'A pacificação é um trabalho progressivo. Temos que trabalhar para conquistar a confiança dos moradores', disse o comandante Roberto Escoto
Rio - O primeiro domingo após a ocupação das
Forças Armadas no Complexo da Maré tem clima tenso. Um jovem foi
espancado e abandonado em um valão. Além disso, moradores denunciam
toque de silêncio imposto por traficantes.
>>> GALERIA: Forças Armadas no Complexo da Maré
"Sabemos que alguns traficantes já abandonaram a área e que outros ainda continuam por aqui. Por enquanto, não tivemos nenhum confronto", disse o General Roberto Escoto, comandante das Forças de Pacificação. Ainda segundo ele, a guerra entre facções é comum na comunidade, já que existem três grupos dentro do Complexo da Maré.
Nas ruas do Complexo da Maré, o movimento foi pequeno durante as primeiras horas de sábado. Entre moradores que ainda curtiam o restante da noite anterior e trabalhadores que saíam de casa apressados, as dúvidas davam o tom da nova ocupação. “Sinceramente, não sabemos o que vai acontecer. Estamos esperando o pior”, disse uma moradora descrente, logo rebatida pelo otimismo de uma vizinha. “Ainda bem que eles chegaram. Agora espero que tenhamos paz”.
Em minutos, a região já estava dominada. Ao longo da Avenida Brasil e Linha Vermelha foram montados pontos de bloqueios, onde carros e caminhões eram vistoriados. Nos becos, com mapas em mãos e outras informações repassadas por homens do Choque e Bope que estavam na região há uma semana, militares revistavam endereços à procura de criminosos.
“Nossa transição foi tranquila e tudo saiu no tempo planejado. Agora é com o Exército. Mas uma companhia de cerca de 200 homens da PM vai continuar na Maré, apoiando as ações das Forças Armadas, totalizando 2.700 homens em solo”, informou o comandante de Operações Especiais da PM, coronel Alexandre Fontenelle, ao deixar a base montada pelo Choque na Vila do Pinheiro.
Durante a operação, foi apreendido um menor de 14 anos com armas e munições. Além de militares, o Complexo da Maré recebeu outra força: a dos blocos de carnaval Nada Deve Parecer Impossível de Mudar, o Apfunk e o Se Benze que Dá, originário da localidade, que à tarde se reuniram na Praça Parque União para protestar contra os abusos cometidos pelas Forças de Pacificação no tratamento aos moradores.
Com uma única UPA, morador reclama da falta de serviço médico
Nas ruas da Maré, milhares de homens do Exército ocupavam cada canto. Já na única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do complexo de favelas, localizada na Vila do João, faltam médicos. Entre diversas queixas dos moradores, impera a carência de serviços na área de saúde.
Ontem, horas depois da ação dos militares, não havia pediatras na unidade e pacientes faziam ‘plantão’ à espera de atendimento. Quem precisava de médico era orientado a procurar os hospitais Getúlio Vargas, na Penha, Evandro Freire, na Ilha do Governador, ou a UPA do mesmo bairro. Com o neto de 3 anos com dores de cabeça e vômito, Luzanira Bezerra, 47, saiu da Nova Holanda e procurou a UPA em vão. “Paguei R$ 5 de mototáxi para vir aqui e não tem pediatra. Me aconselharam a ir à UPA da Ilha e não tenho dinheiro para ir”.
Durante a assinatura do termo de Transmissão de Responsabilidade, no Comando Militar do Leste (CML), ao qual compareceram, além do ministro da Defesa, Celso Amorim, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e o comandante militar do Leste, Francisco Modesto, Luiz Fernando Pezão disse que está formando, nas próximas semanas, 800 novos policiais e abrirá concurso para mais 6 mil.
Era a resposta para a dúvida se haverá efetivo de PMs para substituir o Exército depois de 31 de julho, data provável da permancência das Forças Armadas na região da Maré. “Estamos libertando um território que é uma cidade. Nos últimos 15 dias, prendemos mais de 180 pessoas, inclusive o chefe do tráfico. Não queremos a paz só na época de grandes eventos, queremos a paz para sempre. Que esse seja o legado, o caminho a vencer essa chaga do combate ao tráfico”, afirmou Pezão.
A agenda de ontem do governador foi aberta com o lançamento do Progestão II, programa avaliado em R$ 50 milhões, endereçado aos municípios da Região Metropolitana. À tarde, acompanhado do prefeito Eduardo Paes, Pezão foi à Baixada, onde anunciou obras do Bairro Novo e inaugurou ruas em São Francisco I. Também lançou as obras de complementação da Via Light, que ligará Nova Iguaçu, à Avenida Brasil. Segundo Paes, os investimentos em obras no estado somam R$ 15 bilhões, graças à parceria com a Caixa Econômica Federal e com a União.
>>> GALERIA: Forças Armadas no Complexo da Maré
"Sabemos que alguns traficantes já abandonaram a área e que outros ainda continuam por aqui. Por enquanto, não tivemos nenhum confronto", disse o General Roberto Escoto, comandante das Forças de Pacificação. Ainda segundo ele, a guerra entre facções é comum na comunidade, já que existem três grupos dentro do Complexo da Maré.
Na manhã deste domingo, Cláudio Brum
dos Reis, de 22 anos, foi encontrado espancado num valão às margens da
Linha Vermelha, nos fundos da Vila Olímpica da Nova Holanda. Para o
comandante, o rapaz foi vítima da guerra entre traficantes rivais.
Segundo a mãe de Cláudio, ele deixou a
cadeia há dois meses e o espacamento teria sido provocado pela guerra
entre Nova Holanda e Baixa do Sapateiro. Moradores contaram que durante a
confusão, os traficantes que ainda estão na região impuseram um toque
de silêncio a todos. De acordo com eles, se alguém for pego conversando
com homens do Exército ou com jornalistas serão castigados.
"A pacificação é um trabalho
progressivo. Temos que trabalhar para conquistar a confiança dos
moradores", finalizou Roberto Escoto. Mais cedo, na Praça do 18, dentro
da Baixa do Sapateiro, bandeiras foram hasteadas para simbolizar a
ocupação por parte das forças de pacificação.
Clima entre moradores é de incerteza
Nas ruas do Complexo da Maré, o movimento foi pequeno durante as primeiras horas de sábado. Entre moradores que ainda curtiam o restante da noite anterior e trabalhadores que saíam de casa apressados, as dúvidas davam o tom da nova ocupação. “Sinceramente, não sabemos o que vai acontecer. Estamos esperando o pior”, disse uma moradora descrente, logo rebatida pelo otimismo de uma vizinha. “Ainda bem que eles chegaram. Agora espero que tenhamos paz”.
A ação de ocupação contou com
militares que participaram de Missões de Paz no Haiti e nas demais
operações de apoio à Secretaria de Segurança do Rio. Carros e motos eram
parados pelos militares e havia homens em todos os acessos à Linha
Amarela. O comércio funcionou normalmente na Favela Nova Holanda, Vila
dos Pinheiros, Morro do Timbau e Baixa do Sapateiro. As lojas abriram
por volta das 9h.
Uma comerciante, porém, disse que,
desde que a Maré foi ocupada, o movimento de clientes caiu 40%. “As
pessoas estão com medo de sair de casa. Mais de 20 estão me devendo e
não pagaram”, reclama. Outro comerciante do Morro do Timbau, que não
quis se identificar, se mostra descrente com a ocupação: “Nunca tive
problemas com minha loja e não acho que as vendas vão melhorar agora”,
afirmou ele. Na Vila do João, uma moradora vai além: “Quero ver se vai
ter segurança depois da Copa. O Exército vai embora e só ficará a UPP.
Não adianta. Por isso, continuamos com medo”.
Transição tranquila
Sob os olhares ainda de desconfiança dos
moradores, tropas das Forças Armadas assumiram o comando, ontem, do
patrulhamento das comunidades do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio,
em substituição à PM. Por volta das 6h30, militares em blindados do
Exército e da Marinha deram início à operação São Francisco para ocupar
15 favelas que compõem o complexo. Cento e trinta mil pessoas vivem na
região. No segundo semestre deste ano, a região irá receber uma Unidade
de Polícia Pacificadora.
Com a ajuda de 12 veículos blindados,
a transição da Polícia Militar para as tropas federais ocorreu sem
sustos aparentes. Durante a manhã, nenhum incidente foi registrado e
nenhum tiro foi disparado. Por volta das 4h40, homens das Forças Armadas
já ocupavam as vias de acesso das 15 comunidades. Cerca de uma hora
depois, os blindados e caminhões, que deram apoio à operação, partiram
para os pontos estratégicos e entraram nas favelas.
O promotor de Justiça Militar, Jorge Melgaço,
acompanhou toda a movimentação, a fim de garantir a integridade de
militares e moradores. Ao todo, 2.500 militares, entre paraquedistas e
fuzileiros navais, irão ficar na Maré. Por uma questão estratégia, o
Exército ficará encarregado de monitorar 10 comunidades, enquanto a
Marinha, as cinco restantes.Em minutos, a região já estava dominada. Ao longo da Avenida Brasil e Linha Vermelha foram montados pontos de bloqueios, onde carros e caminhões eram vistoriados. Nos becos, com mapas em mãos e outras informações repassadas por homens do Choque e Bope que estavam na região há uma semana, militares revistavam endereços à procura de criminosos.
“Nossa transição foi tranquila e tudo saiu no tempo planejado. Agora é com o Exército. Mas uma companhia de cerca de 200 homens da PM vai continuar na Maré, apoiando as ações das Forças Armadas, totalizando 2.700 homens em solo”, informou o comandante de Operações Especiais da PM, coronel Alexandre Fontenelle, ao deixar a base montada pelo Choque na Vila do Pinheiro.
Durante a operação, foi apreendido um menor de 14 anos com armas e munições. Além de militares, o Complexo da Maré recebeu outra força: a dos blocos de carnaval Nada Deve Parecer Impossível de Mudar, o Apfunk e o Se Benze que Dá, originário da localidade, que à tarde se reuniram na Praça Parque União para protestar contra os abusos cometidos pelas Forças de Pacificação no tratamento aos moradores.
Com uma única UPA, morador reclama da falta de serviço médico
Nas ruas da Maré, milhares de homens do Exército ocupavam cada canto. Já na única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do complexo de favelas, localizada na Vila do João, faltam médicos. Entre diversas queixas dos moradores, impera a carência de serviços na área de saúde.
Ontem, horas depois da ação dos militares, não havia pediatras na unidade e pacientes faziam ‘plantão’ à espera de atendimento. Quem precisava de médico era orientado a procurar os hospitais Getúlio Vargas, na Penha, Evandro Freire, na Ilha do Governador, ou a UPA do mesmo bairro. Com o neto de 3 anos com dores de cabeça e vômito, Luzanira Bezerra, 47, saiu da Nova Holanda e procurou a UPA em vão. “Paguei R$ 5 de mototáxi para vir aqui e não tem pediatra. Me aconselharam a ir à UPA da Ilha e não tenho dinheiro para ir”.
O mesmo ocorreu com a servente Thais
Ramos, 27, cuja filha, Jennifer, 2, está há quatro dias com febre. Ela
relata que a falta de pediatra é recorrente. “Quando tem, a UPA fica
lotada. Espero que a chegada do Exército melhore isso”, declara. A
Secretaria Estadual de Saúde informou que a Organização Social Viva
Comundiade, que administra a UPA, será notificada devido à falta de
pediatras no plantão de ontem.
Governador visita obras na Baixada
Durante a assinatura do termo de Transmissão de Responsabilidade, no Comando Militar do Leste (CML), ao qual compareceram, além do ministro da Defesa, Celso Amorim, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e o comandante militar do Leste, Francisco Modesto, Luiz Fernando Pezão disse que está formando, nas próximas semanas, 800 novos policiais e abrirá concurso para mais 6 mil.
Era a resposta para a dúvida se haverá efetivo de PMs para substituir o Exército depois de 31 de julho, data provável da permancência das Forças Armadas na região da Maré. “Estamos libertando um território que é uma cidade. Nos últimos 15 dias, prendemos mais de 180 pessoas, inclusive o chefe do tráfico. Não queremos a paz só na época de grandes eventos, queremos a paz para sempre. Que esse seja o legado, o caminho a vencer essa chaga do combate ao tráfico”, afirmou Pezão.
A agenda de ontem do governador foi aberta com o lançamento do Progestão II, programa avaliado em R$ 50 milhões, endereçado aos municípios da Região Metropolitana. À tarde, acompanhado do prefeito Eduardo Paes, Pezão foi à Baixada, onde anunciou obras do Bairro Novo e inaugurou ruas em São Francisco I. Também lançou as obras de complementação da Via Light, que ligará Nova Iguaçu, à Avenida Brasil. Segundo Paes, os investimentos em obras no estado somam R$ 15 bilhões, graças à parceria com a Caixa Econômica Federal e com a União.
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