“Quando
alguém carente se aproxima das pessoas, essa aproximação quase nunca é
descompromissada ou relaxada. Existe sempre uma certa tensão”
Pessoas carentes são como polvos gigantes, esses seres maravilhosos
de que fala Julio Verne. Nas páginas dos livros são encantadores e
cheios de magia, mas na vida real… acabam afastando de si mais gente do
que gostariam.
Carência é esse sentimento incômodo que muitas pessoas carregam, percebida por elas como um tipo de buraco, uma fome constante que chega a doer. Às vezes é fome de afeto, de amor… mas também pode aparecer como fome de atenção, como o desejo de estar sempre no palco das relações, sendo valorizado, cuidado, tratado de forma especial.
Carência é esse sentimento incômodo que muitas pessoas carregam, percebida por elas como um tipo de buraco, uma fome constante que chega a doer. Às vezes é fome de afeto, de amor… mas também pode aparecer como fome de atenção, como o desejo de estar sempre no palco das relações, sendo valorizado, cuidado, tratado de forma especial.
É uma exigência, muitas vezes
inconsciente, uma expectativa de que os outros supram você de alguma
maneira, desejo esse que costuma se impor à sua capacidade de perceber o
outro como um ser individual que tem direito a escolhas e limites.
Uma pessoa carente sempre exige, mesmo
que de forma disfarçada, que o outro lhe dê o que quer. Não compreende
que o outro tem o direito de dizer não. O outro tem o direito de não
querer lhe dar algo. O outro tem o direito de não gostar de você.
(Afinal, quem é amado por “todas” as pessoas?)
Quando alguém carente se aproxima das
pessoas, essa aproximação quase nunca é descompromissada ou relaxada.
Existe sempre uma certa tensão. Por um lado os carentes polvos querem
agir sempre adequadamente, para garantir que serão aceitos. (Sua
liberdade de ser, ser simplesmente quem são, está limitada pela
necessidade de saciar a suposta fome). Por outro lado, aproximam-se na
expectativa de receber. Raramente aproximam-se para dar algo ao outro.
Como polvos ambulantes, pessoas carentes
estendem na direção da vítima seus enormes tentáculos, tentando trazer
em sua direção o que necessitam. Me dê… me dê… me dê… Essa é a mensagem
inconsciente que acabam transmitindo, mesmo que o discurso seja muito
diferente.
Só que, por ironia do destino, por mais
que tentem disfarçar suas intenções, o outro acaba pressentindo os
tentáculos e na maior parte das vezes se afasta de você. Isso faz com
que a pessoa carente se sinta rejeitada, o alimento lhe foi negado, a
fome aumenta e ela tenta com ainda mais intensidade, numa bola de neve
sem fim.
Quando vamos com sede demais ao pote
acabamos derrubando-o, e lá se vai nossa chance de beber seu conteúdo.
As pessoas se afastam quando percebem alguém se aproximar na expectativa
de ser suprido, como um náufrago desesperado em busca de algo a se
agarrar. E a pessoa fica lá, sozinha no meio do oceano. Como uma
brincadeira maldosa do destino, a pessoa acaba afastando cada vez mais a
possibilidade de receber o que quer.
Ora, a pessoa carente não faz isso por
que queira ser má, ou lesar o outro. Na verdade ela age baseada na falsa
crença de que não consegue suprir a si mesma. Talvez venha de um lar
onde não tenha se sentido amada, ou querida. Talvez tenha até recebido
amor, mas por algum motivo não tenha conseguido sentir que isso tenha
acontecido.
Por trás dessa atitude carente, existe
uma dor e uma ilusão. A dor de uma criança ferida. A ilusão de que não
se é nada mais do que essa criança.
Entenda: hoje você não é mais uma criança
que precisa de alguém para cuidar de você. Aceite a ideia de que hoje
você é grande o suficiente para cuidar de si mesmo!
Se a pessoa carente conseguir perceber
que, não importa o que lhe tenha acontecido, isso é passado. E que hoje
existe dentro dela uma força capaz de curar qualquer ferida. Se
conseguir se identificar com seu lado adulto, parando de esperar que a
cura venha de fora, ou das outras pessoas. Se conseguir pegar sua
criança ferida no colo, e dar-lhe todo o amor, e atenção, e carinho…
esse é o caminho para a transformação.
Se em vez de estender seus tentáculos na
direção das pessoas, usar todos aqueles braços para abraçar, proteger e
acariciar a si mesmo… se fizer isso, algo mágico começará a acontecer. O
polvo vai aos poucos se transformando em uma espécie de ninho, seguro e
quentinho… e nesse ninho você conseguirá se lembrar de sua verdadeira
essência, e de lá sairá assumindo sua verdadeira forma, a da mais bela
ave, e seu canto será tão pleno que todas as pessoas sentirão o desejo
de se aproximar e acariciar suas suaves plumas.
De mãos dadas com o adulto que existe em
você, sua fome será saciada por você mesmo. E a sua relação com as
pessoas se transformará. Deixará de ser uma busca de alguém que supra
suas necessidades infantis e passará a refletir o prazer e a alegria de
uma troca genuína e adulta com outro ser humano. E com certeza, essa
mudança fará com que as pessoas parem de se afastar de você e passem a
querer estar a seu lado.
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