Necessitamos do convívio, do apoio, da
ajuda, do incentive dos outros, afinal, somos conectados numa grande
cadeia de ações que fazem que o mundo funcione como ele funciona.
Autonomia é quando mesmo podendo fazer algo sozinho eu escolhe fazer
acompanhado. Na realidade poucas pessoas realmente sabem o que é isso,
apesar de acharem que são autônomas.
É como aquela criança que diz se virar bem sem a sua mãe por perto, mas
nunca saiu de perto para ver se fica realmente bem. Muitos adolescentes
se intitulam independentes, mas diante do primeiro aperto da realidade
correm para buscar refúgio no colo dos pais.
Autonomia é poder responder por cada ação que tem sem apontar o dedo para culpados ou comparsas que não existiram.
Quando uma pessoa apóia seu bem-estar em um único pilar (filhos,
família, trabalho, relacionamento amoroso, amigo) não é de se estranhar
que sua vida entre em colapso quando perde esse apoio. O saci-pererê
emocional sempre fica no chão quando machuca sua única perna.
A real independência emocional acontece quando você aprende a distribuir
suas fontes de nutrição psicológica em vários pontos de tal forma que
não fique refém de nenhuma em especial. Sobrecarregar alguém com sua
necessidade compulsiva de apego seria até uma forma injusta de buscar
amor, é muito peso para uma pessoa só.
Você sabe se é carente se qualquer coisa que qualquer um oferece será
aceita. Por exemplo: “Ele não quer um relacionamento sério e eu quero.
Não importa eu fico com ele mesmo assim”. Esse tipo de carência não é
sadia.
Ao contrário do que parece, 80 % dos homens são dependentes de suas
mulheres. Muitos entregam a elas a administração integral da vida e dos
próprios desejos.
Para ilustrar essa dependência lembrei-me de uma cena: Um casal, casado
há 30 anos, conversava animadamente em grupos separados. Ele, um bem
sucedido advogado, elegante e discreto, contava histórias de sua recente
viagem. Quando foi servido o jantar, todos foram à mesa. E a cada
momento, antes de pôr a comida no prato, ele se virava para a esposa e
perguntava baixinho: “Julieta, eu gosto?”
É claro que a dependência masculina não se mostra necessariamente tão
óbvia, se apresentando, na maioria das vezes, de forma bem mais sutil.
Homens e mulheres têm um papel a desempenhar. Os meninos, para serem
aceitos como machos têm que corresponder ao que deles se espera numa
sociedade patriarcal — força, sucesso, poder. Não podem falhar nem
sentir medo.
Onde se esconde, então, toda a fragilidade e dependência que observamos,
na intimidade, em muitos homens? Sem dúvida, perseguir o ideal
masculino da sociedade patriarcal gera angústias e tensões, sendo
necessário então usar uma máscara de onipotência e independência
absoluta. Por isso, parece adequada a afirmação de que “quando cai a
máscara descobre-se um bebê que treme”. Mas por que tudo isso?
Quando pequeno, o menino tem com a mãe um vínculo intenso, que que deve
ser rompido precocemente para que ele se desenvolva como “homem”.
Permanecer muito perto da mãe só é permitido às meninas. Para os meninos
isso significa ser maricas ou filhinho da mamãe. Os amigos e os
próprios pais não perdem uma oportunidade de deboche ou piada a qualquer
manifestação de sujeição à mãe.
O desejo de ser cuidado, acalentado, dependente é recalcado. Na vida
adulta os homens escondem a necessidade que têm das mulheres
mostrando-se auto-suficientes e desprezando-as. Tentam se convencer de
que elas é que precisam deles, da sua proteção. Negando, assim, seus
próprios impulsos de dependência, se sentem mais fortes e poderosos.
Contudo, quando o homem se sente atraído por uma mulher, dois
sentimentos contraditórios o assaltam. Por um lado, o desejo de
intimidade, de aprofundar a relação. Por outro, o temor de se ver diante
do seu próprio desamparo e do desejo de ser cuidado por uma mulher.
Talvez isso explique por que tantos homens que resistem ao casamento,
optando por uma vida livre, em um determinado momento se casam e se
tornam submissos, dependentes e dominados pela mulher.
Poucas vezes o homem tem oportunidade de relaxar, de baixar a guarda.
Ficar doente, mesmo sem gravidade, é um ótimo pretexto. Entregam-se
despreocupados ao saudoso cuidado materno, agora exercido geralmente
pela namorada ou esposa. Solicitam atenção integral sem se importar em
ser tratados como bebês.
O homem dependente não é autônomo. Autonomia implica não se submeter às
exigências sociais, de modo a rejeitar características da própria
personalidade consideradas femininas pela nossa cultura. O homem pode
ser forte, decidido e corajoso, mas também frágil, indeciso e muitas
vezes sentir medo, dependendo do momento e das circunstâncias. Pode
falar dos seus sentimentos, ficar triste e até chorar. O homem autônomo
só começa a surgir nesse momento, em que a mentalidade patriarcal começa
a sair de cena.
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