Psicologia: Emoções aproximam outros animais do ser humano
Rio - O que leva os cachorros a latirem furiosamente para certas pessoas? Ou uma chimpanzé a velar seu filhote morto precocemente? Embora as reações dos vertebrados sejam muito semelhantes às humanas, as razões para que ajam assim divergem das nossas.
De acordo com Ceres Faraco, médica veterinária e doutora em Psicologia, especialista em comportamento animal, os animais vertebrados em geral têm sentimentos como raiva e afeição. Porém, não compreendem porque ou de onde vem estes sentimentos. Apenas os manifestam instintivamente. Enquanto que os humanos sabem o motivo de sua raiva ou compaixão, e, além disso, conseguem controlá-las - ao contrário dos vertebrados. "A alegria e tristeza dos elefantes, a aflição dos chimpanzés e gansos e a alegria e amor dos cães não deixam dúvidas sobre nossas semelhanças. Como nós, os animais experimentam medo, alegria, felicidade, prazer, vergonha, raiva, ciúmes, irritação, desconcerto, desespero e compaixão", diz Faraco.
Os vertebrados são seres sencientes, ou seja, que sentem - mas não pensam. Eles têm a capacidade de avaliar as ações dos outros, lembrar suas próprias ações e consequências, avaliar riscos e ter certos sentimentos e grau de consciência. Porém, não são seres conscientes como os humanos.
Segundo César Ades, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em comportamento animal, os primatas cujos filhotes morrem os carregam durante dias, às vezes até que se decomponham. O professor lembra o estudo da pesquisadora inglesa Jane Goodall, que conviveu por anos com chimpanzés em seu habitat natural. Ela relatou que um filhote, quando perdeu a mãe, ficou encolhido e imóvel, sem interesse por nada, deprimido e acabou morrendo algum tempo depois.
Outro exemplo de laço extremo entre os animais lembrado por Ades está entre o ganso macho e a fêmea, onde há um vínculo que dura a vida inteira. Quando morre a fêmea, o macho perde a sua combatividade e se mostra bastante perturbado e sem energia.
Recentemente, o Instituto Max Planck de Psicolinguística (MPI, na sigla em inglês), da Holanda, divulgou um vídeo em que uma mãe chimpanzé lamenta a morte do filhote, velando-o por horas. Atualmente, quase nada se sabe sobre como os primatas reagem à morte, o que eles entendem, e se eles choram. Entretanto, os pesquisadores do MPI acreditam ter relatado um período único de transição de como a mãe aprendeu sobre a morte de seu filho, um processo nunca antes relatado em detalhe.
"Os vídeos são extremamente valiosos, porque eles nos forçam a parar e pensar sobre o que pode estar acontecendo na mente dos outros primatas", diz Katherine Cronin, uma das autoras do estudo.
Alguns pesquisadores defendem que não existe amor maternal entre os animais. Para eles, o instinto protetor é considerado um comportamento de sobrevivência da espécie. Ceres repudia essa hipótese com o relato de Pierre Pfeffer, especialista em estudo de elefantes, que testemunhou, em Botswana, na África, o encontro entre uma mãe elefante e seu filhote que haviam se perdido fazia muitos anos. Eles estavam vivendo em manadas distintas e, quando o filhote se aproximou, a mãe abandonou o grupo e balançava-se demonstrando imensa alegria.
"As emoções são absolutamente verdadeiras como nos demais animais sencientes. É notório o sofrimento diante da perda de um ser querido. Na minha experiência como clínica de comportamento de cães e gatos, vivencio diariamente as emoções e os distúrbios emocionais desses animais, não há dúvida sobre isso", diz. Outro caso interessante, conta Ceres, é o de Alex (um papagaio participante de vários estudos da pesquisadora Irene Pepperberg sobre conhecimento, que conseguia somar, dizer palavras e expressar conceitos). Ao ser levado ao veterinário para uma cirurgia, o animal gritou angustiado ao vê-la sair: "vem aqui, te quero muito, quero voltar"
Terra
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