Com táticas legítimas e outras nem próximas disso,
Moscou planeja institucionalizar sua influência no país vizinho. Custe o
que custar
por José Antonio Lima
—
Alexei Nikoslky / Ria-Novosti / Rússia
Vladimir Putin durante reunião na
residência de Novo-Ogaryovo, nas cercanias de Moscou. A Otan alertou que
estimular o separatismo do oeste da Ucrânia seria um "erro histórico"
de Moscou
A anexação da Crimeia pela Rússia, no fim de março,
parecia ser o ponto final dos seis meses de crise entre a Moscou e as
potências ocidentais acerca da Ucrânia. De um lado, a Europa e os EUA
garantiram influência sobre o governo ucraniano. De outro, a Rússia
conseguira manter seus interesses estratégicos na península. Para
Vladimir Putin, entretanto, o jogo ainda não acabou. O presidente russo
está disposto, e bem posicionado, para ampliar seu domínio sobre o país
vizinho.
Desde a segunda-feira 7, manifestantes em regiões do leste ucraniano, em especial Donetsk, Kharkiv e Luhansk, tomaram prédios públicos e foram às ruas para exigir referendos de secessão da Ucrânia e pedir intervenção de tropas russas. Por trás dos protestos, há demandas legítimas. No leste da Ucrânia a população é majoritariamente russa e muitos desejam, se não se juntar à Rússia, como fez a Crimeia, autonomia diante do governo central. Há, também, motivos ilegítimos sob os protestos. Há poucas dúvidas de que agentes russos estejam agindo na Ucrânia de forma a instigar a revolta contra Kiev.
A instabilidade interessa bastante à Rússia, não importando qual dos dois desfechos a tensão provoque.
O primeiro cenário seria o da guerra civil. Se as forças de segurança ucranianas responderem com violência às manifestações, que devem se tornar mais desafiadoras com o passar dos dias, a indignação deve se espalhar pelo leste ucraniano. Em um cenário de conflito, não demoraria muito para a Rússia controlar toda região de sua vizinha baseada no mesmo princípio que fez Moscou ocupar a Crimeia: a proteção da população russa na Ucrânia. Segundo análise da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), os 40 mil soldados russos na fronteira com a Ucrânia poderiam iniciar a ocupação 12 horas depois de receberem a ordem e completar a tarefa em até cinco dias. É improvável que Putin deseje este desfecho, pois a intervenção seria custosa e as sanções internacionais, que poderiam incluir o bloqueio do acesso do governo e de empresas russas ao mercado financeiro mundial, pesadas. Ainda assim, certamente Putin está pronto para isso.
Em um segundo cenário, o governo ucraniano do premier Arseniy Yatsenyuk teria o mínimo de bom senso que faltou a seu antecessor, Viktor Yanukovych, e não empregaria a violência contra os manifestantes. Não reprimir, entretanto, não seria suficiente para conter as demandas da população russo-ucraniana. Seria preciso, para isso, federalizar a Ucrânia, dando maior independência aos governos regionais. Este parece ser o cenário preferido de Putin, como indicam os comentários de importantes autoridades russas. O ministro do Exterior, Sergey Lavrov, chegou a prometer “a mais ampla cooperação” ao Ocidente e à Ucrânia caso este plano seja levado a cabo. Com uma Constituição que torne a Ucrânia uma federação, a Rússia teria mais facilidade para exercer sua influência sobre os governos regionais, especialmente porque esses governos desejariam tal influência.
Ocorre que o bom senso por parte do atual governo ucraniano não é uma garantia. Arsen Avakov, ministro do Interior, descreveu a retomada de um edifício governamental em Kharkiv, nesta terça-feira 8, como uma “operação antiterrorista”. Se Kiev considera os russos-ucranianos terroristas, dificilmente fará concessões a eles. Desta forma, o enfraquecimento do segundo cenário automaticamente reforça o primeiro.
Como deixou claro no discurso em que confirmou a anexação da Crimeia, Putin não considera as fronteiras da Ucrânia legítimas. Ainda assim, o presidente russo parece não desejar realizar a ocupação, mas demonstrar estar disposto a correr o risco. Como deixou claro a crise na Crimeia, a Ucrânia é mais importante para Moscou do que para o Ocidente. Assim, desafiar Putin, sem ter disposição para cumprir as ameaças, como fazem os Estados Unidos e parte da Europa, é criar as possibilidades para que ele repita no leste da Ucrânia o que fez na Crimeia, e de forma mais violenta. Se isso ocorrer, quem pagará o preço não são os diplomatas europeus e americanos, mas a população ucraniana.
Desde a segunda-feira 7, manifestantes em regiões do leste ucraniano, em especial Donetsk, Kharkiv e Luhansk, tomaram prédios públicos e foram às ruas para exigir referendos de secessão da Ucrânia e pedir intervenção de tropas russas. Por trás dos protestos, há demandas legítimas. No leste da Ucrânia a população é majoritariamente russa e muitos desejam, se não se juntar à Rússia, como fez a Crimeia, autonomia diante do governo central. Há, também, motivos ilegítimos sob os protestos. Há poucas dúvidas de que agentes russos estejam agindo na Ucrânia de forma a instigar a revolta contra Kiev.
A instabilidade interessa bastante à Rússia, não importando qual dos dois desfechos a tensão provoque.
O primeiro cenário seria o da guerra civil. Se as forças de segurança ucranianas responderem com violência às manifestações, que devem se tornar mais desafiadoras com o passar dos dias, a indignação deve se espalhar pelo leste ucraniano. Em um cenário de conflito, não demoraria muito para a Rússia controlar toda região de sua vizinha baseada no mesmo princípio que fez Moscou ocupar a Crimeia: a proteção da população russa na Ucrânia. Segundo análise da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), os 40 mil soldados russos na fronteira com a Ucrânia poderiam iniciar a ocupação 12 horas depois de receberem a ordem e completar a tarefa em até cinco dias. É improvável que Putin deseje este desfecho, pois a intervenção seria custosa e as sanções internacionais, que poderiam incluir o bloqueio do acesso do governo e de empresas russas ao mercado financeiro mundial, pesadas. Ainda assim, certamente Putin está pronto para isso.
Em um segundo cenário, o governo ucraniano do premier Arseniy Yatsenyuk teria o mínimo de bom senso que faltou a seu antecessor, Viktor Yanukovych, e não empregaria a violência contra os manifestantes. Não reprimir, entretanto, não seria suficiente para conter as demandas da população russo-ucraniana. Seria preciso, para isso, federalizar a Ucrânia, dando maior independência aos governos regionais. Este parece ser o cenário preferido de Putin, como indicam os comentários de importantes autoridades russas. O ministro do Exterior, Sergey Lavrov, chegou a prometer “a mais ampla cooperação” ao Ocidente e à Ucrânia caso este plano seja levado a cabo. Com uma Constituição que torne a Ucrânia uma federação, a Rússia teria mais facilidade para exercer sua influência sobre os governos regionais, especialmente porque esses governos desejariam tal influência.
Ocorre que o bom senso por parte do atual governo ucraniano não é uma garantia. Arsen Avakov, ministro do Interior, descreveu a retomada de um edifício governamental em Kharkiv, nesta terça-feira 8, como uma “operação antiterrorista”. Se Kiev considera os russos-ucranianos terroristas, dificilmente fará concessões a eles. Desta forma, o enfraquecimento do segundo cenário automaticamente reforça o primeiro.
Como deixou claro no discurso em que confirmou a anexação da Crimeia, Putin não considera as fronteiras da Ucrânia legítimas. Ainda assim, o presidente russo parece não desejar realizar a ocupação, mas demonstrar estar disposto a correr o risco. Como deixou claro a crise na Crimeia, a Ucrânia é mais importante para Moscou do que para o Ocidente. Assim, desafiar Putin, sem ter disposição para cumprir as ameaças, como fazem os Estados Unidos e parte da Europa, é criar as possibilidades para que ele repita no leste da Ucrânia o que fez na Crimeia, e de forma mais violenta. Se isso ocorrer, quem pagará o preço não são os diplomatas europeus e americanos, mas a população ucraniana.
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