Maior empresa de dietas do mundo cria novo sistema de pontos que ignora o valor calórico dos alimentos. Frutas são boas. Sucos, um perigo!
Giuliana Bergamo
Embora estudos de vanguarda já apontassem desde meados do século passado as diferenças nos processos pelos quais o organismo lida com o açúcar na ausência das fibras e na presença delas, esse conhecimento só se tornou inquestionável há pouco tempo. Os Vigilantes do Peso, filial brasileira da maior empresa de dietas do mundo, a Weight Watchers International, vão pôr em prática a partir desta semana um novo programa de emagrecimento que reflete esse avanço. Ele ignora a quantidade de calorias contida nos alimentos. "Contar calorias é inútil", diz David Kirchhoff, presidente da instituição. A nova dieta mantém o modelo de pontos em vigor desde 1997 no mundo e que leva em conta o peso, a altura, o sexo e a idade da pessoa. A inovação é o critério adotado para chegar à pontuação final. Entra na conta, agora, o fato de que o processo metabólico de quebra de carboidratos consome até 20% das calorias contidas na comida, enquanto a quebra da gordura gasta só 5% do teor energético total.
As fibras salvam: Como as frutas contêm altos índices de fibras e promovem a sensação de saciedade, seu consumo é incentivado no novo programa de emagrecimento
Apesar de extensa, a lista de pontos dos Vigilantes não consegue abarcar todo e qualquer alimento disponível nas prateleiras dos supermercados. Por esse motivo, quem adere à dieta rigorosamente precisa ter em mãos a calculadora de papel que faz parte do kit básico fornecido pela companhia. Uma calculadora eletrônica especial deve ser lançada ainda em janeiro e será vendida separadamente por 29 reais. Elas funcionam no caso de itens industrializados, que, por lei, trazem com eles uma tabela que discrimina a composição do alimento. Para saber quanto se está comendo, então, é necessário colocar na ferramenta - seja a digital, seja a analógica - as quantidades dos quatro macronutrientes considerados pela dieta: carboidrato, proteína, gordura e fibra. Tem acesso a esse material quem participa das reuniões semanais, que ocorrem em onze estados brasileiros e no Distrito Federal a um custo de 25 reais por encontro mais 50 reais de matrícula, ou quem compra o programa a distância (189 reais). Nos Estados Unidos, onde o novo programa é utilizado pelos clientes dos Vigilantes há um ano, a média de emagrecimento é de 800 gramas por semana.
"A dieta dos Vigilantes é uma boa forma de conquistar o emagrecimento", afirma a nutricionista Juliana Baptista, do Centro de Pesquisas Clínicas de São Paulo. Ela funciona principalmente porque permite comer de tudo e emagrecer evitando o efeito rebote de quem se priva das refeições de que mais gosta, mas, é claro, não serve para 100% dos gordinhos. Embora a cota de alimentos a ser consumida varie de pessoa para pessoa - sendo 26 a mínima e 71 a máxima -, o processo de emagrecimento é algo muito mais complexo do que isso. É preciso levar em consideração também a forma como cada indivíduo estoca gordura em seu corpo e o grau de obesidade. "Quem tem mais acúmulo de gordura na região abdominal do que nos quadris, o chamado 'tipo maçã', deve tomar mais cuidado com o consumo de carboidrato e gordura do que aqueles que estocam energia nas coxas, o 'tipo pera'", diz o endocrinologista Geraldo Medeiros, da Universidade de São Paulo. Além disso, os muito obesos, em geral, precisam aliar regime, prática regular de exercícios físicos, remédios para controlar o apetite e acompanhamento multidisciplinar (médico, nutricional e psicológico).
As descobertas sobre as diferentes formas de absorção dos nutrientes contidos nos alimentos levaram o endocrinologista Alfredo Halpern, criador de uma dieta de pontos em prática há quatro décadas no Brasil, a rever sua fórmula. Baseada na quantidade de calorias contida em cada alimento, a lista do médico paulista simplificou a numeralha em que se transformou a vida daqueles que emagreciam contando calorias. Para isso, ele criou uma lista com quase 2 000 alimentos em que 1 ponto equivale a 3.6 calorias e liberou seus pacientes para ingerir o que bem entendessem desde que respeitassem o limite determinado por ele de acordo com o perfil individual. Deu tão certo que seu modelo se espalhou por consultórios de milhares de médicos. Halpern reviu sua fórmula no livro intitulado A Nova Dieta dos Pontos, publicado pela Editora Abril, que também edita VEJA. O novo livro traz informações específicas sobre a quantidade de gordura trans, a forma hidrogenada altamente nociva da substância. Apesar da revisão, Halpern continua fiel a seu lema: "Só engorda quem come mais do que gasta". A novidade, porém, é que a presença maior de fibras e proteínas nos alimentos obriga o organismo a gastar mais energia.
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