Altos níveis de glicose no sangue aumentam o envelhecimento do cérebro e o risco de doenças, aponta estudo
por Drauzio Varella
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publicado
06/04/2014
O envelhecimento da população
transformou as demências em problema de saúde pública. As epidemias
mundiais de obesidade e diabetes parecem aumentar a incidência de
algumas formas de demência, embora os resultados dos estudos sejam
muitas vezes controversos.
A relação entre as taxas de açúcar no sangue e o risco de
desenvolver demência foi explorada num trabalho conjunto realizado nas
Universidades de Washington e Harvard.
Pelo número de pessoas acompanhadas, a
metodologia científica criteriosamente selecionada e a publicação em
revista de grande impacto (The New England Journal of Medicine), essa pesquisa tem tido grande repercussão na literatura.
O estudo envolveu 1.228 mulheres e 839
homens com 65 anos de idade ou mais (média: 76 anos), sem sinais de
demência, que faziam parte de uma coorte seguida pelo Adult Changes in
Thought (ACT), no estado de Washington.
Os participantes retornavam a cada dois
anos para testes de avaliação das habilidades cognitivas. Se o resultado
mostrasse algum déficit, eram encaminhados para uma bateria de exames
clínicos, laboratoriais e neuropsicológicos para afastar ou confirmar o
diagnóstico de Alzheimer ou outro quadro demencial.
Os níveis de glicose no sangue
foram recolhidos das sucessivas dosagens de glicemia e de hemoglobina
glicada, realizadas pelos participantes a partir de 1988. As médias
desses valores nos últimos cinco anos foram comparadas com as de
períodos anteriores.
Para afastar a ingerência
de outros fatores sabidamente envolvidos no risco de desenvolver
demência, o grupo foi estratificado de acordo com a prática de atividade
física, nível educacional, fumo, doença coronariana, doenças
cerebrovasculares e hipertensão.
Nos cinco anos que precederam a
avaliação, a média da glicemia de jejum dos participantes sem diabetes
foi de 101 mg/dL, número que aumentou para 175 nos portadores de
diabetes.
Em 6,8 anos – período médio de
acompanhamento – ocorreram 524 casos de demência (25,4%), assim
distribuídos: 450 entre os 1.724 sem diabetes (26,1%) e 74 entre os
diabéticos (21,6%).
Entre os participantes sem diabetes o
risco de demência aumentou à medida que os níveis de glicose no sangue
aumentaram: entre aqueles com glicemia de jejum de 115 mg/dL houve 18%
mais demências do que naqueles com glicemia igual a 100.
Entre os diabéticos, quanto mais alta a glicemia maior o
número de demências. Aumentar a glicemia de 160 para 190 mg/dL fez
aumentar 40% no risco de demência.
A conclusão dos autores é enfática: “Nesse estudo
prospectivo, realizado na comunidade, verificamos que níveis mais altos
de glicose estão associados a aumento do risco de demência, em
populações com ou sem diabetes. Os dados sugerem que níveis mais
elevados de glicose podem ter efeitos deletérios no cérebro que
envelhece”.
Fartura à mesa, vida sedentária,
obesidade, hipertensão arterial, diabetes, demência na velhice, será
esse o destino implacável de nossa espécie?
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