— A médica chegou dizendo que a operação havia sido um sucesso. Mas quando olhei, fiquei sem chão. Tinham amputado a perna errada. O ortopedista veio e disse para mim que haviam passado para ele que era a perna direita, que era o que constava nos exames de risco cirúrgico — conta Quezia. — O médico nos pediu muitas desculpas e disse que assumiria o erro.
Em seguida, levaram Antônio César novamente para o centro cirúrgico para amputar a perna esquerda. A segunda operação teve início às 16h, de acordo com a mulher do paciente, Luzinete Soares Reis Victorio, de 53 nos. Cerca de três horas e meia depois, ele foi levado para a UTI da unidade de Vila Isabel.
— Meu marido se trata no Pedro Ernesto há cerca de quatro anos. Os médicos que o acompanhavam na nefrologia sabiam que o problema era na perna esquerda. Não sei como será nossa vida agora. Terei que parar de trabalhar para cuidar dele — diz Luzinete, que é empregada doméstica e, atualmente, sustenta a família.
Para Quezia, uma das principais preocupações agora é como dizer ao pai que ele precisará, daqui em diante, de uma cadeira de rodas.
— Nas últimas duas semanas, conversei bastante com ele sobre a amputação. Ele estava mais confortado porque sabia que receberia uma prótese e que poderia continuar a andar. Não sei como dizer ao meu pai que ele nunca mais voltará a caminhar — diz, muito emocionada, a jovem, que faz curso de técnica de enfermagem. — Estou pedindo a Deus que conforte o coração dele, assim como está confortando o nosso.
De acordo com Quezia, o hospital escalou quatro seguranças para ficarem em volta da maca dele, na saída do centro cirúrgico:
— Horas após a segunda cirurgia, um médico conversou com a minha mãe e disse que o estado do meu pai é grave. Mas ele sequer citou por que amputaram a perna direita.
Hospital vai apurar
A assessoria de imprensa do Pedro Ernesto afirmou, por meio de nota, que o paciente apresentava “infecção em ambos os membros inferiores, mais proeminente à esquerda”.
Segundo Quezia, seu pai tinha uma lesão na perna direita, mas de menor gravidade:
— Os médicos nunca disseram que seria necessário amputar a perna direita.
O hospital não explicou por que a perna esquerda do paciente, com uma lesão grave, não foi amputada na primeira cirurgia, mas apenas após as queixas da família.
A direção informou que vai apurar as circunstâncias do procedimento, por meio de processo administrativo.
LEIA A NOTA DO HOSPITAL PEDRO ERNESTO NA ÍNTEGRA
A Coordenação de Assistência Médica do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE/UERJ) informa que no tocante à operação cirúrgica a que foi submetido o paciente A.C.S.V., a Unidade de Ortopedia prestou os seguintes esclarecimentos iniciais:
O paciente portador de nefropatia crônica, diabetes, arteriopatia obstrutiva grave e infecção em ambos os membros inferiores, mais proeminente à esquerda, com colonização por germen multirresistente, evoluiu com quadro de septicemia, sendo realizada amputação bilateral dos membros inferiores em nível infrapatelar, de forma sequencial. Findo o procedimento o paciente foi encaminhado ao CTI Geral para a recuperação pós-operatória, encontrando-se estável.
A Direção do Hospital irá apurar formalmente as circunstâncias que deram ensejo ao procedimento através de processo administrativo específico. Relatórios detalhados estão sendo solicitados aos serviços envolvidos.
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