10.06.2013

EUA capturam líder da al-Qaeda ligado aos atentados de 1998

Após 15 anos de buscas, terrorista foi detido na Líbia

DAVID D. KIRKPATRICK
NEW YORK TIMES

Abu Anas, um dos líderes da al-Qaeda, foi capturado neste sábado pelos EUA
Foto: - / AFP
Abu Anas, um dos líderes da al-Qaeda, foi capturado neste sábado pelos EUA - / AFP
CAIRO - Os Estados Unidos capturaram um líder da al-Qaeda indiciado nos atentados de 1998 contra a embaixada dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia, pondo fim a uma caçada de 15 anos, em plena luz do dia perto da capital da Líbia, disseram autoridades norte-americanas.
O suspeito, Nazih Abd al Hamid al-Ruqhay, é conhecido por seu nome de guerra, Abu Anas el-Liby, e está no topo da lista de mais procurados do governo dos Estados Unidos pelo menos desde 2000, quando um tribunal de Nova York o indiciou por sua participação no planejamento dos ataques às embaixadas. O FBI havia oferecido uma recompensa de até US$ 5 milhões por informações que levassem a sua captura.
Abu Anas foi detido vivo perto de Trípoli, em uma operação conjunta do exército dos Estados Unidos, da CIA e do FBI, e está sob custódia, segundo uma autoridade americana.
Sua captura foi o mais recente golpe ao que resta da organização al-Qaeda original depois de 12 anos de campanha americana para prender ou matar suas lideranças, incluindo o assassinato de seu fundador, Osama Bin Laden, há dois anos em um complexo no Paquistão.
Acredita-se que Abu Anas não tenha desempenhado qualquer papel no ataque de 2012 contra a missão diplomática americana em Benghazi, na Líbia, de acordo com informações de altos funcionários sobre a investigação do atentado, mas ele pode ter participardo da construção de redes de ligação dos militantes na ativa que restam da al-Qaeda no país.
Altos funcionários do governo de transição líbio disseram que eles não tinham conhecimento da operação que o capturou. Alguns insistiram em dizer que suas forças não exerceriam qualquer papel em operações militares norte-americanas em solo líbio.
Um funcionário americano, no entanto, disse que o governo líbio estaria envolvido na operação.
A divulgação do ataque pode deixar muitos líbios temerosos sobre a sua soberania nacional, colocando uma pressão ainda maior sobre a frágil autoridade do governo de transição. Muitos líbios já suspeitam que seu primeiro-ministro interino, Ali Zeidan, que viveu em Genebra como parte do exílio imposto pelo coronel Muammar el-Qaddafi, de colaborar muito de perto com o Ocidente.
Abu Anas, 49 anos, nasceu em Trípoli e investigações apontam que passou a integrar a organização de Bin Laden em 1990, quando esta foi baseada no Sudão. Mais tarde se mudou para a Inglaterra, onde teria conseguido asilo político. Em 2000, promotores de Nova York o acusaram de ajudar a conduzir uma “vigilância visual e fotográfica” da embaixada dos Estados Unidos em Nairóbi em 1993 e 1995. Na acusação, o Ministério Público disse que Abu Anas havia discutido com outro líder da al-Qaeda a intenção de atacar um alvo americano em retaliação à operação de paz dos Estados Unidos na Somália.
Após o bombardeio de 1998, a polícia britânica invadiu seu apartamento e encontrou um manual de treinamento terrorista de 18 capítulos em árabe. Intitulado “Estudos Militares da Jihad contra os Tiranos”, o documento incluía conselhos sobre carros-bomba, tortura, sabotagem e disfarce.
Um funcionário americano disse que Abu Anas deve ser levado para julgamento nos Estados Unidos.
Desde a queda de Kadafi em 2011, Trípoli tem entrado constantemente na ilegalidade, sem um governo central forte ou a presença da polícia. Tornou-se um refúgio para os militantes que procuram evitar a detenção em outro país, e um funcionário do governo dos Estados Unidos, que preferiu não se identificar, reconheceu que nos últimos meses Abu Anas e outros terroristas internacionais tenham sido vistos andando livremente ao redor da capital.
Sua apreensão foi relatada pela primeira vez neste sábado, em um post no Twitter por Nomam Benotam, um analista de contraterrorismo da Líbia nascido em Londres.
Sua captura coincidiu com um grande tiroteio que matou 15 soldados líbios em um posto de controle em um bairro ao sudeste de Tripoli, perto da terra natal do clã de Abu Anas.
Um porta-voz do Estado-Maior do exército líbio, o coronel Ali Sheikhi , disse que cinco carros cheios de homens armados com máscaras abriram fogo contra o posto de controle do exército às 6h15. Homens armados também dispararam a partir de outras posições mais distantes em um ataque coordenado, disse ele, e quatro soldados ficaram feridos, mas sobreviveram.
Não ficou claro se o ataque ao posto de controle estaria relacionada com a captura de Abu Anas.
Os Estados Unidos reduziram drasticamente sua presença diplomática na Líbia desde o ataque que matou o embaixador J. Christopher Stevens em 11 de setembro de 2012, em Benghazi. Mas mantém o monitoramento ao país estudando e acompanhando os suspeitos de terrorismo.

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