10.06.2013

Dia mundial do professor


Panorama Carioca
Gilberto Scofield Jr. gils@oglobo.com.br

Tudo o que sou eu devo a duas instituições que fazem toda a diferença: minha família, que insistiu em me fazer uma pessoa boa, e minha educação, ou melhor, meus professores, que foram (alguns) muito além das suas tarefas de ensinar matérias. Foram inspiração. É certo que a educação no Brasil está longe de receber a atenção e os recursos que são precisos para se fazer um país forte e rico.

Mesmo tendo o maior piso entre as capitais, o professor do Rio ainda ganha pouco porque não se contabilizam no plano os recursos, em termos de equipamento, escolas e salas de aula, com que cada um tem que contar para o desempenho da carreira. Mesmo no plano de cargos e salários aprovado, há omissões, como não considerar o imenso tempo que os professores perdem com atividades escolares fora das salas de aula. Eu fui professor universitário por três semestres e simplesmente desisti por não ter tempo para dar conta de planejamento de aula, correção de trabalhos, leituras obrigatórias etc. A valorização do professor se faz não somente pelo salário (é claro que dinheiro ajuda), mas também por treinamento e recursos variados.
Isso é uma coisa. Ver a maneira exaltada e ingênua com que a crise dos professores do Rio vem sendo tratada nas redes sociais é outra diferente.
A Lei de Responsabilidade Fiscal impõe limites ao reajuste do funcionalismo público, como os professores da rede municipal. Há limites na tarefa de conciliar a demanda dos profissionais com o caixa do governo. Dizer que a prefeitura é rica é um equívoco numa cidade onde há tanta coisa a ser feita. As demandas dos professores são legítimas, mas é preciso disposição para negociar. Nenhuma empresa privada paga o salário que o empregado acha que ele merece. Há enorme corporativismo no funcionalismo, com gente que se recusa a ser avaliada e a cumprir horários de trabalho fixos. Os professores não escapam disso.
Há um jogo político das lideranças de todos os sindicatos que conheço. É constante ver representantes de sindicatos defendendo propostas irrealizáveis com o único objetivo de se opor politicamente a um governo. É da natureza dos sindicatos ir além para negociar o meio-termo? É assim na iniciativa privada. Não estou desmerecendo os esforços e o valor dos sindicatos organizados do setor público, claro, mas todas as categorias precisam estar atentas aos movimentos de suas lideranças. Isso para saber o que é estratégia que vai beneficiar a categoria e o que é estratégia que vai beneficiar seus líderes politicamente. A imagem dos cinco mil professores ontem no Municipal é impressionante. Mas a rede tem 43 mil profissionais.
A quem interessa a manutenção da greve, afinal? Não aos alunos, que são os que verdadeiramente sofrem. A prefeitura não perde dinheiro com os professores parados, o que certamente ocorre com a Petrobras numa greve de petroleiros. A greve busca afetar a imagem de Eduardo Paes junto à população, e isso faz parte do jogo. Ocorre que Paes vem apanhando nas redes sociais muito mais pela atitude truculenta da polícia com os professores que protestam nas ruas do que pela greve. A PM nem é sua incumbência, mas, como ele é a autoridade da vez, recai sobre o prefeito o custo da reação irracional de uma polícia que despreza estratégia, treinamento e inteligência para lidar com manifestações em tempos de paz. Quando os professores comemoram a chegada dos Black Blocs, tudo piora. Paes precisa mesmo conversar com Cabral e Beltrame se quiser que os enfrentamentos violentos parem de machucar sua imagem. E alguns manifestantes.
A subserviência da Câmara ao prefeito não é razão para invadi-la e depredá-la. Eu sei que a vontade é irresistível quando a Câmara, um símbolo da democracia, barra a população de suas galerias. Mas a melhor maneira de punir a Câmara é votando bem. E convencendo quem está ao seu lado de votar bem. É organizando-se comunitariamente para votar bem. Por fim, é preciso perceber que a agressão física dos professores a vereadores e a jornalistas é tão truculenta e troglodita quanto tudo o que se deplora na PM.


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