de investimento, diversifique e assuma os riscos aceitáveis para seu estilo de vida.
Filipe Redondo / ÉPOCA
ADAPTAÇÃO
O executivo Márcio Riguetti no trabalho, em São Bernardo do Campo. Ele reduziu o investimento em Bolsa após o nascimento dos filhos. Diz que vai voltar a aplicar
Superados os erros mais comuns, é hora de ganhar dinheiro – ou melhor, de fazer seu dinheiro ganhar mais dinheiro. Isso pode ser feito de muitas formas, com investimentos em renda fixa, renda variável e que combinem as duas coisas, dependendo do objetivo de quem poupa. Simplesmente ter R$ 1 milhão não é uma boa meta financeira. Os especialistas sugerem que o poupador adote objetivos concretos: comprar um casa, pagar a faculdade dos filhos, aposentar-se com determinada idade e certa quantia guardada.
“Em vez de se concentrar em números mágicos, o investidor precisa pensar se aquela quantia vai atender ao que ele quer no futuro”, diz Rogério Bastos, da consultoria de finanças pessoais FinPlan. A trajetória para os objetivos pessoais até pode passar por ter R$ 1 milhão após certo tempo de investimento. Mas cada um precisa reavaliar periodicamente os passos até lá. Foi o que fez o executivo paulistano Márcio Riguetti, de 34 anos. Até meados da década passada, ele mantinha um terço de seus recursos em ações. Era uma estratégia arriscada para enriquecer mais rapidamente, bem razoável enquanto ele e a mulher não tinham filhos. Hoje, o casal tem dois, de 3 e 7 anos. “Depois que eles nasceram e eu senti cheiro de pólvora da crise chegando, tirei o dinheiro da Bolsa e comprei um imóvel”, diz Riguetti. “Preciso garantir o conforto dos meus filhos. Hoje, tenho 10% de investimentos em um fundo multimercado e pretendo voltar para a Bolsa aos poucos.”
Esse tipo de flexibilidade será fundamental para que o poupador aproveite a década. Ela ainda deverá ser inteiramente marcada por juros altos, empurrados para cima pelos gastos excessivos do governo. “Esse é o pior aspecto da economia brasileira”, diz Senna, autor do recém-lançado Política monetária – Ideias, experiências e evolução. Mas o juro pode cair mais rapidamente do que o esperado, o que beneficiaria aplicações prefixadas e exigiria mais investimento em ações para quem quisesse se manter no rumo do R$ 1 milhão. No caso da Bolsa, é mais difícil fazer previsões. Sabemos que ela não está num momento eufórico – o que é ótimo. “O mercado inteiro ficou mais acessível. Há dez anos, a Bolsa era elitista”, afirma Aquiles Mosca, estrategista da gestora de recursos do Santander. Agora, a Bolsa não está cara. Pense a respeito.

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