Irã ameaça "tomar medidas" se porta-aviões dos EUA cruzar Estreito de Ormuz
Em momento de crescente tensão no Oriente Médio, chefe do Exército do Irã afirmou que Teerã "só avisará uma vez"
Salehi fez as declarações imediatamente depois do fim dos exercícios navais que o Irã realizou nos últimos dez dias, com navios de guerra e submarinos, na região do Golfo de Omã e no Estreito de Ormuz, rota por onde passam 40% da produção mundial de petróleo. "Aconselhamos e insitimos para que este navio de guerra [o USS John C. Stennis] não retorne para sua base anterior no Golfo Pérsico", disse o militar. "Não temos a intenção de repetir nosso aviso e nós só avisamos uma vez", afirmou. A base original dos USS John C. Stennis fica no Bahrein, país do Golfo Pérsico que sedia a 5ª Frota Naval dos Estados Unidos. O porta-aviões cruzou o Estreito de Ormuz em direção ao Golfo de Omã na semana passada, depois de o Pentágono afirmar que o fechamento do Estreito "não seria tolerado". Oficialmente, a manobra foi de "rotina" e o USS John C. Stennis chegou ao Golfo de Omã para auxiliar nas operações americanas no Afeganistão. A ameaça de fechar a rota estratégica partiu também de militares iranianos, afirmando que tal medida seria tomada caso novas sanções econômicas fossem aplicadas contra o Irã por conta de seu programa nuclear.
Durante o fim de semana, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinou novas sanções ao Banco Central do Irã, responsável pela grande maioria das transações financeiras envolvendo a exportação de petróleo iraniano. A União Europeia, como os Estados Unidos, acredita que é mentirosa a alegação do Irã de que seu programa nuclear tem fins pacíficos. Assim, a UE tem cogitado novas e mais duras sanções contra o regime dos aiatolás, que poderiam incluir a indústria do petróleo. Até aqui, as exportações iranianas não foram afetadas, o que, em grande medida, evitou que as sanções causassem instabilidade dentro do país. Com o dinheiro do petróleo, Teerã conseguiu contornar a seca de recursos oriundos de setores da economia atingidos pelas sanções. Para fazer avançar a pressão sobre o Irã, diplomatas ocidentais cogitam um embargo ao petróleo iraniano, o que poderia provocar uma alta no preço do óleo, agravando a crise econômica em todo o mundo, e, no limite, um confronto militar com Teerã.
Um futuro imediato envolvendo uma nova crise econômica e um conflito militar com o Irã pode parecer temeroso, mas a possibilidade é real. Nesta terça-feira, o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, pediu abertamente que a União Europeia bloqueie os bens do Banco Central do Irã e imponha um embargo ao petróleo iraniano. Segundo Juppé, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, já fez esta proposta aos líderes europeus e estipulou uma data para obter a resposta: o fim deste mês. "Queremos que os Europeus tomem medidas similares [às dos EUA] até 30 de janeiro para mostrar nossa determinação", disse Juppé.
Além das sanções, um ataque militar ao Irã não está descartado. Este ataque poderia partir dos Estados Unidos e da União Europeia, mas Israel, que se considera alvo do Irã, cogita atacar sozinho. Até aqui, Israel se recusou a garantir que pediria autorização dos Estados Unidos para atacar o Irã ou que avisaria Washington com uma antecedência considerável antes de atacar. Para os Estados Unidos, a situação é muito delicada. Isto porque permitir que o Irã se torne uma potência nuclear é algo tão temeroso quanto se envolver, ou ser surpreendido, por um conflito de proporções enormes envolvendo todo o Oriente Médio. Em caso de um conflito militar na região, o Irã provavelmente tentaria aglutinar os povos muçulmanos, uma estratégia que seria combatida por sua principal inimiga regional, a Arábia Saudita. Uma prova das péssimas relações entre os dois países foi a oferta saudita de, no caso de o Irã fechar o Estreito de Ormuz, a Arábia Saudita compensar o mercado ampliando sua produção e exportação de petróleo por outras rotas.
Aparentemente, apesar de suas atitudes e discurso desafiadores, o Irã entende que não tem como competir militar e economicamente contra uma coalizão liderada por Estados Unidos e União Europeia. É por isso que, ao mesmo tempo em que faz exercícios militares e ameaças aos Estados Unidos, mantém aberta a possibilidade de retomar as negociações diplomáticas EUA, UE, Rússia e China no âmbito das Nações Unidas. Resta saber se a comunidade internacional ainda terá disposição de negociar com Teerã depois dos últimos eventos.
Após ameaças do Irã, porta-aviões dos EUA atravessa o Estreito de Ormuz
Um novo episódio de ameaças entre Estados Unidos e Irã aumentou ainda mais a tensão na região. Depois da marinha iraniana iniciar exercícios militares no Estreito de Ormuz e de lideranças do país ameaçarem fechar o estreito, um porta-aviões americano foi filmado pelo Exército iraniano atravessando o local.
A tensão começou em novembro, após um relatório da ONU mostrar indícios de que o Irã estaria desenvolvendo uma arma nuclear. Os países Ocidentais pressionam por novas sanções contra o Irã, que reagiu ameaçando bloquear o estreito. O Estreito de Ormuz é um canal de 6,4 quilômetros entre Omâ e o Irã, por onde passa um terço das exportações de petróleo do mundo. O bloqueio comprometeria o abastecimento de petróleo na Europa.
Segundo a rede de televisão ABC, o exército americano disse que o porta-aviões estava fazendo uma movimentação planejada e de rotina.
A Quinta Frota da Marinha dos EUA, que tem sede no Bahrein, confirmou que dois navios passaram pelo estreito no dia 27 de dezembro, a caminho do Mar Arábico, para dar suporte às operações no Afeganistão. Ontem, o Pentágono disse que não vai aceitar as ameaças iranianas. “O fechamento do Estreito de Ormuz não será tolerado”, disse o porta-voz George Little. |
“Não tem como comparar as forças de combate da marinha iraniana com o potencial do porta-aviões dos EUA. Com certeza marinha iraniana não pode fazer frente ao porta-aviões”, disse o almirante russo Ivan Kapitanets. O militar acredita que o navio americano tem capacidade de “esmagar” as instalações costeiras do Irã. |
Foto: Marinha iraniana faz exercícios militares no Estreito de Ormuz. Ali Mohammadi/AP
Bruno Calixto
´Época