1.05.2012

O sex shop de Jesus


Sexo é um assunto tabu para a religião. Quase nunca aparece e, quando vem à tona, é mais para ser reprimido do que discutido. Não pode fazer antes de casar. Não pode fazer com camisinha. Não pode fazer isso ou aquilo…
Mas alguns empreendedores cristãos resolveram quebrar esse tabu. Eles abriram sex shops online para incentivar “a intimidade” entre os casais – dentro dos laços do casamento, que fique bem claro. O Intimacy of Eden é um deles, e resume assim a sua missão: “Somos pró-casamento, somos pró-sexo, e estamos aqui para ajudar os casais a desenvolver o componente sexual da saúde conjugal. Esta loja cristã do sexo existe para ajudar os casais casados a reacender o romance e a paixão de seus casamentos – uma intimidade conjugal como a que Adão e Eva gozaram no Jardim do Éden.”
A diferença é que, no Jardim do Éden contemporâneo, Adão e Eva têm não só uma maçã tentadora, mas vibradores, lingeries, lubrificantes… Os itens vendidos pelos sex shops cristãos são bem parecidos com os dos sex shops “ateus”. Mas os sex shops religiosos tomam alguns cuidados: retiram os produtos de embalagens que possam ser ofensivas (com cenas de nudez), exibem lingeries em manequins (não em modelos) e enviam os pedidos da maneira mais discreta (de resto, como seus concorrentes não-religiosos). Alguns não vendem itens que podem ferir regras religiosas, como camisinhas e brinquedos para sexo anal.
Mas talvez a maior diferença esteja nos clientes: mais pudicos e com menos informação sobre sexo. Preocupados com o que possa ofendê-los, os sites adotam uma linguagem menos explícita (em vez de “borboleta estimuladora de clitóris”, vendem “estimulador vibratório”, por exemplo) e mandam junto com os produtos instruções para o “uso saudável”.
Os comerciais de um outro sex shop cristão, o Hookin’ up Holy, são tão ingênuos que chegam a ser cômicos:
Todo esse cuidado parece estar valendo a pena. Alguns líderes religiosos já começaram a indicar os serviços dos “sex shops de Jesus” para salvar o casamento de alguns fiéis. Uma mulher cristã ouvida pela reportagem do Daily Beast disse que um vibrador reacendeu seu casamento – e deu a ela seu primeiro orgasmo. Um jovem judeu disse que os brinquedos ajudaram-no a lidar com a ejaculação precoce que atrapalhava sua relação com a mulher. A ajuda dos livros sobre sexo e dos brinquedos sexuais é infinitamente mais eficiente do que alguns conselhos estapafúrdios que se espalham em algumas comunidades religiosas. A reportagem cita que um jovem casal escutou o seguinte: “Se uma mulher não gosta de sexo, ela deve tomar dois comprimidos de Tylenol e terminar o mais rápido possível”. Ótimo conselho para a felicidade conjugal, não?
Fiéis de outras religiões tiveram iniciativas semelhantes. Há um sex shop judeu, a Kosher Sex Toys, e uma loja virtual que segue as leis da sharia muçulmana, a El Asira. Não importa se seguidores de Jesus, Moisés ou Maomé, todos os sites têm algo em comum: defendem que o bom sexo é fundamental para um casamento bem-sucedido. Duvido que ateus e agnósticos discordem dessa ideia.
Letícia Sorg
Revista Época

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