4.10.2014

Greve geral na Argentina paralisa transporte público e deixa ruas vazias

Sindicato diz que mais de 1 milhão de pessoas cruzaram os braços.
Greve parou o transporte público e cancelou voos no país.

Do G1, em São Paulo
Homem cruza a avenida 9 de Julio, no centro de Buenos Aires, que amanheceu com pouco movimento devido à greve geral (Foto: Natacha Pisarenko/AP)Homem cruza a avenida 9 de Julio, no centro de Buenos Aires, que amanheceu com pouco movimento devido à greve geral (Foto: Natacha Pisarenko/AP)
A Argentina vive nesta quinta-feira (10) uma greve geral promovida por sindicatos de trabalhadores que paralisa o transporte público, provoca cancelamento de voos domésticos e internacionais, suspende serviços de coleta de lixo e de abastecimento, e deixa muita gente a pé. A Avenida Nove de Julho, uma das mais movimentadas do Centro de Buenos Aires, amanheceu vazia. Não funcionaram ônibus, metrô nem trens – a estação de trem Retiro ficou deserta. Empresas foram fechadas e muitos trabalhadores não saíram de casa.
"Mais de 1 milhão de trabalhadores cruzaram os braços", contabilizou Juan Carlos Schmid, secretário-geral de um sindicato de trabalhadores do setor de dragagem. Segundo ele, a paralisação "é muito forte". Já o chefe de gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, considerou o movimento "um grande piquetaço", liderado por sindicalistas que fazem parte da oposição à presidente Cristina Kirchner.
Posto de gasolina fechado na cidade de Benavidez, província de Buenos Aires (Foto: Daniel Garcia /AFP)Posto de gasolina fechado na cidade de
Benavidez, província de Buenos Aires (Foto:
Daniel Garcia /AFP)
Policiais dentro da estação Retiro quase vazia, em Buenos Aires, devido à greve geral (Foto: Natacha Pisarenko/AP)Policiais dentro da estação Retiro quase vazia
em decorrência da greve geral em Buenos Aires
(Foto: NatachaPisarenko/AP)
Os grevistas dizem que o governo argentino subestima o movimento e ignora a realidade, na qual 35% dos trabalhadores do país não estão oficialmente registrados. Os sindicatos querem negociações salariais sem teto máximo, aumento para os aposentados, revogação do imposto aplicado aos salários e distribuição de fundos que o Estado deve aos prestadores de saúde dos sindicatos.
Pela manhã, piquetes feitos em vias de Buenos Aires terminaram em confronto entre manifestantes de esquerda e policiais que tentavam dispersá-los. Desde a madrugada, grupos mais radicais de esquerda formavam piquetes nas principais rotas de acesso à capital argentina.
Segundo o jornal "Clarín", a rota Panamericana, que dá acesso a Buenos Aires, amanheceu bloqueada. Policiais foram para o local e houve confronto. Os policiais dispararam balas de borracha, enquanto alguns manifestantes responderam jogando pedras.
Fogueira foi iniciada por manifestantes diante da barreira de policiais na rodovia bloqueada em Buenos Aires (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)Manifestantes fizeram fogueira diante de barreira
de policiais em rodovia bloqueada em Buenos
Aires (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)
Confronto
Pelo menos uma pessoa foi detida na confusão. Segundo o jornal "La Nación", pelo menos duas pessoas (um manifestante e um policial) ficaram feridas e foram socorridas. Após o momento de tensão, a situação se acalmou na região.
A greve geral desta quinta-feira começou com a interrupção das atividades nos postos de combustível e no transporte público, setor-chave para que a ação sindical tenha êxito em um país com 40 milhões de habitantes.
Em entrevista coletiva, o chefe de gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, afirmou que os organizadores da paralisação "pretendem sitiar os grandes centros urbanos com um grande piquete nacional", em referência aos 40 cortes e bloqueios de vias estabelecidos em todo o país.
"Essa é uma antiga metodologia medieval. Na Idade Média, os senhores feudais impediam o acesso à população. Não há lugar para a barbárie nem para medidas que conspirem contra o livre direito de greve dos trabalhadores", disse Capitanich à agência espanhola EFE.
"O direito à greve está consagrado na Constituição e seu uso me parece completamente legítimo", argumentou o chefe de gabinete, acrescentando, no entanto, que "o que não se pode fazer é impedir o livre exercício desse direito". "Há trabalhadores que não estão de acordo e não podem ir para seus lugares de trabalho", criticou Capitanich.

Voos cancelados
A greve geral na Argentina também afetou voos domésticos e internacionais. A empresa aérea TAM, do grupo Latam Airlines, e a Gol tiveram que cancelar voos com destino ao país por causa do fechamento do aeroporto Jorge Newbery (Aeroparque), em Buenos Aires. Segundo a TAM, foram cancelados cinco voos, sendo dois que sairiam do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e três outros que fariam o caminho de volta, informou a agência Reuters.
Veja acima o relato do correspondente da GloboNews em Buenos Aires, Ariel Palacios
Os voos da TAM que chegam e saem do aeroporto de Ezeiza, também em Buenos Aires, não foram prejudicados, assim como os da cidade de Rosário, informou a companhia aérea. Já a Gol não precisou quantos foram atingidos pela paralisação, mas o site da empresa mostra que dois voos de São Paulo com destino ao Aeroparque foram cancelados, enquanto outros três partidas com destino a Ezeiza registravam atrasos.
As companhias aéreas Aerolíneas Argentinas, Austral, LAN e outras empresas privadas interromperam suas operações nesta quinta-feira, confirmou o titular da Associação de Técnicos Aeronáuticos (APTA), Ricardo Cirielli, à rádio local Continental.
A chilena LAN, que conta com quase 30% do mercado doméstico argentino, "viu-se na obrigação de cancelar todos os voos dentro da Argentina e alguns internacionais devido à greve", explicou a empresa.
Reivindicações
O protesto, ao qual aderiram sindicatos de transportes públicos e importantes associações de caminhoneiros e servidores, reivindica reajuste dos salários e redução dos altos impostos que incidem sobre a renda dos trabalhadores, após uma desvalorização do peso argentino de 35% em 12 meses.
Os principais portos argentinos, como os de Rosário e Formosa, permanecem sem atividades, pois o sindicato do setor também aderiu à greve. No restante do país, o movimento prejudica principalmente o transporte urbano, a coleta de lixo e os postos de gasolina. Em algumas províncias, como Córdoba, Santa Fé e San Juan, a paralisação do transporte também atingiu colégios e hospitais.
Grevista se posiciona em frente a policiais durante bloqueio a avenida em greve geral na Argentina (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)Grevista se posiciona em frente a policiais durante
bloqueio a avenida em dia de greve geral na
Argentina (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)
A greve afeta ainda a principal região agroexportadora do país, no momento em que a colheita de soja está no auge. A Argentina é o maior exportador mundial de óleo e farinha de soja e o terceiro de milho.
O secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Hugo Moyano, um dos organizadores da greve geral, disse que a presidente Cristina Kirchner se comporta com "orgulho" e pediu que ela ouça às queixas.
"A paralisação é para ratificar que haja articulações [negociações salariais] livres", afirmou Moyano, que também pediu um aumento salarial "de emergência" aos aposentados e medidas governamentais para conter a crescente violência urbana.
Também líder dos caminhoneiros, o secretário-geral do CGT comanda um sindicato do qual dependem desde o transporte de jornais, combustíveis e valores até a coleta de lixo e a provisão de comida para companhias aéreas.
Uma das razões da greve é a reivindicação de uma atualização, em decorrência da inflação, do imposto incidente sobre os lucros que se aplica aos salários.
Inflação em alta
A Argentina sofre com uma das maiores taxas de inflação do mundo, enquanto a economia dá sinais de esgotamento após quase uma década de forte crescimento. A tabela salarial sobre a qual incide o imposto foi atualizada há alguns anos e acabou defasada por causa dos ajustes salariais em decorrência da elevada inflação, que supera os 30% ao ano. A tabela do imposto não se atualiza automaticamente em relação ao custo de vida, e depende somente da decisão da presidente.
O governo afirmou que o protesto tem motivos políticos, e não sindicais, ao acusar os sindicalistas de estar alinhados com o líder opositor Sergio Massa, um peronista que abandonou o governo e reúne as forças de oposição para concorrer às eleições presidenciais no fim de 2015.
A alta instabilidade social da Argentina, onde são frequentes os bloqueios de ruas e as manifestações, deve se intensificar durante a realização das negociações salariais anuais, que acabam de começar entre os sindicatos e as organizações patronais.
Polícia faz barreira contra manifestantes em Buenos Aires no dia de greve geral na Argentina (Foto: Victor R. Caivano/AP)Polícia faz barreira contra manifestantes em Buenos Aires em dia de greve geral na Argentina (Foto: Victor R. Caivano/AP)
Manifestantes protestam em rodovia de acesso a Buenos Aires nesta quinta-feira (10) (Foto: Victor R. Caivano/AP)Manifestantes protestam em rodovia de acesso a Buenos Aires nesta quinta-feira (10) (Foto: Victor R. Caivano/AP)
 

Gol cancela voos devido à greve geral na Argentina

Até 13h33 desta quinta-feira (10), seis voos haviam sido cancelados.
TAM cancelou cinco voos com destino ou partida do Aeroparque.

Do G1 em São Paulo
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A Gol Linhas Aéreas informou que havia cancelado seis voos, até 13h33 desta quinta-feira (10), por causa da greve geral deflagrada na Argentina. A companhia acrescentou que os passageiros foram realocados para os voos desta sexta-feira (11), nos aeroportos Aeroparque ou no Ezeiza.
A empresa orienta os passageiros que partem ou se destinam ao Aeroparque Jorge Newbery - que teve suas atividades paralisadas - que entrem em contato com o SAC da companhia através do número 0800 704 0465, no Brasil, ou pelo telefone 0810 2663 131, na Argentina.
TAM cancela cinco
Ainda em virtude do fechamento do aeroporto por causa da greve, a TAM declarou que até 13h20 desta quinta havia cancelado cinco voos da companhia: dois com saída do Aeroporto de Guarulhos - JJ 8008,  JJ 8010 - e três com retorno ao mesmo aeroporto e saída do Aeropaque -  JJ 8005, JJ 8009 e JJ 8015.

A empresa ressaltou que as operações nos aeroportos de Buenos Aires/Ezeiza e Rosário não foram impactadas e acrescentou que os clientes prejudicados podem contatar a Central de Vendas pelo telefone 4002-5700 (capitais) e 0300-570-5700 (demais localidades), no Brasil, e 0810-333-3333, na Argentina, e efetuar a remarcação de seus bilhetes com isenção de taxas e da diferença tarifária para viagens até 17 de abril.

Outros voos cancelados
As companhias aéreas Aerolíneas Argentinas, Austral, LAN e outras empresas privadas paralisaram suas operações, confirmou o titular da Associação de Técnicos Aeronáuticos (APTA), Ricardo Cirielli, à rádio Continental.
A chilena LAN, que conta com quase 30% do mercado doméstico argentino, "se viu na obrigação de cancelar todos os voos dentro da Argentina e alguns internacionais devido à greve", explicou a empresa.
O protesto, ao qual aderiram os sindicatos dos transportes públicos e importantes associações de caminhoneiros e servidores públicos, reivindica um reajuste dos salários e uma redução dos altos impostos que incidem sobre a renda, após uma desvalorização do peso argentino de 35% em 12 meses.
Confronto
Piquetes realizados em vias de Buenos Aires na Argentina, terminaram em confronto entre manifestantes de esquerda e policiais que tentavam dispersá-los nesta quinta-feira (10), dia em que as centrais sindicais convocaram uma greve geral no país, desafiando a presidente Cristina Kirchner.
Desde a madrugada grupos de esquerda radical formaram piquetes nas principais rotas de acesso a Buenos Aires.
Segundo o jornal argentino Clarín, a rota Panamericana, que dá acesso à capital federal,  amanheceu bloqueada nesta manhã. Policiais foram para o local e houve um confronto. Os policiais dispararam balas de borracha, enquanto alguns manifestantes responderam jogando pedras.
A greve começou no primeiro minuto desta quinta com o cessar das atividades nos postos de combustível e transporte público, setor-chave para que a ação sindical tenha êxito neste país de 40 milhões de habitantes.

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